Dilma diz que delação cria ambiente propício ao golpe

Ex-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez disse, em depoimento à PF, ter abastecido campanhas eleitorais do PT e do PMDB com propina

Postado em: 08-04-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Ex-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez disse, em depoimento à PF, ter abastecido campanhas eleitorais do PT e do PMDB com propina

A presidente Dilma Rousseff (PT) reagiu ontem à divulgação da delação premiada do ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo disse, de que teria feito doações legais às campanhas de Dilma Rousseff (PT) e de seus aliados em 2010 e 2014 utilizando propinas vindas de obras superfaturadas da Petrobras e do sistema elétrico.

Para a petista, trata-se de vazamento premeditado e direcionado, que visa criar um ambiente propício ao golpe, às vésperas da votação do impeachment no plenário da Câmara dos Deputado. A presidente comentou o assunto durante evento no Palácio do Planalto, em que recebeu o apoio de mulheres representantes de movimentos sociais e sindicais, como as marchas das Margaridas, Mundial das Mulheres e das Mulheres Negras e a Central Única dos Trabalhadores (CUT).

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Ela prevê novos vazamentos “oportunistas e seletivos”. Por isso, disse ter pedido ao Ministério da Justiça a tomada de medidas jurídicas cabíveis. “Na trama golpista, gostaria de destacar o uso de vazamentos seletivos. A nossa Constituição Federal garante a privacidade e proíbe vazamentos que hoje são premeditados e direcionados, com claro objetivo de criar ambiente propício ao golpe”, disse.

Ontem, o deputado federal Jovair Arantes (PTB-GO), relator do pedido de afastamento de Dilma na Comissão Especial do Impeachment, deu parecer favorável ao afastamento da presidente. O relatório deve ser votado pelo plenário da comissão na próxima segunda-feira.

Em seu discurso, a presidente afirmou ainda que submetê-la ao impeachment ou pedir que renuncie ao mandato, é golpe de Estado. “Um golpe dissimulado, com pretexto e verniz de legalidade”, pontou. “Não perco o controle, não perco o eixo, não perco a esperança, porque ou mulher e me acostumei a lutar por mim e pelos que amo”.

As informações da delação premiada da Andrade Gutierrez são do jornal “Folha de S.Paulo”. Otávio e o ex-executivo da empresa Flávio Barra apresentaram uma planilha à Procuradoria Geral da República (PGR), segundo o jornal.

No documento, detalham depoimentos ocorridos em fevereiro em cidades como Curitiba, Rio e Brasília, enquanto negociavam a delação premiada que espera homologação no Supremo Tribunal Federal. Segundo Azevedo disse a procuradores, que falaram ao jornal, a propina que abasteceu a campanha tinha origem em contratos da empreiteira para a execução das obras do Complexo Petroquímico do Rio, a usina nuclear de Angra 3 e a megahidrelétrica de Belo Monte, obras importantes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

De acordo com a denúncias, as empreiteiras responsável pela hidrelétrica teriam combinado o pagamento de R$ 150 milhões, a título de propina, valor correspondente a 1% dos contratos fechados com o governo federal. O PT e o PMDB ficariam, cada um com R$ 75 milhões, a ser pago ao longo da construção da obra. De acordo com a delação premiada, esse recurso foi pago, em forma de doações legais para as campanhas de 2010, 2012 e 2014.

Esquema

É a primeira vez que é descrito por um empresário o esquema revelado pela Operação Lava-Jato, de financiamento de partidos por meio de propinas de contratos públicos legalizadas na forma de doação eleitoral. Em 2014, a Andrade Gutierrez doou R$ 20 milhões para o comitê da campanha de Dilma. (AG e ABr) 

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