Investigação revela falta de transparência e segurança em instituições terapêuticas no Brasil

Uma série de reportagens destaca a morte de Milena Eduarda de Paula Leocádio em uma comunidade terapêutica, revelando um cenário complexo e opaco nessas instituições.

Postado em: 18-12-2023 às 14h32
Por: Luana Avelar
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A investigação expõe casos de agressões, torturas e intolerância religiosa, evidenciando a falta de registro oficial dessas mortes em comunidades terapêuticas. | Foto: Instagram

Dona Marli Alves, moradora de São Roque, viveu o drama da perda de sua filha, Milena Eduarda de Paula Leocádio, em uma comunidade terapêutica em Cajamar. A notícia da morte chegou quando Dona Marli estava em casa, preparando uma doação à igreja católica. Milena, com 22 anos, buscava tratamento para o vício em álcool e cocaína. O episódio, ocorrido em 30 de dezembro, revelou a complexidade e falta de transparência em torno dessas instituições.

O caso de Milena é exposto na série “Máquina de Loucos”, que destaca o cenário preocupante dos centros terapêuticos no Brasil. A investigação revela não apenas a morte de Milena, mas também casos de agressões, torturas e intolerância religiosa em diversas comunidades terapêuticas pelo país. As mortes, entretanto, não são devidamente registradas, questionando a eficácia e a segurança dessas instituições.

As comunidades terapêuticas são reguladas pela Anvisa e, muitas vezes, recebem financiamento público. Entre 2017 e 2020, o governo federal investiu R$ 560 milhões em 593 desses centros. A série destaca que, apesar dos investimentos, as tragédias persistem, levantando dúvidas sobre a fiscalização e a aplicação dos recursos públicos.

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A investigação da morte de Milena, ocorrida no Centro de Assistência Social e Apoio Especializado Esdras, enfrenta desafios. O primeiro depoimento do supervisor Kauê Dias Cercelo, demitido um dia antes de depor, levanta questões sobre a transparência dos fatos. O Ministério do Desenvolvimento publicou portaria em outubro de 2023 para fiscalização dessas comunidades, mas críticos argumentam que as regras são insuficientes.

Apesar das denúncias, a série ressalta que as autoridades muitas vezes agem de forma lenta. O caso de Milena exemplifica a demora na instauração do inquérito policial e nas investigações, com o delegado solicitando 90 dias adicionais em agosto. A falta de respostas e a resistência de alguns envolvidos destacam a complexidade do sistema e a necessidade de uma revisão abrangente.

Em setembro de 2023, outro caso de violência em comunidades terapêuticas foi registrado. Uma instituição exclusiva para homens em Embu-Guaçu, São Paulo, foi fechada após a morte de um paciente. Onésio Ribeiro Pereira Júnior, de 38 anos, foi espancado por cinco funcionários, levando à interdição da clínica. O episódio reforça a urgência de medidas eficazes para garantir a segurança e a integridade dos internos em comunidades terapêuticas no Brasil.

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