Propina da Odebrecht irrigava obras do aeroporto

Planilha apreendida pela PF mostra que, em 2014, um operador da empreiteira teria repassado R$ 1,4 milhão a pessoas ligadas à obra

Postado em: 23-03-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Planilha apreendida pela PF mostra que, em 2014, um operador da empreiteira teria repassado R$ 1,4 milhão a pessoas ligadas à obra

Venceslau Pimentel

Planilhas apreendidas pela Polícia Federal, dentro da 26ª fase da Operação Lava jato, revelam que teria sido pago propina de R$ 1,4 milhão a duas pessoas possivelmente ligadas às obras do aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia. Os beneficiários do esquema, conduzido, de acordo com a PF, pela empreiteira Norberto Odebrecht, aparecem com os codinomes de Padeiro (R$ 1 milhão) e Comprido (R$ 400 mil).

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As investigações apontam que o repasse de dinheiro para os dois beneficiários teria sido feito pelo diretor de Contrato da Odebrecht, Ricardo Ferraz, em 2014. Ele é apontado como um dos supervisores da obra do aeroporto, tocada pela empreiteira e a Via Engenharia. Outras grandes obras ligadas ao governo federal também eram “supervisionadas” por diretores da empreiteira. Procuradores do Ministério Público Federal citaram obras como a construção da Arena Corinthians, em São Paulo, que foi palco da abertura da Copa do Mundo de 2014. Constam também da lista os metrôs no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, e ainda o Canal do Sertão, no Nordeste.

O episódio é mais um na novela que envolve o aeroporto de Goiânia, que se arrasta desde 2006. Com a revelação da Lava Jato, a continuidade das obras está ameaçada. O novo terminal, com dois andares e quatro estações para embarque, com aproximadamente 34 mil metros quadrados. Pela previsão inicial, a capacidade dele seria de 8 milhões de passageiros por ano.

O primeiro nó em torno da obra se deu em 2006, quando a fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU) detectou indícios de irregularidades, apontados como graves, pois havia indícios de sobrepreço estimado em pouco mais de R$ 66 milhões. Seis anos depois, entre idas e vindas, a Infraero chegou a assinar um termo para complementação e atualização dos projetos executivos do terminal, com o respectivo orçamento da obra, submetendo o processo ao TCU, que autorizou a retomada das obras.

Mesmo assim, a obra continuou em banho-maria, até que, em março do ano passado, na visita que fez a Goiânia, a presidente Dilma Rousseff prometeu retomar os trabalhos no aeroporto no mês seguinte, abril, com previsão de conclusão em novembro passado. Em discurso, ela fez o seguinte pronunciamento. “Quero dizer que trago uma boa notícia. As obras do pátio e da pista, interrompidas lá atrás, vão começar na primeira semana de abril, mais precisamente no dia 6. Quero assumir o compromisso junto com o [Eliseu, ministro-chefe de Aviação Civil, que estava no evento] Padilha de que todas as obras estarão concluídas em novembro deste ano”, disse Dilma. 

No final do ano passado, a Infraero anunciou que a área comercial do aeroporto seria administrada por uma única empresa, como projeto-piloto em todo o país.

Embargo

Em nota divulgada ontem, a Infraero disse desconhecer qualquer tipo de investigação envolvendo as obras de construção do novo complexo aeroportuário de Goiânia. “A obra está sendo finalizada, com conclusão total dos trabalhos prevista para abril e inauguração agendada para 31/5. Dessa forma, não há possibilidade de embargo aos trabalhos”, diz a empresa pública federal subordinada à Agência de Aviação Civil.

“É importante esclarecer que, em relação à construção do novo terminal de passageiros do Aeroporto Santa Genoveva, desde o início do empreendimento todos os processos têm sido acompanhados pelo Tribunal de Contas da União, visando à transparência dos serviços”.

 Nova fase da Lava Jato foca Odebrecht

A Polícia Federal deflagrou ontem a 26ª fase da Operação Lava Jato com foco no grupo Odebrecht. Chamada Xepa, a operação é um desdobramento da 23ª fase e desvendou um esquema de contabilidade paralela no âmbito da empreiteira, para pagamento de vantagens indevidas a terceiros, “vários deles com vínculos diretos ou indiretos com o poder público em todas as esferas”.

As investigações mostram que houve pagamento em espécie a terceiros, indicados por altos executivos do grupo Odebrecht, em várias áreas de atuação do grupo. De acordo com nota da PF, “há indícios concretos de que o Grupo Odebrecht se utilizou de operadores financeiros ligados ao mercado paralelo de câmbio para a disponibilização de tais recursos”.

As investigações envolvem cerca de 380 policiais federais que cumprem 110 ordens judiciais nos estados de São Paulo, Rio de janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia, Piauí, Distrito Federal, Minas Gerais e Pernambuco. Estão sendo cumpridos 67 mandados de busca e apreensão, 28 mandados de condução coercitiva, 11 mandados de prisão temporária e 4 mandados de prisão preventiva.

No meio da manhã, a Odebrecht divulgou nota informando que está ajudando nas investigações: “A empresa tem prestado todo o auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários.” (ABr)

  

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