Quinta-feira, 28 de março de 2024

Empreendedorismo e consciência coletiva

Confira o artigo de opinião, desta sexta-feira (18/03), por Pedro Kauffman

Postado em: 18-03-2022 às 09h14
Por: Redação
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Confira o artigo de opinião, desta sexta-feira (18/03), por Pedro Kauffman

“Mas o que farei com tudo isso? Não sou homem de negócios”, indagou Jacob. “Ainda bem! Imagine como seria o mundo se os assuntos comerciais fossem geridos apenas por homens de negócios!”, respondeu Rebeca.

Assim começo esse artigo, trazendo a passagem onde o patriarca hebreu Jacob se passa pelo irmão Esaú, para receber do pai no leito de morte, as bênçãos que pertenciam ao seu irmão. Para situar o público não afeito aos preceitos judaicos, aprendemos na Torá, livro conhecido como o Velho Testamento, que Jacob era puro e sensível, e dedicou sua vida às casas de estudo das escrituras.

A Cabala, que é o ensino místico judaico, nos ensina que Isaac, pai de ambos, planejava dividir o mundo entre seus dois filhos. Esaú, seria o empreendedor, o “homem do mundo” e receberia seus recursos materiais. Por sua vez, o espiritualizado Jacob, herdaria o legado espiritual de Abraão e Isaac, patriarcado do povo hebreu. Jacob seria o responsável pelas casas de estudo, onde se ensinava a divina sabedoria.

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Porém, Rebeca, esposa de Isaac e mãe de Esaú e Jacob, interveio. Ela sabia que o mundo material não pode ser entregue aos materialistas. São os Jacob´s do mundo, os espirituais que desdenham a busca pelo poder e pela fortuna, que terão melhor proveito e controle sobre a riqueza. Por isso, ela incentivou Jacob a passar-se pelo irmão, entendendo que não poderia permitir que Esaú recebesse as bênçãos.

Foi com esse sentimento que eu, um Rabino, decidi empreender. Pois a primeira pergunta que fazem para nossas almas quando partimos deste mundo não é: você orou o suficiente? E sim: você fez negócios com integridade?

Isso acontece porque é por meio dos negócios que temos uma grande oportunidade de deixar nossa marca no mundo. Quando decidi fundar uma healthtech oferecendo treinos e conteúdos de saúde e bem-estar para as pessoas, saindo do ambiente conhecido do terceiro setor para me aventurar e correr os riscos do empreendedor, tinha uma única certeza: independentemente do resultado e do sucesso financeiro, eu estava imbuído a criar um negócio que fizesse diferença na vida das pessoas.

Estudos indicam que 70% dos brasileiros desistem de treinar até o 3º mês, e que mais de 50% da população do país do Carnaval e do futebol é sedentária. Em contrapartida, vemos o movimento do mercado em oferecer planos longos, multas ou dificuldades de cancelamento. Movimento impulsionado pela pressão pelo menor CAC e melhores desempenhos de LTV e Churn.

Indo mais a fundo, comecei a pensar na abordagem, na estratégia de vender corpos perfeitos. Mais uma vez me incomodei. Quem somos nós para ditar qual é o corpo perfeito? Se O Criador nos fez diferentes, diferentes serão os conceitos e todos nós, que somos criados à sua Imagem, somos lindos. A busca deve ser por uma vida saudável, com equilíbrio, leveza e alegria. Queremos um mundo mais leve, pessoas felizes, menos julgamentos, mais acessibilidade, mais amor. Queremos que as pessoas amem ao próximo e amem a si mesmas! Quando fazemos o bem, o bem volta. Certo?

Recentemente ultrapassamos o número de 26.500 endereços residenciais no Brasil utilizando nosso app nos transformando na maior rede de academias do mundo, sem termos uma sequer. Hoje vejo que a nossa disrupção é muito maior do que imaginava no começo e como diz o salmista: “Se comeres o trabalho das tuas mãos…”, “Abençoas o fruto do trabalho das tuas mãos”, ecoa Jó.

Voltando então ao patriarca Jacob, certa vez, o sol havia se posto enquanto ele viajava para a cidade de Haran. Ele queria apenas se deitar e descansar. Nessa ocasião, primeiro ele se ocupou em colocar pedras ao redor de sua cabeça. Consta na Torá, que ele os fez como uma proteção porque tinha medo de animais perigosos. Um feito intrigante. Se ele realmente tinha medo de animais selvagens, por que proteger apenas a cabeça?

O sábio rabino e meu mestre, o famoso Rebe de Lubavitch explicou o simbolismo por trás deste ato de Jacob. Naquela noite fatídica, Jacob pensou muito. Ele refletiu sobre as coisas mais importantes para ele – as crenças, valores e padrões que o tornaram quem ele era e permitiriam que ele se tornasse a pessoa que ele queria se tornar: sua inegociável constituição religiosa, moral e comportamental.

Ele protegeu a cabeça com pedras em volta. Ele esculpiu suas prioridades e missão nas profundezas de sua alma. Concessões futuras à custa de seus princípios — sua “cabeça” — nunca seria feita: não porque os argumentos para o compromisso fossem fracos, mas porque não havia ninguém ouvindo do outro lado da mesa de negociações. Sua cabeça estava cercada e protegida por uma parede de pedra. Por acaso algum dos leitores já tentou falar com uma parede de pedra?

Este é o empreendedor que quero ser, com um propósito inviolável. Essa foi a única certeza que tinha quando comecei. Passados sete anos, sobrevivendo mais do que a média, acredito que posso e devo convidar mais empreendedores a este caminho. O sucesso vem de cima, a moralidade, a caridade e o legado que vamos deixar no mundo, depende de nós.

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