Mais de 8 mil soldados norte-americanos treinam no Alasca sob possível ataque russo

"O que estamos fazendo aqui é treino inerente –para descobrir até onde podemos ir, física e mentalmente.", afirmou o capitão Weston Iannone.

Postado em: 28-03-2022 às 16h06
Por: Rodrigo Melo
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"O que estamos fazendo aqui é treino inerente –para descobrir até onde podemos ir, física e mentalmente.", afirmou o capitão Weston Iannone. | Foto: The New York Times

As tropas militares dos Estados Unidos (EUA), iniciaram neste mês, exercícios envolvendo 8.000 soldados, sendo conduzidos próximo de Fairbanks, no Alasca. A ação havia sido planejada antes da invasão russa da Ucrânia, mas foi inspirada em parte pelas iniciativas agressivas da Rússia nos últimos anos para militarizar o Ártico, uma região do mundo onde Estados Unidos e Rússia compartilham uma extensa fronteira marítima.

Um dos exercícios foram guiados o capitão Weston Iannone. Segundo informações do The New York Times, depois de saltar de paraquedas no interior frio do Alasca, Iannone e seus soldados marcharam por quilômetros sobre neve profunda, indo finalmente montar acampamento temporário numa elevação perto de um pequeno bosque.

Enquanto escurecia, a temperatura caíra para abaixo de zero, e os 120 homens e mulheres reunidos como parte de um grande exercício de treinamento no Alasca, ainda não haviam montado barracas. Também não haviam recebido combustível, essencial para se manterem aquecidos durante a noite.

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Os soldados escavavam mais fundo na neve, buscando uma base firme sobre a qual montar suas barracas de dormitório. “O que estamos fazendo aqui é treino inerente –para descobrir até onde podemos ir, física e mentalmente.”, afirmou o capitão.

Há anos a tensão cresce com diferentes países reivindicando o controle de rotas marítimas e reservas energéticas que estão se tornando acessíveis em decorrência da mudança climática. Agora, com a ordem geopolítica alterada pela invasão russa da Ucrânia, a competição por soberania e recursos no Ártico pode se intensificar.

Guerra na Ucrânia

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, investe centenas de milhões de dólares na costa oeste do Alasca para ampliar o porto de Nome. Esse porto pode transformar o polo de serviços de águas profundas que abastece e atende às embarcações da Marinha e Guarda Costeira americanas, que navegam ao norte do Círculo Ártico. A Guarda Costeira prevê colocar no mar três novos navios quebra-gelo, mas a Rússia já tem mais de 50 em operação.

A costa oriental da Rússia fica a apenas 88 km da costa do Alasca, separado desta pelo estreito de Bering. Há anos país prioriza a expansão de sua presença no Ártico, reformando e ampliando os aeroportos militares, construindo bases, treinando tropas e desenvolvendo uma rede de sistemas de defesa militar na fronteira norte.

Com o clima em processo de aquecimento provocando o encolhimento do gelo marítimo na região, populações valiosas de peixes estão se deslocando para o norte, enquanto minerais raros e reservas árticas de combustíveis fósseis se convertem em alvo crescente de exploração. O tráfego de embarcações tanto comerciais quanto de turismo deve aumentar.

Sansões

Neste mês, em resposta à escalada de sanções internacionais impostas à Rússia, um deputado russo reivindicou que o Alasca, comprado pelos EUA da Rússia em 1867, fosse devolvido ao controle russo –um gesto possivelmente apenas retórico, mas que mesmo assim refletiu a deterioração do relacionamento entre as duas potências mundiais.

As águas extensas do Ártico foram durante séculos uma terra sem dono, cujo acesso era impossível pela calota de gelo, onde as fronteiras territoriais exatas, reivindicadas pelos Estados Unidos, Rússia, Canadá, Noruega, Dinamarca e Islândi, eram incertas.

Mas, com o derretimento do gelo marítimo abrindo novas rotas marítimas e despertando o interesse dos vários países pelas imensas reservas de hidrocarbonetos e minerais situadas sob o leito do mar ártico, os complexos tratados, reivindicações e zonas limítrofes que regem a região foram abertos a novas disputas.

Canadá e Estados Unidos nunca chegaram a um acordo sobre o status da Passagem do Noroeste entre o Atlântico e o Mar de Beaufort. A China também procura marcar presença na região, declarando-se um “estado próximo ao Ártico” e formando parcerias com a Rússia para promover o desenvolvimento e utilização ampliados e supostamente sustentáveis das rotas comerciais árticas. (Com informações do The New York Times)

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