Quinta-feira, 01 de agosto de 2024

Morre aos 95 anos Dom Paulo Evaristo Arns

Cardeal estava internado desde o final de novembro e sofreu falência múltipla de órgãos

Postado em: 15-12-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Cardeal estava internado desde o final de novembro e sofreu falência múltipla de órgãos

O cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo, faleceu ontem aos 95 anos. Ele estava internado desde o dia 28 de novembro no Hospital Santa Catarina, na capital paulista, com broncopneumonia. O quadro se agravou nos últimos dias e Arns, com dificuldades renais, foi encaminhado à UTI, morrendo às 11h45, de falência múltipla de órgãos.

Frade franciscano, membro da ala progressista da Igreja Católica e notório defensor dos direitos humanos, Arns foi nomeado bispo em 1966, pelo Papa Paulo 6º e arcebispo metropolitano de São Paulo em 1970. Três anos depois, o cardeal foi elevado a cardeal. As nomeações foram autorizadas pelo papa Paulo 6º, com quem mantinha amizade. Ele permaneceu no comando da Arquidiocese paulista até 1998, quando se afastou por limite de idade.

O trabalho pastoral de Dom Paulo foi voltado principalmente aos habitantes da periferia, aos trabalhadores, à formação de comunidades eclesiais de base nos bairros e ao enfrentamento ao regime militar, especialmente quanto às perseguições contra civis sem acusação judicial, passando pelas condições de cárcere dos detentos e a falta de garantas.

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A combatividade do cardeal ficou explícita nas discussões que nutriu contra os generais detentores do poder, incluindo o então presidente Emílio Garrastazu Médici. A rusga, aliás, causou a cassação da Rádio 9 de Julho, vinculada à Igreja e devolvida anos depois. Dom Paulo foi perseguido indiretamente por militares e simpatizantes da extrema direita, que o acusaram de comunista e de homossexual. O cardeal jamais respondeu as acusações.

Enquanto cardeal com direito à voto, Arns participou de dois conclaves – ritual no qual os cardeais da Igreja Católica escolhem o papa após falecimento ou renúncia do último ocupante do cargo. Ele era favorito no conclave que elegeu João Paulo II, em 1978, e teve participação ativa nas manifestações em prol das eleições diretas para presidente, as Diretas Já, ocorridas entre 1983 e 1985. 

Foi no pontificado de Karol Wojtyła, aliás, que Dom Paulo Evaristo Arns começou a perder influência na Igreja. A arquidiocese de São Paulo foi fatiada em quatro, o que lhe desagradou. João Paulo II, por intermédio do conservador cardeal Joseph Ratzinger – o atual papa emérito Bento XVI – passou a perseguir o setor progressista católico. 

Arquidiocese de Goiânia lamenta morte 

A morte de Dom Paulo Evaristo Arns foi comentada pela Arquidiocese de Goiânia, por meio de nota. O arcebispo da capital, Dom Washington Cruz, não se pronunciou oficialmente por estar em viagem.

“Estamos certos de que Dom Paulo Evaristo Arns tem lugar reservado na Casa do Pai. Isso nos enche de esperança e consolação por sua perda, nos impelindo a um sentimento de gratidão pelo dom da sua vida, que foi totalmente disponibilizada a serviço da Igreja e do povo de Deus, em sua diocese e em todo o Brasil. 

É exemplar o seu comprometimento com o anúncio do Evangelho e a defesa de uma vida plena para todos, com especial atenção aos direitos dos menos favorecidos e aflitos.

Louvemos a Deus pelo testemunho de vida de Dom Paulo. Por ser discípulo fiel e destemido de Jesus Cristo, que é o próprio caminho para o Reino,rezamos para que ele seja acolhido na Casa do Pai”.

 

 

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