Saiba qual possível impacto da descriminalização da maconha no incentivo ao consumo

Estados Unidos serve de exemplo por, em certas regiões, a venda e consumo já serem legais há mais de uma década

Postado em: 27-06-2024 às 20h00
Por: Tathyane Melo
Imagem Ilustrando a Notícia: Saiba qual possível impacto da descriminalização da maconha no incentivo ao consumo
Estados Unidos serve de exemplo por, em certas regiões, a venda e consumo já serem legais há mais de uma década | Foto: Divulgação/ iStock

Em um cenário de descriminalização da maconha no Brasil e debate sobre sua reclassificação nos Estados Unidas (EUA), surge a questão: a liberação da erva pode contribuir para o aumento do consumo?

O Brasil deu um passo importante na descriminalização da maconha para uso pessoal na última terça-feira (25), com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Na prática, a lei não prevê mais penalidades para quem porta a droga, mas o ato ainda é considerado ilícito.

Já nos EUA, onde a maconha recreativa é legalizada em diversos estados há mais de uma década, a discussão gira em torno da reclassificação da erva para uma categoria de menor risco à saúde, equiparando-a a medicamentos prescritos.

Continua após a publicidade

Reclassificação da maconha nos EUA

Enquanto a reclassificação nos EUA ainda está em andamento, pesquisas recentes indicam que a legalização da maconha recreativa no país não resultou em um aumento do consumo entre adolescentes. Um estudo publicado na revista JAMA em abril deste ano analisou dados de 900 mil estudantes de ensino médio de 47 estados entre 2011 e 2022. Os resultados mostraram que, após a legalização em quase metade dos estados, não houve aumento no uso de substâncias entre os jovens.

Na verdade, o estudo observou uma ligeira redução no consumo de cannabis entre adolescentes em estados que legalizaram a erva, além de quedas no uso de álcool e cigarros eletrônicos. Uma das hipóteses para essa diminuição é a transferência da venda do mercado ilegal para o comércio legal, onde o acesso é restrito a maiores de 21 anos.

No entanto, especialistas alertam para os riscos do uso da maconha por crianças e adolescentes, mesmo que a legalização não tenha impulsionado o consumo nessa faixa etária. Estudos demonstram que o uso precoce da substância pode afetar o desenvolvimento do cérebro, especialmente em áreas relacionadas à memória, aprendizagem e controle emocional.

Um estudo publicado na Science Direct em janeiro deste ano revelou que 12,8% dos adolescentes em cinco estados do nordeste dos EUA haviam vaporizado maconha nos últimos 30 dias. Já um estudo de 2020 na revista Pediatrics & Child Health constatou que um terço dos adolescentes que vaporizam o faziam com concentrados de maconha, que apresentam maior concentração de THC, o principal composto psicoativo da cannabis.

Vaporização

A vaporização é considerada mais prejudicial à saúde do que fumar a maconha. Isso porque o processo aquece o concentrado até que ele se torne um gás para ser inalado, enquanto o ato de fumar envolve a queima do composto.

Apesar da ausência de um aumento no consumo geral entre adolescentes após a legalização, estudos futuros serão importantes para monitorar a evolução do uso da maconha nessa faixa etária.

A reclassificação da maconha nos EUA, que poderá ficar em uma categoria que inclui medicamentos prescritos, pode trazer benefícios como a regulamentação da produção e venda da erva, o aumento da arrecadação de impostos e a possibilidade de pesquisas mais aprofundadas sobre seus efeitos na saúde.

Veja Também