Quem foi Maria da Conceição Tavares; deputada e professora que faleceu neste sábado

"A economia que não se preocupa com justiça social é uma economia que condena os povos", declarou Maria

Postado em: 08-06-2024 às 14h09
Por: Otavio Augusto Ribeiro dos Santos
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Professora formou décadas de economistas| Foto: Arquivo Pessoal

Maria da Conceição Tavares, uma das mais importantes economistas do Brasil, faleceu aos 94 anos neste sábado (8), em Nova Friburgo, região serrana do Rio de Janeiro. Nascida em Aveiro, Portugal, Tavares naturalizou-se brasileira e dedicou sua vida a estudar e pensar a economia do Brasil, deixando um legado marcante na área acadêmica e política.

Carreira Acadêmica e Política

Tavares foi professora-titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professora-emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Formou gerações de economistas brasileiros e sempre defendeu o papel do Estado no desenvolvimento econômico do país.

Entre 1995 e 1999, exerceu o cargo de deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT), destacando-se como uma crítica incisiva do Plano Real e defensora do Plano Cruzado, que marcou a década de 1980.

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Plano Cruzado e Entrevista Marcante

Nos anos 1980, Tavares ganhou notoriedade ao defender o Plano Cruzado, chegando a chorar em frente às câmeras de TV em um dos momentos mais marcantes da época. Em 1995, durante uma entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, suas análises sobre a economia brasileira repercutiram intensamente.

“Uma economia que diz que precisa primeiro estabilizar, depois crescer, depois distribuir, é uma falácia, e tem sido uma falácia. Nem estabiliza, cresce aos solavancos e não distribui”.

Deputada Maria da Conceição Tavares. Foto: Arquivo Pessoal

Contribuições Acadêmicas e Escritos

Maria da Conceição Tavares também deixou sua marca em instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Grupo Executivo da Indústria Mecânica Pesada (Geimape). Lecionou no Chile e no México e enfrentou a repressão durante a ditadura militar brasileira, sendo presa em 1974 e solta dias depois devido à pressão de membros do governo.

Entre suas obras publicadas, destacam-se:

  • “Da substituição de importações ao capitalismo financeiro: ensaios sobre economia brasileira” (1983)
  • “A economia política da crise: problemas e impasses da política econômica brasileira” (1984)
  • “O grande salto para o caos: o Plano Cruzado em posfácio” (1986)
  • “Japão: um caso exemplar de capitalismo organizado” (1991)
  • “(Des)Ajuste global e modernização conservadora” (1993)
  • “Em defesa do interesse nacional: desinformação e alienação do patrimônio público” (1994)

Reconhecimento e Legado

Em 2011, recebeu o Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia das mãos da então presidente Dilma Rousseff, a mais alta condecoração na área. Nos últimos anos, trechos de suas entrevistas e aulas viralizaram nas redes sociais, reafirmando sua relevância e o impacto de suas ideias.

Maria da Conceição Tavares será lembrada por sua defesa apaixonada do desenvolvimento econômico com justiça social. “A economia que não se preocupa com justiça social é uma economia que condena os povos”, declarou em uma de suas análises mais compartilhadas.

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