Temer terá de superar desafios políticos para conter crise, dizem especialistas

Economistas avaliam que presidente terá de vencer desafios políticos para conseguir implantar as reformas desejadas e conter a crise econômica

Postado em: 04-01-2017 às 08h24
Por: Renato
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Economistas avaliam que presidente terá de vencer desafios políticos para conseguir implantar as reformas desejadas e conter a crise econômica

Em mensagem no fim de 2016, o presidente Michel Temer disse
que 2017 será o ano em que o Brasil derrotará a crise. Ele afirmou que o
desafio de seu governo será a recuperação dos empregos perdidos e o crescimento
“sustentável e responsável” da economia. Além disso, Temer antecipou que
pretende focar esforços na promoção de uma reforma tributária, com o
objetivo de tornar a legislação mais simples.  A reforma política e a
aprovação da reforma trabalhista, que foi enviada pelo governo ao Congresso,
também estão no horizonte do presidente neste ano, bem como os desafios de
desburocratizar o Estado, melhorar a qualidade da administração pública, baixar
os juros e estimular a volta dos investimentos no país.

Para especialistas consultados pela Agência Brasil, o
presidente Michel Temer terá de vencer desafios políticos para conseguir
implantar as reformas desejadas e conter a crise econômica. Entre essas
dificuldades, estão os impactos das investigações da Lava Jato no cenário
político e o processo que tramita no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as
contas da campanha eleitoral da chapa Dilma-Temer.

Lava Jato

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Em fevereiro, após o fim do recesso da Corte, o Supremo
Tribunal Federal (STF) deverá homologar ou não as delações premiadas de 77
executivos da empreiteira Odebrecht, que citaram o envolvimento de políticos de
vários partidos. São mais de 800 depoimentos que estão em análise pelo relator,
ministro Teori Zavascki.

No início de dezembro, vieram à tona uma série de informações
sobre o depoimento prestado pelo ex-vice-presidente de Relações Institucionais
da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, à força tarefa da Operação Lava Jato. De
acordo com reportagens, o executivo disse que entregou dinheiro vivo em 2014 ao
advogado José Yunes, amigo e então assessor de Temer. Melo também citou nomes
importantes do governo como o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, o
ex-ministro do Planejamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR), e o ex-ministro da
Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima, também do PMDB. Todos negam
irregularidades e Yunes pediu demissão do cargo.

Para o cientista político e pesquisador Antônio Flávio
Testa, da UnB, um dos desafios que o presidente poderá ter de lidar é se as
investigações apontarem o envolvimento de ministros da equipe.

“O Temer já perdeu um aliado forte, que é o Geddel [Vieira
Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo], e tem mais dois com a faca no
pescoço: Eliseu Padilha [ministro da Casa Civil] e Moreira Franco
[secretário-executivo do Programa de Parceria de Investimentos]. Isso para ele
é uma situação muito difícil”, disse Testa. 

De acordo com o cientista político da Fundação Getúlio
Vargas de São Paulo, Cláudio Couto, as investigações podem também atingir
aliados no Congresso. “Nenhum parlamentar pode atirar pedras porque as
investigações podem atingir muitos deles. É o que chamo de Síndrome de
Demóstenes Torres, que foi um senador que atacava a todos até descobrirem que
ele estava envolvido”.

TSE

Outro desafio será se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
rejeitar as contas da chapa Dilma-Temer, eleita em 2014. Nos primeiros
meses do ano, o relator do processo que pede a cassação da chapa, ministro
Herman Benjamin, deve concluir o voto após analisar as perícias contábeis e os
depoimentos das testemunhas.

“Claro que tem [a questão da] interpretação do jogo
político, que pode adiar ou adiantar o processo no TSE. Na minha avaliação,
pode adiantar se Temer não conseguir retomar a atividade econômica e se a Lava
Jato continuar pegando personagens à sua volta. Isso pode acelerar o
julgamento. E pode adiar se houver sinais de recuperação da economia, se seus
aliados conseguirem se defender”, diz o cientista político Antônio Testa.

Em dezembro de 2014, as contas da campanha da então
presidenta Dilma Rousseff e seu companheiro de chapa, Michel Temer, foram
aprovadas com ressalvas, por unanimidade, no TSE. No entanto, o processo foi
reaberto porque o PSDB questionou a aprovação por entender que há
irregularidades nas prestações de contas apresentadas.

“É difícil fazer previsões em um cenário como o atual, em
especial por conta dos riscos que um aprofundamento da Lava Jato pode ter para
o governo Temer e por conta do julgamento das contas de campanha da chapa
Dilma-Temer, o que pode, inclusive, resultar na cassação do atual presidente”,
disse o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília
(UnB), Paulo César Nascimento.

