Anistia acusa Nicarágua de usar armas de fogo

Segundo a ONG de defesa dos direitos humanos, muitas das mortes foram provocadas por tiros na cabeça, no pescoço e no peito das vítimas

Postado em: 30-05-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Segundo a ONG de defesa dos direitos humanos, muitas das mortes foram provocadas por tiros na cabeça, no pescoço e no peito das vítimas

Em relatório divulgado na segunda-feira (29), a Anistia Internacional acusa o governo da Nicarágua de usar armas de fogo e grupos paramilitares na repressão dos protestos que se espalharam pelo país em abril e maio e resultaram na morte de mais de 70 pessoas. Intitulado Atirar para Matar, o relatório da Anistia é baseado em entrevistas com testemunhas e em fotos e vídeos.

Segundo a organização não governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos, muitas das mortes foram provocadas por tiros na cabeça, no pescoço e no peito das vítimas.

O relatório foi divulgado em Manágua horas antes da marcha Movimento das Mães de Abril, convocada para esta quarta-feira (30), data em que se celebra o Dia das Mães na Nicarágua.

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Muitas das vítimas dos protestos eram jovens universitários, que se somaram às manifestações iniciadas no dia 18 de abril, depois da publicação do decreto que reformou a Previdência Social. O protesto inicial, contra o aumento da contribuição para patrões e empregados, transformou-se rapidamente em um movimento nacional contra o governo de Daniel Ortega, considerado autoritário.

A Anistia Internacional acusa o governo de negar os excessos cometidos na repressão e de censurar a imprensa. Diante do crescente número de mortes, Ortega pediu à Igreja Católica que mediasse um diálogo de paz. A Conferência Episcopal nicaraguense aceitou, desde que o governo instalasse uma Comissão de Verdade internacional para investigar as mortes ocorridas durante os protestos.

Ortega concordou, mas rejeitou as recomendações que os bispos fizeram no dia 23 deste mês – após dias de deliberações com outros setores da sociedade – para apaziguar o país. As recomendações da Igreja Católica – consideradas um “golpe” por Ortega – incluíam a reforma da Constituição e o adiamento das eleições presidenciais, além da proibição da reeleição do presidente, que está em seu terceiro mandato consecutivo. Ele foi reeleito em 2016.

A reforma da Previdência, que desencadeou os protestos, foi revogada pelo governo, mas isso não foi suficiente para acabar com os distúrbios mais violentos desde o fim da guerra civil, em 1990.

Estudantes, agricultores e até empresários somaram-se aos protestos contra Ortega – líder da Revolução Sandinista, que, em 1979, derrubou a ditadura de Anastásio Somoza. Ele tem sido acusado pela oposição (e também por ex-aliados) de querer instalar uma dinastia política na Nicarágua, parecida com a que ele combateu quando era guerrilheiro. A mulher dele, Rosario Murtillo, é vice-presidente e porta-voz do governo.

O governo e a Igreja concordaram em retomar o diálogo, nos próximos dias, apesar de continuarem as denúncias de repressão e mortes. (Agência Brasil) 

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