“A Saneago saiu do vermelho e dá lucro”, diz José Taveira

Confira a entrevista exclusiva com o presidente da Saneago

Postado em: 21-06-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Confira a entrevista exclusiva com o presidente da Saneago

Venceslau Pimentel, Rubens Salomão e Sara Queiroz

Espécie de coringa do governo, o presidente da Saneago, José Taveira da Rocha, já dirigiu secretarias e órgãos do Estado em situação de penúria econômico-financeira, e saneou  todos eles, a exemplo do Ipasgo. Ele disse ter encontrado a mesma situação de dificuldade na companhia de abastecimento de água, porque a receita não cobria as despesas. A economia mensal, hoje, está na casa do R$ 14 milhões. Em entrevista a O Hoje, ele fala dos investimentos em curso e o processo de captação de recursos junto a instituições financeiras, do Brasil e do exterior. O objetivo é universalizar os serviços de água e esgoto. Para Goiânia e entorno, a empresa trabalha para ofertar o produto, com segurança, até 2050. 

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Qual é hoje a situação financeira da Saneago?

Quando cheguei à Saneago, ela tinha uma arrecadação de R$ 120 milhões e um gasto de R$ 172 milhões. Sobre o endividamento de curto prazo, o que nós fizemos? Levantamos o passivo de curto prazo e concluímos que os grandes investimentos não poderiam ser feitos porque não tínhamos índices de análise. Então fizemos uma operação de R$ 1,7 bilhão. Essas operações estruturadas são as que chamamos de sadias no mercado financeiro, porque você pega o perfil de endividamento, alonga ele e diminui os encargos. Então fomos ao mercado buscar esses R$ 1,7 bilhão. Pegamos R$ 510 milhões, e pegamos o endividamento de curto prazo e quitamos ele. Trocamos a dívida que vencia todo mês por uma operação de 10 anos a 12 anos, com várias instituições. Então liquidamos R$ 510 milhões do passivo bancário.

Então havia gastos acima do que era arrecadado?

Se você ganha menos do que gasta, como era o caso da Saneago, o que você tem que fazer? Tem que buscar uma operação de longo e médio prazo para sobrar dinheiro para arrumar sua vida. Isso é simples. Pagamos o passivo de curto prazo. E nessa operação, R$ 118 milhões foram para o Sistema João Leite, e mais R$ 90 milhões, e R$ 90 milhões para Corumbá IV. Nisso você já gastou R$ 300 milhões, e depois R$ 510 milhões foram para R$ 810 milhões, e o restante desse dinheiro colocamos em projeto de menor monta, como em Anápolis, Rio Verde e Cidade de Goiás, onde tivemos ponto crítico. Com esses R$ 510 milhões que nós acertamos o passivo bancário, nós abrimos índices civilizados para chegarmos no BNDES para conseguir analisar um pleito de crédito nosso de R$ 200 milhões, para iniciarmos uma terceira fonte de abastecimento em Goiânia, que está em estudo.

Os novos recursos desafogaram as finanças da empresa. É isso?

Com o pagamento do passivo de curto prazo acabamos com a agonia do dia a dia, e economizamos R$ 14 milhões por mês, por conta dos encargos mais baixos. Depois adotamos uma política rígida nas despesas, e ela está até hoje, como por exemplo, despesas com propaganda e publicidade. Nós iniciamos a desmistificação dos grandes dramas da Saneago. Há uma barragem maravilhosa para abastecer a Grande Goiânia, até 2050, mas o que interessa é a água na torneira. Então, nesse mês de agosto estaremos terminando a ETA e já vai rodar, e o João Leite vai começar a abastecer Goiânia a partir do reservatório do Sistema produtor Mauro Borges. E você, à medida que vai implantando, nós vamos resolver megaproblemas na Saneago.

E a previsão para a água chegar a todas as torneiras?

A nossa previsão é que em meados de 2017 as águas do João Leite estejam todas nas torneiras. Nós estamos fazendo um programa de recuperação da capitação do rio Meia Ponte, e vamos redirecionar para resolver o problema de Goianira e Trindade. Vamos ter agora em agosto a ETA, e ela vai começar a ligar geograficamente à medida que for avançando até Aparecida. Vamos colocar o Sistema Mauro Borges em funcionamento e vamos redirecionando o sistema Meia Ponte. Vamos implementar nessa região de Goianira e Trindade, universalizando.

