Mulher morre após marido forçar picada de cobra e tentar esconder provas

Autópsia confirmou picada de cobra, mas família ficou desconfiada e registrou queixa na polícia

Postado em: 26-11-2021 às 17h36
Por: Maria Paula Borges
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Autópsia confirmou picada de cobra, mas família ficou desconfiada e registrou queixa na polícia | Foto: Reprodução

Uma mulher morreu na cidade de Kollam, na Índia, após supostamente ter sido picada por uma naja indiana altamente venenosa. Entretanto, mesmo com a confirmação da autópsia, a família da mulher, chamada Uthra, ficou desconfiada e registrou queixa na polícia. A mãe dela encontrou a filha deitada, imóvel na cama de casa, com seu braço esquerdo manchado de sangue.

Após ser encontrada, a mulher foi levada ao hospital local da cidade, mas já estava morta. Conforme documentos judiciais, uma autópsia em 7 de maio de 2020 confirmou que a Uthra havia sido picada por uma naja indiana altamente venenosa horas antes.

Mesmo com a autópsia, a família prestou queixa a polícia por estar desconfiada de que aquele não era o final da história. Um julgamento ganhou as manchetes nacionais e o assassino de Uthra foi considerado culpado e condenado à prisão perpétua por um crime chamado pelo juiz de “diabólico e medonho”.

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O casal Suraj Kumar e Uthra se conheceram por meio de um serviço de corretor matrimonial e se casaram em março de 2018. Segundo o irmão da vítima, a família queria encontrar alguém que a fizesse feliz e que ela tinha dificuldade de aprendizagem, portanto queriam um homem capaz de cuidar dela.

Kumar, por sua vez, era um bancário sem histórico financeiro estável. Seu pai era motorista de auto-riquixá, veículo de três rodas popular no país, e sua mãe era dona de casa. Portanto, de acordo com o julgamento, o objetivo do casamento para Kumar era obter ganhos financeiros. Quando se casou, o homem aceitou um dote de 720 gramas de ouro, um sedã Suzuki e 500 mil rúpias, equivalente a cerca de R$ 37 mil em dinheiro.

Com o tempo, a família de Kumar começou a exigir mais e o pai de Uthra afirmou ao tribunal que sempre atendeu a todas as exigências de Kumar e que também pagava a ele 8 mil rúpias, equivalente a aproximadamente R$ 600 por mês para cuidar da filha. Segundo o julgamento, o homem estava insatisfeito com a dificuldade de aprendizagem da mulher e começou a tramar sua morte.

Início da tentativa

Desde 2019, Kumar parecia ter desenvolvido uma obsessão por cobras e passava horas na internet assistindo a vídeos no YouTube sobre o assunto, inclusive episódios de “Snake Master”, do especialista Vava Suresh. O canal mostra o domador interagindo calmamente com cobras, incluindo a víbora de Russell, uma das serpentes mais agressivas da Ásia.

Os promotores do caso afirmaram que Kumar comprou uma víbora de Russel do apanhador de cobras Chavarukavu Suresh, no dia 26 de fevereiro, por 10 mil rúpias, cerca de R$ 756. No dia seguinte, deixou a cobra na sacada de casa e pediu que Uthra pegasse seu celular no quarto do primeiro andar, esperando que a cobra a picasse e matasse. De acordo com os documentos, a tentativa falhou, pois, a mulher pediu ajuda.

O homem, por sua vez, capturou a cobra e guardou em um saco plástico, repetindo a tentativa na noite de 2 de março. Kumar misturou sedativos em uma porção de pudim indiano, fazendo com que a mulher caísse rapidamente no sono. Enquanto ela dormia, seu marido forçou a víbora a mordê-la e dois jogou a serpente para fora da casa para destruir provas.

A mulher acordou gritando dizendo que estava sentindo uma “dor terrível” e após certa demora foi levada ao hospital por Kumar, que alegou que a esposa havia sido picada do lado de fora enquanto lavava as roupas. Entretanto, Uthra contradisse a versão dizendo que nunca lavava roupas depois de escurecer.

Assassinato

Uthra passou 52 dias no Hospital Pushpagiri em Thiruvalla, se recuperando da picada da víbora. Ao se recuperar e receber alta, não conseguia andar. Ela estava deitada em uma cama com a perna enfaixada após precisar de enxertos de pele, quando Kumar decidiu atacar.

Após 15 dias que Uthra deixou o hospital, ele foi para a casa dos sogros, onde ela estava. Na ocasião, levou outra cobra escondida, que comprou do mesmo apanhador, mas dessa vez uma naja.

De acordo com o julgamento, antes de ir para a cama, o homem ofereceu a mulher um copo de suco com sedativos. Enquanto ela dormia, Kumar jogou a serpente nela, mas o animal não a mordeu. Então, ele pegou a cobra pela cabeça e forçou suas presas contra o braço esquerdo de Uthra duas vezes.

O homem tentou fazer com que tudo parecesse um acidente, mas uma série de pistas sugeriram que as picadas não eram naturais como a largura das marcas das presas, posição das mordidas e impossibilidade de a cobra ter entrado na sala sozinha.

É comum que as mordidas da naja tenham entre 0,4 cm e 1,6 cm, mas as mordidas no braço de Uthra tinham entre 2,3 cm e 2,8 cm, segundo especialistas. Ou sejam a mandíbula superior da cobra foi empurrada, como quando se busca extrair o veneno das presas.

Além disso, um inspetor-geral adjunto da Polícia de Kerala, Hari Shankar, informou que najas normalmente não mordem a menos que sejam provocadas e que, depois das 20h, geralmente estão adormecidas.

Outra dúvida levantada foi como a cobra chegou ao quarto da vítima. Segundo informações, as najas só conseguem se erguer verticalmente até um terço do seu comprimento, ou seja, a cobra de 152 cm que picou Uthra só poderia ter se levantado a uma altura de cerca de 50 cm, insuficiente para entrar pela janela. Além disso, outras três passagens de ar no quarto estavam fechadas.

De acordo com documentos judiciais, Kumar ficou acordado a noite toda após o ataque, quando se livrou de provas, lavando o copo utilizado e destruindo o galho que usou para segurar a cobra.

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