Paris sedia Conferência pela Paz

Capital francesa realiza evento para discutir solução para acabar com conflito no Oriente Médio

Postado em: 16-01-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Capital francesa realiza evento para discutir solução para acabar com conflito no Oriente Médio

Dois Estados, a única solução para acabar com o conflito israelense-palestino: mais de 70 países reafirmaram solenemente esse compromisso ontem em Paris. A Conferência pela Paz no Oriente Médio aconteceu cinco dias antes da posse do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, cujas posições sobre o assunto são preocupantes. As informações são da Rádio França Internacional.

O secretário de Estado americano, John Kerry, esteve presente. Já Israel não participou da conferência, que qualificou de “farsa”. O evento faz parte de uma iniciativa francesa lançada há um ano para mobilizar a comunidade internacional em torno de um dos conflitos mais antigos do mundo e encorajar israelenses e palestinos a retomar o diálogo.

A solução de dois Estados (criação de um Estado palestino que coexista em paz com Israel), referência para a maior parte da comunidade internacional, “está em perigo”, advertiu o chefe da diplomacia francesa, Jean-Marc Ayrault, em um artigo publicado na última sexta-feira (13) nos jornais francês Le Monde e israelense Haaretz.

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“A colonização israelenses nos territórios palestinos, os atentados palestinos em Israel, frustrações, radicalização do discurso, negociações completamente paralisadas há dois anos… A cada dia que passa, nos distanciamos ainda mais das perspectivas de uma resolução do conflito”, escreveu Ayrault.

A conferência deste domingo, que reuniu 75 países e organizações internacionais (a primeira reunião reuniu 30 países em 3 de junho), não levou a um anúncio concreto, mas a um comunicado que recordará os textos de referência sobre o conflito israelense-palestino e os princípios aceitos pela comunidade internacional em quase 70 anos.

“Parece ser importante, no contexto atual, que 70 países reafirmem que a solução de dois Estados é a única possível. É tão simples quanto isso, não é mais do que isso. Precisamos que essa posição seja gravada e defendida neste período de incerteza”, explicou um diplomata francês.

Posse

A conferência de Paris ganhou em simbolismo por ser organizada cinco dias antes da posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, cuja imprevisibilidade preocupa os diplomatas que trabalham nesta questão explosiva.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ressaltou na quinta-feira passada (11) que a conferência de Paris era “uma sacudida final do passado, antes do advento do futuro”, ilustrando como a direita de Israel aposta no futuro presidente americano.

Dessa forma, durante a campanha eleitoral, ele prometeu reconhecer Jerusalém como capital de Israel e mudar a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém.

Assim, romperia com a histórica política dos Estados Unidos e de grande parte da comunidade internacional, para quem o status de Jerusalém, também reivindicado pelos palestinos como capital de seu futuro Estado, deve ser resolvido por meio de negociações.

“Seria uma decisão unilateral que poderia reviver tensões no terreno”, afirmou, temeroso, o diplomata francês, ressaltando a incerteza em torno dos anúncios e posições do futuro presidente americano. “Esperamos febrilmente o tuíte que vai anunciar a decisão de transferir a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém”, brincou.

Sinais negativos

“Todos os sinais são negativos nos posicionamentos do futuro presidente dos Estados Unidos sobre o conflito”, disse recentemente um membro da liderança palestina, Mohammed Shtayyeh.

A conferência de Paris parece ser o último ato de uma série de compromissos em favor de um processo de paz baseado na solução de dois Estados, antes do salto no desconhecido que representa o futuro governo dos Estados Unidos. 

Um mês antes de sua saída da Casa Branca, a administração Obama surpreendeu sobre a questão ao se abster em uma resolução no Conselho de Segurança da ONU condenando os assentamentos israelenses,  para desgosto do presidente eleito Trump, que pediu o veto. (Agência Brasil) 

Papa se reúne com Abbas e ganha camisa 

O papa Francisco se reuniu no último sábado (14) com o líder palestino, Mahmoud Abbas, e pediu esforços para uma retomada das negociações diretas de paz no Oriente Médio. O Pontífice também foi presentado com uma camiseta de futebol palestina. De acordo com a Santa Sé, o encontro no Vaticano durou 23 minutos, durante os quais o Papa expressou sua “esperança de que possam ser retomadas as negociações diretas entre as partes para se chegar ao fim da violência, causa inaceitável de sofrimento da população civil”.

“Espero que, com o apoio da comunidade internacional, sejam tomadas medidas que favoreçam a confiança mútua e contribuam para criar um clima que permita decisões valentes em favor da paz”, disse o Papa, segundo a Santa Sé. O Vaticano também informou que o Papa e Abbas destacaram “as boas relações” entre a Santa Sé e a Palestina, seladas pelo acordo de 2015 que versou as atividades da Igreja no território.

Durante o encontro, que foi acompanhado por uma comitiva, um jovem palestino presentou Francisco com um uniforme de futebol com as cores da Palestina e falou sobre o San Lorenzo, time preferido do Papa, originário da Argentina. “Encontrei-me com Sua Santidade. O Vaticano reconheceu completamente a Palestina como Estado independente. Espero que outros países tomem a Santa Sé como exemplo”, disse Abbas, logo após a reunião.

Abbas também deu a Francisco uma pedra do calvário, um documentário sobre a reconstrução da Basílica da Natividade em livro sobre as relações entre Santa Sé e Palestina. Francisco retribuiu com uma medalha do Ano do Jubileu e cópias em árabe das encíclicas “Amoris Laetitia” e “Laudato Síi”.

Abbas foi a Roma para inaugurar a embaixada Palestina no Vaticano. A Santa Sé reconheceu os territórios palestinos como Estado soberano em fevereiro de 2013. Mas, somente em 2015, entrou em vigor. (Abr)

 

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