Quinta-feira, 28 de março de 2024

Cunha: a ascensão e queda do algoz de Dilma

Sem foro privilegiado, Cunha vai para a cadeia por ordem do juiz federal Sérgio Moro. Ex-presidente da Câmara foi levado de jatinho de Brasília para a carceragem da PF, em Curitiba.

Postado em: 20-10-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Sem foro privilegiado, Cunha vai para a cadeia por ordem do juiz federal Sérgio Moro. Ex-presidente da Câmara foi levado de jatinho de Brasília para a carceragem da PF, em Curitiba.

Trinta e sete dias após ter o seu mandato cassado, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi preso ontem em Brasília e levado a Curitiba, num jatinho da Polícia Federal, por determinação do juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato.
A Justiça Federal no Paraná também decretou a indisponibilidade de bens do ex-deputado no valor de R$ 220.677.5015,24, em ação civil de improbidade administrativa na 6ª Vara Federal daquele Estado.
Cunha foi capturado perto do prédio onde mora, na capital federal, seis dias após Moro ter recebido ação penal contra o ex-parlamentar, por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão fiscal pela manutenção de contas secretas na Suíça, supostamente oriundo de propina da Petrobras.
Como o ex-deputado perdeu o foro privilegiado junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), sobre contas na Suíça, o caso foi parar nas mãos de Moro, em primeira instância.
Paralelamente, a casa dele, no Rio de Janeiro, foi alvo de buscas. Oito veículos foram apreendidos, entre eles, um Porsche Cayenne modelo 2013, Porsche Cayenne modelo 2006, Land Rover Freelander modelo 2007, Hyundai Tucson modelo 2009, Tiguan modelo 2011 e um Ford Fusion 2013.
O Ministério Público Federal (MPF) listou atitudes de Cunha que estariam atrapalhando a Lava jato. Estão relacionadas, entre outras, a suspeita do recebimento de vantagem indevida por emendas para bancos e empreiteiras; manobras junto a aliados no Conselho de Ética para enterrar o processo que pede a cassação do deputado; ameaças relatadas pelo ex-relator do Conselho de Ética, Fausto Pinato (PRB-SP); relato de oferta de propina a Pinatto, ex-relator do processo de Cunha no Conselho de Ética; requerimentos no TCU e à Câmara sobre a empresa Mitsui para forçar o lobista Julio Camargo a pagar propina; e requerimentos contra o grupo Schahin, cujos acionistas se tratavam de inimigos pessoais do ex-deputado e do seu operador, Lucio Bolonha Funaro.
Em nota, Cunha disse considerar absurda a sua prisão, por entender que não há nenhuma motivação, sendo que foram utilizados argumentos de uma ação cautelar extinta pelo Supremo Tribunal Federal.
“A referida ação cautelar do Supremo, que pedia minha prisão preventiva, foi extinta e o juiz, nos fundamentos da decretação de prisão, utiliza os fundamentos dessa ação cautelar, bem como de fatos atinentes à outros inquéritos que não estão sob sua jurisdição, não sendo ele juiz competente para deliberar”, sustenta. Por fim, informa que seus advogados tomarão as medidas cabíveis “para enfrentar essa absurda decisão."

Algoz de Dilma 
Terceiro na linha sucessória da República, Eduardo Cunha ganhou os holofotes da imprensa e visibilidade nacional, ao deixar o baixo clero, na Câmara, para comandar a Casa, a partir de fevereiro de 2015, onde teria instalado um balcão de negócios, passando a sustentar, com recursos, uma bancada que votava de acordo com os seus interesses.
Depois de em embate virulento com a então presidente Dilma Rousseff (PT), o rompimento veio com a aceitação do pedido de impeachment da petista, em dezembro de 2015.
O ocaso se dá agora, com a sua prisão, interrompendo uma trajetória política de quase 25 anos, depois de vida pública.

Ex-aliado de Collor
Carioca, 58 anos, Cunha é economista por formação. Evangélico,  ingressou no mundo político ao ser convidado para trabalhar na campanha de Eliseu Resende, ao governo de Minas Gerais, em 1982, e Moreira Francos, no Rio, em 1986.
Em 1989, integrou o núcleo da campanha presidencial de Fernando Collor de Mello. Dois anos depois foi nomeado presidente da Companhia Telefônica do Rio (Telerj), nomeado por Collor.
Em 1996, Cunha e outras 41 pessoas foram autuados em um dos processos que investigava o esquema de corrupção de Paulo Cesar Faria. Tornou-se réu em um dos maiores processos do caso, por ter sido acusado de envolvimento com Jorge Luiz Conceição, o operador das contas fantasmas do chamado esquema de corrupção.
Em 1999, assumiu o comando da Companhia Estadual de Habitação do Rio. Nas eleições de 1998, candidatou-se a deputado estadual, mas ficou na suplência. Assumiu mandato em 2001.
No ano seguinte, elegeu-se deputado federal, sendo reeleito em 2006, 2010 e 2014. Em 2013, foi eleito líder do PMDB na Câmara; em fevereiro de 2015, foi eleito presidente da Câmara dos Deputados. A decaída começou quando mentiu na Comissão Parlamentar de Inquérito da Petrobras, ao dizer que não tinha contas no exterior.

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