Georgianos perdem esperanças de voltar para casa

Dez anos após guerra, milhares de georgianos que tiveram que fugir da região do conflito perderam quase toda a esperança de voltar algum dia para seus lares

Postado em: 08-08-2018 às 14h40
Por: Guilherme Araújo
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Dez anos após guerra, milhares de georgianos que tiveram que fugir da região do conflito perderam quase toda a esperança de voltar algum dia para seus lares

A bandeira da Geórgia tremula em Tiflis. (Foto: EFE/ Zurab Kurtsikidze)

Dez anos depois da guerra com a Rússia, que representou para a Geórgia a perda definitiva das regiões rebeldes de Ossétia do Sul e Abkházia, milhares de georgianos que tiveram que fugir da região do conflito perderam quase toda a esperança de voltar algum dia para seus lares.

O povoado de Tserovani, a 20 quilômetros a leste de Tbilisi, foi construído em apenas quatro meses ao final da guerra de agosto de 2008 para receber pessoas que ficaram sem lar devido às ações militares, e hoje vivem nele cerca de 8 mil refugiados.

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O local conta com cerca de 2,2 mil casas de 50 metros quadrados, distribuídas em ruas cujos nomes são números e onde, apesar do calor do verão, algumas crianças, já nascidas em Tserovani, são vistas jogando bola.

“Até o povoado ser construído, ficamos em um jardim de infância de Tbilisi”, contou à Agência Efe Ia Ekaladze, que fugiu da Ossétia do Sul com o marido e seus dois filhos, de 9 e 12 anos, quando a guerra começou.

Ex-professora de História e agora funcionária em uma loja de artigos para o lar, Ia disse que abandonou sua casa sem tempo sequer de pegar seus documentos.

“Os russos e os ossetas queimaram todas as casas dos georgianos em Tamarasheni e outras aldeias vizinhas. Depois trouxeram escavadeiras e arrasaram até com os escombros… Para apagar para sempre os georgianos da memória”, acrescentou ela, sem esconder as lágrimas.

O governo da Geórgia planeja como tarefa prioritária a restauração da integridade territorial do país, mas são poucos os georgianos que consideram que esse é um objetivo alcançável.

“Se tenho esperança de que alguma vez o conflito seja resolvido? Somente se a Rússia se desintegrar e nos deixar em paz!”, exclamou a ex-professora.

Do pequeno e poeirento pátio de sua casa é possível ver as montanhas atrás das quais se estende a Ossétia do Sul, território cuja independência foi reconhecida por Rússia, Venezuela, Nicarágua, Nauru e, em maio, Síria.

A “linha de ocupação”, como denominam os georgianos, ou “fronteira estatal”, como a chamam as autoproclamadas repúblicas de Ossétia do Sul e Abkházia, está sob o controle de tropas fronteiriças russas.

“No começo foi muito difícil fora da minha terra, mas já me acostumei; as pessoas se habituam a tudo. Este conflito vai durar muito, se não para sempre”, disse resignada Raisa Mikhina-Odiskvili.

A mulher, com cerca de 60 anos, se viu obrigada a deixar, com o marido, sua casa na cidade de Akhalgori, que pode visitar de vez em quando graças a um passe concedido pelas autoridades da autoproclamada república da Ossétia do Sul.

O passe é um pequeno retângulo de papel com a foto de seu titular e com a inscrição em russo “Permissão para atravessar a fronteira estatal da Ossétia do Sul”.

A permissão, com validade de três anos, expira em 2019, e Raisa dúvida que possa conseguir uma nova, já que a Ossétia do Sul endurece continuamente os requisitos para sua obtenção.

Raisa, da mesma forma que todos os refugiados, estejam empregados ou não, recebe uma ajuda mensal estatal de 45 laris (US$ 18), trabalha em um jardim de infância em Tserovani e toca a vida com seu salário e a pensão do marido.

Por lei, os refugiados são isentos do pagamento de serviços básicos, como luz e água.

No total, na Geórgia, com uma população de 3,7 milhões de habitantes, há mais de 250 mil deslocados por causa dos conflitos armados nas regiões separatistas de Abkházia e Ossétia do Sul.

A maior onda de deslocados aconteceu no início dos anos 90, quando essas duas regiões se separaram de fato da Geórgia. Já a guerra russo-georgiana na Ossétia do Sul, de cinco dias e que começou em 8 de agosto de 2008, provocou o êxodo de 16 mil georgianos. 

(Agência EFE)

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