Previdência

Paulo César Nascimento avalia que 2017 será um ano de
“remédios amargos, de crescimento muito baixo e de reformas dolorosas”. “Não
tem outro jeito: o Brasil terá de passar por isso para, em 2018, respaldado
pelas eleições e com o apoio do Congresso, algo melhorar”, acrescentou.

Um dos primeiros desafios de Temer, já no início do ano, é o
de aprovar a Reforma da Previdência. Com uma base forte no Congresso Nacional,
o governo já conseguiu a aprovação da constitucionalidade do texto, encaminhado
para análise das comissões da Câmara e do Senado. A reforma precisa ser
aprovada em duas votações nos plenários de cada Casa.

Alguns pontos da proposta já causaram divergências
– como a idade mínima de 65 anos para a aposentadoria; 25 anos como tempo
mínimo de contribuição; e a expectativa de que sejam necessários 49 anos de
contribuição para se atingir a aposentadoria integral – e devem dificultar o
caminho para a aprovação do texto. A proposta foi criticada por entidades
sindicais de trabalhadores, entre elas a Força Sindical, que tem como liderança
o deputado Paulinho da Força (SD-SP), aliado do governo.

Para Antônio Flávio Testa, a reforma sofrerá resistência dos
trabalhadores e Temer precisará usar toda a bagagem e habilidade política para
driblá-la. Na avaliação do cientista político, o presidente deve pedir o apoio
da população.

“A comunicação dele [presidente] ainda não é no sentido de
explicar a tragédia, pedir esforço da população, como foi feito em momentos
decisivos como o Plano Real e no apagão. Acho que ele precisa fazer isso agora
porque seu governo já começou com a ampulheta virada e o Brasil tem uma agenda muito
curta. A partir de setembro do ano que vem, o país começará a discutir a
sucessão. Aí sim ficará ruim [para avançar na tramitação de projetos
impopulares no Congresso]”, disse.

O cientista político Cláudio Couto também afirma que a
aprovação das reformas propostas será díficil. “Não será um ano fácil para o
governo porque a agenda apresentada é muito pesada em termos de reforma. Temer
disse que quer ser um presidente reformista, mas a gente sabe que fazer reforma
não é coisa simples até porque costuma despertar resistências”, disse o
cientista político da FGV, destacando a habilidade política do presidente
e de vários de seus auxiliares. 

“Temer já foi várias vezes presidente da Câmara e tem essa
habilidade. O ex-presidente Lula também tinha. Já a Dilma, não. Ela tinha
dificuldades até para delegar politicamente. Presidentes precisam ter esse tipo
de habilidade, e não fazer de seus ministros meros garçons que atendem
pedidos”.

Reforma do Ensino Médio

Para Testa, outros projetos que tramitam no Congresso não
devem encontrar tantos problemas para serem aprovados, como, segundo ele, a
medida provisória da reforma do ensino médio, que já passou pela Câmara e
precisa agora ser analisada pelos senadores.

As mudanças motivaram ocupações de centenas de
escolas pelo país por estudantes, que criticaram a forma como a proposta foi
enviada aos parlamentares. Diante das críticas, o presidente da República
chegou a dizer que o importante foi estimular o debate sobre o assunto, e não
faz questão de que o texto aprovado seja o da MP, desde que as mudanças
sejam aprovadas.

PSDB

Já com relação ao PSDB, principal partido aliado de Michel
Temer, Antônio Flávio Testa, acredita que a legenda fará o “máximo esforço para
ocupar mais espaços estratégicos no governo”. “A tendência é eles ficarem
com Temer, como já falaram, até viabilizarem um tucano como candidato à
Presidência da República. Mas vão empurrar isso até o momento em que o governo
Temer, na visão deles, ficar inviável”, disse Testa.

Para Cláudio Couto, o governo Temer e o PSDB têm afinidades
e é interessante aos tucanos que o governo faça agora reformas impopulares,
antes da próxima eleição presidencial quando o PSDB deve apresentar candidato
ao cargo. “É interessante para os tucanos que o Temer se apresente como o chefe
de um governo reformista”.

Na avaliação de Couto, apesar de pesquisas apontarem baixa
popularidade de Temer, o que poderia colocar em risco o apoio do PSDB é
se ocorrerem mobilizações e manifestações públicas contrárias ao atual governo.
“Não gostar do governo é uma coisa. [Desgostar dele, a ponto de] motivar a
população a se mobilizar contra ele é outra. O governo Temer, até o momento,
não parece correr esse risco. Não está havendo ainda grandes mobilizações das
pessoas contra ele. Se houver, é possível que não só o PSDB, mas outros
partidos, desembarquem da base de apoio”. (Agência Brasil)

Foto: (Beto Barata/PR) 

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