Com desvalorização da economia, conheça cidade venezuelana que utiliza pepita de ouro como moeda

Uso de ouro para comércio acontece devido à desvalorização do bolívar e forte crise financeira

Postado em: 21-10-2021 às 16h44
Por: Maria Paula Borges
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Uso de ouro para comércio acontece devido à desvalorização do bolívar e forte crise financeira | Foto: Reprodução

A desvalorização do bolívar, moeda venezuelana, e a forte crise financeira, os habitantes da Venezuela estão utilizando pepitas de ouro para pagamento. No país, em cabeleireiros, restaurantes e hotéis da rua principal, os preços são exibidos em gramas de ouro.

Segundo o jovem Jorge Peña, o cálculo do oitavo da grama equivale a três pepitas pequenas, resultando em US$ 5. Ele conta que na Venezuela tudo pode ser pago com ouro, inclusive o cabeleireiro. Penã disse que depois de cortar o cabelo na cidade de Tumeremo, ele entregou pepitas ao barbeiro que prontamente as colocou no bolso, sem questionar.

De acordo com o jornal O Globo, essa é a operação menos tecnológica que se pode encontrar com a economia global tecnológica. A maior parte do mundo abandonou a transação com ouro há mais de um século e o reaparecimento na Venezuela é a manifestação mais extrema do repúdio ao bolívar. A moeda se tornou quase inútil devido à hiperinflação no governo de Nicolás Maduro.

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Para substituir a moeda venezuelana, o dólar tem sido uma opção em Caracas e outras grandes cidades. Entretanto, o peso é a moeda dominante que, segundo a empresa de pesquisa Ecoanalítica, é utilizado em mais de 90% das transações em San Cristóbal, maior cidade da região. Já na fronteira com o Brasil, o real costuma ser a moeda preferencial. Além disso, o euro e as criptomoedas têm seus nichos em algumas regiões.

Segundo Luiz Vicente León, economista e analista político e presidente da empresa de pesquisa Datanálisis, as pessoas deixaram de confiar no bolívar, uma vez que ele não cumpre a função como um depósito de riqueza ou meio de contabilidade ou de comércio. Atualmente apenas os venezuelanos com maior dificuldade financeira permanecem fazendo o uso dos bolívares. León conta ainda que as pessoas preferem qualquer moeda ao invés do bolívar.

A região está repleta de metais preciosos e a tentação de obter riquezas rapidamente atraiu gerações de aspirantes a mineiros e gravou os nomes das cidades El Callao e Guasipati. A área é sem lei e extremamente violenta, invadida por gangues e guerrilhas, inclusive as batalhas armadas contra os soldados de Maduro, que controlam várias minas.

Mesmo diante da violência e ausência de lei, sendo “terra de ninguém”, venezuelanos ainda se mudam para lá, impulsionados pela escassez de trabalho estável em meio a depressão econômica que se prolonga há mais de uma década.

Pequenos operadores de minas legais costumam pagar trabalhadores diurnos em pepitas. Para realização do trabalho, são utilizadas ferramentas manuais para dividir as pepitas e depois as carregam nos bolsos, muitas vezes embrulhadas em bolívares. As lojas da região costumam ter pequenas balanças, mas alguns comerciantes e consumidores se acostumaram a manusear o metal, calculando a quantidade mais rapidamente.

O chefe de pesquisa do World Gold Council em Nova York, Juan Carlos Artigas, explica que o ouro é um elemento com características intrínsecas. O uso do ouro está se expandindo inclusive para cidades próximas, como a Ciudad Bolívar. Os mineiros regularmente viajam para vender seu lingote para transformá-lo em dinheiros, e lojas o trocam por dólares.

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