Além de mortes e complicações adversas, covid-19 também aumenta risco de prematuridade

Brasil é o país que mais registrou mortes por COVID-19 entre grávidas, somando 135. Médica explica que contaminação pode causar abortos e pré-eclâmpsia | Foto: reprodução

Postado em: 13-12-2020 às 11h00
Por: Carlos Nathan Sampaio
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Brasil é o país que mais registrou mortes por COVID-19 entre grávidas, somando 135. Médica explica que contaminação pode causar abortos e pré-eclâmpsia | Foto: reprodução

Da redação

Na última semana, o DJ Alok e a esposa Romana anunciaram o nascimento prematuro da filha Raika após Romana ter complicações por causa da contaminação com o novo coronavírus. Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil é o país com mais mortes por COVID-19 entre grávidas. Até 1º de agosto, foram 135 mortes, sendo o Rio de Janeiro o estado com mais óbitos, com 27, enquanto Goiás aparece em nono lugar com cinco mortes registradas.

Segundo a avaliação da médica Jordanna Leão, com mais de dez anos de expertise em acompanhamento gestacional, o caso reforça a importância dos cuidados durante a gestação. “O que aconteceu com Romana foi uma coagulação intravascular disseminada (CIVD) como efeito da COVID-19. Ela teve uma trombose de placenta, o que levou a um descolamento com sangramento e uma série de alterações dos padrões bioquímicos. Ela correu risco real de morte”, explica.

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Esse quadro se desenvolveu porque a contaminação desencadeou uma resposta inflamatória aguda no organismo de Romana. Trata-se de tentativa do corpo de combater as lesões geradas pelo vírus e a mortalidade é alta. “Um estudo chinês feito com 183 pacientes com COVID-19 mostra que 71% das pessoas vieram a óbito por causa da formação de coágulos, normalmente no pulmão, que é a área mais atacada pela doença”, reforça a médica.

O risco das tradições

Para a médica, a cultura brasileira do “chá revelação” e a falta de perspectiva sobre a real dimensão da gravidez podem ter influência na contaminação das gestantes. Segundo ela, as futuras mães confiam que a comemoração irá reunir “só família” ou que será “só uma ida ao supermercado”, mas não entendem o impacto dessa convivência para o feto no momento de pandemia.

“A primeira coisa que temos que entender é que a gravidez é o maior evento imunológico que nosso corpo terá durante toda a nossa vida. Imagine o quanto o sistema imunológico precisa se adaptar para aceitar uma célula que não é dele crescendo no útero, nesse caso um bebezinho. Quando qualquer infecção viral acontece, inclusive a COVID-19, toda essa adaptação acaba comprometida”, afirma a médica Jordanna Leão.

COVID-19, parto prematuro e complicações

De acordo com a médica, alguns estudos sugerem que, quando a contaminação acontece no primeiro trimestre, pode aumentar o risco de abortamento e de pré-eclâmpsia, uma doença grave causada pelo aumento da pressão arterial da gestante. “Nesse momento deve ocorrer a transformação do útero para a implantação do bebê e das artérias espiraladas para a chegada de sangue ao feto. Se o corpo não consegue fazer isso de forma adequada, acaba aumentando o risco de pré-eclâmpsia. Mas quando a gestante se contamina já no terceiro trimestre, a desordem imunológica é tamanha que chega ao ponto de causar sofrimento fetal ou até o parto prematuro”, explica.

Ela reforça ainda que o período final da gravidez é responsável pelo aumento fisiológico da inflamação no organismo da mãe, controlando assim a evolução natural do processo até o parto. “Mas, quando ela se contamina, a infecção por COVID-19 começa a sinalizar para o corpo dela uma tempestade de citocinas inflamatórias, o que desorganiza tudo”, alerta. É justamente essa confusão causada dentro do organismo da gestante que pode aumentar o risco de trabalho de parto prematuro ou, dependendo do estado clínico da mãe, até levar à orientação médica pela indução do parto.

Atualmente, a COVID-19 já é percebida como uma doença hematológica ao invés de um problema pulmonar e oferece ainda mais risco para as gestantes no terceiro trimestre de gravidez.  Para Jordanna, novas pesquisas poderão evidenciar outras repercussões no feto da contaminação com o novo coronavírus durante a gestação.

“Nosso corpo é conectado e tudo que muda no sistema imunológico durante a gravidez repercute no crescimento da criança. É o que chamamos de programação metabólica e as gestantes acabam se expondo sem saber o quanto a gravidez é importante para a formação do bebê. Outra coisa importante é a associação da baixa concentração de vitamina D às mortes por COVID-19 em função da imunomodulação. No consultório, sempre oriento suplementação da vitamina D”, completa.   

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