Brasileira morre após sofrer diversas perfurações em cirurgia plástica; família está em choque

Na Espanha é muito comum que esse tipo de operação seja realizada por médicos sem especialização no assunto, porque a lei permite

Postado em: 19-01-2022 às 11h41
Por: Alexandre Paes
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Na Espanha é muito comum que esse tipo de operação seja realizada por médicos sem especialização no assunto, porque a lei permite | Foto: Reprodução/Getty Images

“Estamos em choque. Não podemos acreditar”, afirma a família de Sara Gómez que ainda tenta assimilar o que aconteceu. Sara, uma mulher de 39 anos, morreu após uma cirurgia plástica, no dia 1º de janeiro na Espanha. As mortes em cirurgias plásticas como a de Sara são eventos excepcionais na Espanha, mas é muito comum que esse tipo de operação seja realizada por médicos sem especialização no assunto, porque a lei permite.

No dia 2 de dezembro de 2021 Sara se internou para o procedimento estético, e até então estava bem de saúde conforme afirmou seus familiares. “Ela deu entrada em uma clínica particular de Cartagena para realizar a uma lipoescultura”, afirmou a família.

Eles ainda não entendem como Sara saiu da cirurgia com “lesões típicas de uma briga com armas”, cerca de 30 perfurações de 0,5 a 2 centímetros em órgãos como rins, cólon, intestino ou fígado, entre outros, segundo informa advogado da família.

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“Queremos que todo o peso da lei recaia sobre os culpados, porque foi uma carnificina”, disse Ezequiel Nicolás, ex-marido de Sara e porta-voz da família da mulher, que acusa o cirurgião e o anestesista que a operaram de homicídio por imprudência.

Nesse tipo de intervenção, a gordura é extraída de uma parte do corpo por meio de uma cânula e é transferida para outras regiões para remodelar a silhueta de uma pessoa. Após cinco horas de operação, o cirurgião garantiu à família de Sara que tudo havia corrido bem, embora ela estivesse um pouco instável.

Mas horas depois, a paciente foi transferida em situação gravíssima (por perda de sangue e outros líquidos) para o hospital, onde permaneceu na unidade de terapia intensiva (UTI) por quase um mês, até morrer em 1º de janeiro. A operação durou mais do que o previsto, e foi realizada entre 9h e 14h30. Só quase quatro horas depois o médico chamou o serviço de emergência, segundo o advogado da família, Inácio Martínez.

“Nos mais de 30 anos que tenho lidado com esse tipo de caso, já vi de tudo, mas esse é o mais incompreensível de todos”, disse Martínez.

No laudo médico do hospital onde Sara morreu, constam lesões como “necrose da parede abdominal, peritonite, abscesso com conteúdo intestinal, dissecção de todo o retroperitônio direito e esquerdo com exposição de ambos os músculos iliopsoas, grande tumefação e congestão gastrointestinal com múltiplas perfurações”.

O cirurgião, um chileno de 38 anos, garante, segundo seu advogado, que a cirurgia foi realizada sem complicações e que isso foi confirmado pelo anestesista.

No entanto, 12 dias após a intervenção, o anestesista compareceu ao Departamento de Saúde da região de Múrcia, onde fica Cartagena, e assegurou ter avisado o médico de que a paciente sofria de episódios de queda de pressão e que o líquido extraído dela tinha uma cor escura, avermelhada, quando o normal é que seja amarelada quando se trata de gordura.

O advogado da família de Sara argumentou que, por um lado, há “clara negligência médica” por parte do cirurgião “em ter inserido a cânula no peritônio (tecido que reveste a parede abdominal e recobre a maior parte dos órgãos no abdômen) e não no espaço entre a pele e o músculo, que é onde está a gordura”.

Também “não se entende por que não interromperam a operação quando viram que o líquido extraído era de cor avermelhada, especialmente considerando que o anestesista avisou, ou porque chamaram os serviços de emergência tão tarde”.

O advogado do cirurgião, Pablo Martínez, diz, no entanto, que seu cliente não detectou nenhum tipo de sangramento ou qualquer fato que o fizesse pensar que algo estava errado durante a operação, “porque, se ele tivesse notado algo estranho, ele teria parado a intervenção”.

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