Bullying não tem como ‘deixar pra lá’

Confira o artigo de opinião, desta sexta-feira (08/04), por Gervásio de Araújo

Postado em: 08-04-2022 às 09h02
Por: Redação
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Confira o artigo de opinião, desta sexta-feira (08/04), por Gervásio de Araújo

Os danos sociais e individuais são inúmeros por conta da violência escolar. As pessoas que sofrem têm consequências ligadas, principalmente, ao sofrimento psíquico e, em casos extremos, ao suicídio. Segundo dados do Comitê Paulista pela Prevenção de Homicídios, em parceria com o Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em uma pesquisa de 2021, oito em cada dez jovens presenciam pelo menos uma situação de violência contra adolescentes nas escolas do Brasil.

Podemos destacar a reprodução das violências nos diversos ambientes sociais e, em situações graves, ataques armados a escolas e comunidades. A violência na escola pode ocorrer como indisciplina, delinquência, problemas na relação professor-aluno e aluno-aluno, entre outras. Há autores que classificam as formas de violência em conceitos, como, por exemplo, conduta antissocial, distúrbio de conduta e bullying. Ou seja, o bullying é uma das formas de violência no ambiente escolar, caracterizado como comportamentos agressivos, físicos ou psicológicos, que resultam em chutes, empurrões, colocar apelidos, discriminação e exclusão.

Estes comportamentos ocorrem, geralmente, contra grupos com características físicas, socioeconômicas, étnicas e sexuais, específicas. Estes grupos sofrem mais ataques do que aqueles considerados ‘padrões’ pela sociedade.  É importante abordar esse problema social para refletir sobre as suas causas, consequências e formas de combate. E mais do que ter um dia para tratar este assunto, é preciso discuti-lo cotidianamente. A discussão da violência e do bullying deve visar à conscientização da comunidade escolar e da população em geral, para a promoção de uma consciência social sobre este problema e se buscar, coletivamente, combater a violência.

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O bullying se manifesta em duas formas: direta e indireta. A direta se expressa de duas maneiras, pela violência física, com agressões, extorsões, forçar comportamentos nos outros e ameaça e/ou pela violência verbal, com insultos e falas racista, machista, misógina, classista, lgbtfóbica e outras relacionadas à diversidade expressa no e pelo outro. A indireta ocorre pela exclusão, fofoca, boato, ameaça de exclusão, ou seja, comportamentos que objetivam manipular a vida social do outro. Atualmente cresce o chamado cyberbullying, que é a utilização das tecnologias para a prática de violência. As violências reproduzidas individualmente (direta ou indireta) são, geralmente, os preconceitos da nossa sociedade, como a discriminação contra negros e negras, indígenas, mulheres, população lgbtqia+, pobres, gordos e obesos, entre outros.

Uma das formas de combater a violência escolar está relacionada à compreensão e análise deste fenômeno. A causa da violência e do bullying envolve aspectos sociais e individuais: fatores econômicos, sociais e culturais e influência de familiares, colegas e comunidade; temperamento do indivíduo.  Por isto, o combate à violência escolar requer reflexão e ação junto ao indivíduo e à sociedade. Em geral, quando se aborda o bullying e outras violências há uma tendência de tratar apenas o indivíduo violento, ou seja, apenas o aspecto particular. Com isto, se individualiza e psicologiza a violência, de forma a esconder os processos sociais inerentes aos comportamentos violentos ou classificados como bullying.

As violências no ambiente escolar são uma expressão das violências da sociedade. A causa da violência não está no indivíduo, mas na sociedade que nos constitui seres humanos. Apenas em casos raros, resultado de algum transtorno psicológico grave, a causa da violência deve ser localizada somente no indivíduo. Assim, é importante educar os indivíduos para a solidariedade e para a construção de uma sociedade para a liberdade.

Não se deve culpabilizar a vítima pela violência sofrida, pois isto resulta numa dupla agressão e intensificação do sofrimento psíquico. Ao tomar conhecimento de que seus filhos estão sendo vítimas de violência, pais e familiares devem acolher, procurar ajuda psicoterapêutica e comunicar à escola ou instituições cabíveis, o relato da violência para que estas tomem medidas para encerrar o ciclo da violência e proteger a vítima.

As agressões podem fazer a vítima se sentir excluída, discriminada ou revoltada, gerando intenso sofrimento psíquico. Para apontar algumas consequências específicas, a pessoa pode desenvolver transtornos de ansiedade e depressão e, em casos extremos, como pontuado anteriormente, levar ao suicídio. Também pode ocorrer da vítima reproduzir violência contra pessoas mais vulneráveis. Em outros casos, como já destacamos, essas vítimas, tomadas pelo ódio e vingança, acabam realizando ataques armados a escolas, shoppings, espaços de lazer ou que tenha aglomeração de pessoas.

Não existem respostas simples e fórmulas mágicas da paz para a resolução desta problemática. A violência e sua expressão na forma bullying é um problema complexo, que envolve aspectos individuais e sociais, políticos e econômicos. Algumas mediações são necessárias para adentrar o desafiador caminho de combate à violência. No aspecto individual, pode-se apontar o caminho educativo: ensinar as crianças e adolescentes o respeito à diversidade, o fortalecimento dos laços coletivos e solidários, a democratização das relações e a busca por autonomia e liberdade. No aspecto social, pode-se apontar a necessidade de rever e reconstruir os valores dominantes na sociedade, que fomenta e reproduz o individualismo, a competição e a meritocracia, criando a imagem do outro como um concorrente, um adversário a ser derrotado. Além disso, é fundamental a importância da educação no combate à violência, como apontou Paulo Freire: “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido e ser opressor”.

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