Entenda como um novo estudo rebate a teoria de que o novo coronavírus foi criado em laboratório

Pesquisa realizada com morcegos no Laos mostra que eles carregam vírus mais de 95% idênticos ao SARS-CoV-2, apontando a origem natural do vírus causador da Covid-19

Postado em: 01-10-2021 às 15h44
Por: Giovana Andrade
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Pesquisa realizada com morcegos no Laos mostra que eles carregam vírus mais de 95% idênticos ao SARS-CoV-2, apontando a origem natural do vírus causador da Covid-19. | Foto: Reprodução

Um grupo de pesquisadores descobriu três novos vírus, encontrados em morcegos no Laos, mais semelhantes ao SARS-CoV-2 do que qualquer outro vírus já conhecido. A descoberta foi feita por Marc Eloit, virologista do Instituto Pasteur em Paris, e seus colegas na França e no Laos, que coletaram amostras de saliva, fezes e urina de 645 morcegos em cavernas no norte do país asiático.

Em três espécies de morcegos ferradura (Rhinolophus), eles encontraram vírus que são mais de 95% idênticos ao SARS-CoV-2, que eles chamaram de BANAL-52, BANAL-103 e BANAL-236. Os resultados do estudo, ainda não revisado por pares, foram publicados na Research Square.

Os cientistas revelaram que partes do seu código genético apontam que o vírus da Covid-19 tem uma origem natural, refutando a teoria de que o novo coronavírus teria sido criado em laboratório. Por outro lado, no entanto, a novidade também aumenta o temor de que existam outros vários coronavírus com potencial para infectar pessoas.

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Para estudar o quão patogênico o vírus é em modelos animais, os pesquisadores passaram a cultivar o BANAL-236 em células humanas em laboratório. Além disso, Eloit e equipe mostraram em laboratório que os domínios de ligação ao receptor desses vírus poderiam se ligar ao receptor ACE2 em células humanas de forma tão eficiente quanto algumas variantes iniciais do SARS-CoV-2.

Nesse sentido, a descoberta é potencialmente preocupante justamente porque revela que os novos vírus podem infectar células humanas, uma vez que possuem domínios de ligação ao receptor quase idênticos aos do SARS-CoV-2.

“Quando o SARS-CoV-2 foi sequenciado pela primeira vez, o domínio de ligação ao receptor não se parecia com nada que tínhamos visto antes”, disse Edward Holmes, virologista da Universidade de Sydney, na Austrália, à Nature Magazine. Esse fator alimentou as suspeitas de que o vírus havia sido criado em um laboratório, mas os vírus do Laos mostraram que, na verdade, essas partes do SARS-CoV-2 existem na natureza, argumentou o cientista.

“Estou mais convencido do que nunca de que o SARS-CoV-2 tem uma origem natural”, afirmou Linfa Wang, virologista da Duke – NUS Medical School em Cingapura, para a mesma publicação.

Junto com parentes do SARS-CoV-2 descobertos na Tailândia, Camboja e Yunnan, no sul da China, o estudo demonstra que o sudeste da Ásia é um ponto relevante de diversidade para vírus relacionados ao SARS-CoV-2, apontou Alice Latinne, bióloga evolucionista na Wildlife Conservation Society Vietnam em Hanói, à Nature Magazine.

Outros parentes

No ano passado, os pesquisadores descreveram outro parente próximo do SARS-CoV-2, chamado RaTG13, que foi encontrado em morcegos em Yunnan, na China. Ele é 96,1% idêntico ao SARS-CoV-2 em geral, e os dois vírus provavelmente compartilharam um ancestral comum há 40-70 anos, segundo os pesquisadores.

O BANAL-52, por sua vez, é 96,8% idêntico ao SARS-CoV-2, diz Eloit — e todos os três vírus recém-descobertos têm seções individuais que são mais semelhantes às seções do SARS-CoV-2 do que qualquer outro vírus.

O estudo do Laos oferece uma perspectiva mais ampla sobre as origens da pandemia, mas ainda faltam dados que comprovem que os vírus têm a mesma origem, dizem os pesquisadores. Por exemplo, os vírus do Laos não contêm o chamado local de clivagem da proteína spike, que auxilia ainda mais na entrada do SARS-CoV-2 e de outros coronavírus nas células humanas.

O estudo também não esclarece como um progenitor do vírus pode ter viajado para Wuhan, na China central, onde os primeiros casos conhecidos de Covid-19 foram identificados — ou se o vírus pegou uma carona em um animal intermediário. Essas respostas podem vir da amostragem de mais morcegos e outros animais selvagens no sudeste da Ásia, o que muitos grupos de pesquisadores já estão fazendo.

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