E quanto ao faturamento da empresa?

Vamos ter um aumento de mais de 20% no nosso faturamento, que vai dar R$ 40 milhões, que é gradativo e que adiciona aquela economia, e aí vamos caminhando para o equilíbrio financeiro que já atingimos.

Tem como garantir que essas crises hídricas que tivemos nos anos anteriores não vão se repetir?

Vão se repetir, mas em escalas bem menores.

Qual seria o impacto da nova lei que prevê gestão associada na Saneago com a prefeitura de Goiânia?

Nós temos um investimento pesadíssimo em Goiânia, superior a R$ 1 bilhão. Nosso contrato estava caminhando para o vencimento. A própria operação do Sistema Produtor Mauro Borges requer milhões de investimento, em Goiânia. Não podíamos investir na instabilidade de um contrato prestes a vencer, e procuramos a prefeitura, explicamos isso. Jeovalter Correia (secretário municipal de Finanças) foi meu primeiro ponto de contato com eles. Elaboramos a quatro mãos a Lei, foi aprovada, sancionada, agora a prefeitura está licitando uma empresa para fazer o Plano Municipal de Saneamento. O que quer à Saneago? Nós acolheremos esse plano através de um contrato ou convênio para os próximos 30 anos, para termos cobertura, inclusive institucional, para investir, porque nós temos aqui a certeza de um retorno. A mesma coisa vai acontecer em Anápolis, já fizemos a lei, já foi aprovada, e estamos em tratativa com o prefeito.

Esse plano municipal que vai ser apresentado não choca com a projeção que a Saneago tinha em termos de investimentos em Goiânia?

Não, porque já temos noção desse plano, sobre para onde a cidade vai crescer. Vamos precisar, nos próximos anos, de novas fontes de abastecimento, mas a Saneago já está cuidando disso.

E sobre o questionamento de que a prefeitura deveria ter participado, junto com a Agência de Regulação do Estado, da definição do reajuste da tarifa da água?

A prefeitura não tinha como participar, porque nós fizemos a lei, a prefeitura licitou uma consultoria para fazer o Plano Municipal de Saneamento e ela vai apresentá-lo à Saneago, por meio de contrato ou convênio. A partir desse momento, aí sim, a prefeitura está apta, através da Agência, a participar do processo de exame das revisões e reajustes tarifários. Até porque tem o subsídio cruzado, onde as cidades grandes pagam os gastos das pequenas, e isso precisa ser regulado por uma agência no âmbito estadual.

O reajuste de 9,16% está mantido a partir do dia 1º de junho? E qual foi o critério utilizado para definição do percentual?

Está mantido e foi definido com base na inflação do período, e inclusive, está abaixo da inflação do período.

Os aumentos do ano passado pesaram em que para as contas da Saneago?

Foi 32,36%. Isso não foi reajuste de inflação. De quatro em quatro anos as Companhias de Saneamento podem fazer uma revisão tarifária, com o objetivo não de corrigir, monetariamente, o valor da tarifa, para repor os custos dos investimentos. É diferente. Então esse aumento foi exatamente analisado para a Saneago ter uma capitalização suficiente para bancar os investimentos nos 225 municípios onde ela opera.

Vai e vem os sindicatos reclamam que a Saneago será privatizada. 

Não, eu acho que não. E não defendo a privatização da Saneago. Porque no fornecimento de água e esgotamento sanitário você tem implícito a questão social, que é muito grande, e essa atividade eu defendo que ela seja definida pelo Estado. Tem subsídio cruzado. Se nós fizermos o processo de privatização, eles vão querer excluir os municípios que não dão lucro. Eu defendo a privatização de bancos estatais, rodovias, etc. Eu defendo que o Estado deve continuar mantendo a Saneago.

E as subdelegações de serviços? Vão continuar?

Eu examinei esse processo de subdelegação assim que eu assumi a Saneago. Ele ocorreu num momento em que a Saneago estava sem condições de investir.  

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