Manifestação faz enterro simbólico da ‘velha política’

Mais de 600 pessoas ocuparam a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para protestar contra a corrupção

Postado em: 27-03-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Manifestação faz enterro simbólico da ‘velha política’
Mais de 600 pessoas ocuparam a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para protestar contra a corrupção

A Esplanada dos Ministérios recebeu ontem 630 pessoas, nas contas da Polícia Militar (PM), para protestar contra a corrupção. Uma das principais pautas de reivindicação repudiava a lista fechada, que vem sendo defendida por vários políticos. No alto de um carro de som, a coordenadora do movimento Vem Pra Rua, Juliana Dias, discursou contra o modelo eleitoral proposto no Congresso, que considera “a coisa mais antidemocrática que existe”.

“Lista fechada é contra a democracia. É votar no partido e não mais nas pessoas e eles [os partidos] põem lá dentro quem eles quiserem. Essa é a principal pauta do dia”, explicou. No modelo, defendido pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, dentre outros parlamentares, os partidos definem previamente os nomes que estarão na disputa e o eleitor vota no partido e não mais no candidato.

Sob o sol forte, pessoas vestiram camisas amarelas e levaram faixas e cartazes contra a corrupção. Além do modelo eleitoral de lista fechada, os manifestantes também criticaram as tentativas de mudança das Dez Medidas contra a Corrupção. Uma faixa mencionava o senador Renan Calheiros, um dos que defendem alterações no projeto de iniciativa popular enviado ao Congresso: “Renan, abuso de autoridade é a autoridade abusar do dinheiro do povo”.

Continua após a publicidade

O projeto das Dez Medidas contra a Corrupção foi alterado para incluir a previsão de crimes de responsabilidade para punir juízes e membros do Ministério Público (MP) por abuso de autoridade. A tramitação do projeto acabou sendo suspensa pelo Supremo Tribunal Federal. Os manifestantes viram a tentativa como uma forma dos parlamentares intimidarem a Justiça e o Ministério Público, que os investigam.

O juiz federal Sérgio Moro e o coordenador da força-tarefa da Lava Jato no MP, Deltan Dallagnol, também foram lembrados. A manifestação, que começou às 10h e terminou ao meio-dia, demonstrou apoio à Operação Lava Jato e ao trabalho de Moro e Dallagnol. O ato terminou por volta do meio dia, com um enterro simbólico do que chamaram de “velha política”.

Lápides foram levadas para a frente do espelho d’água do Congresso Nacional, ao som de uma marcha fúnebre. Em cada uma das lápides, a foto de um político. Fernando Collor, Aécio Neves, Gleisi Hoffmann, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Edison Lobão, Jorge Viana e Romero Jucá foram lembrados, além do deputado Rodrigo Maia, Dilma Rousseff e Lula. Ao final, os manifestantes cantaram o hino nacional e se dispersaram.

O Detran fechou o trânsito na Esplanada durante toda a manhã. Os acessos para a Esplanada ocorreram pelas vias S2 e N2, atrás dos ministérios. Policiais fizeram a revista do público na altura da Catedral e no gramado em frente ao Congresso Nacional. Segundo a PM, nenhum material ilícito ou inapropriado para o evento foi encontrado.

Seiscentos policiais fizeram a segurança do ato, que não registrou confusão. De acordo com a assessoria da PM, o efetivo policial foi definido com base na estimativa de público do organizadores, que acabou ficando bem aquém do previsto – em torno de 100 mil pessoas.

Operação Lava Jato recebe apoio no Rio 

Em apoio à Operação Lava Jato da Polícia Federal e contra o fim do foro privilegiado e da impunidade, a orla de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, foi palco na manhã de ontem de uma manifestação que pedia também a renovação política. O ato foi promovido pelo Movimento Vem Pra Rua e reuniu centenas de pessoas.

A advogada Adriana Balthazar, porta-voz do movimento no estado do Rio de Janeiro, disse que o evento visa também a combater o voto em lista fechada, o aumento do fundo partidário, “que são as coisas que impediriam a renovação. O foro privilegiado manteria essa turma que está aí [no Congresso Nacional]”.

Segundo Adriana, o ato Chega de Impunidade repudia todas as manobras que os políticos corruptos fazem para se perpetuarem no poder ou não serem presos. “Hoje em dia, eu acho que a principal função até é não serem presos, é o foro privilegiado, o abuso de autoridade”.

Renovação

Formada em história da arte, a roteirista Márcia Abreu disse apoiar “incondicionalmente” a Operação Lava Jato e o juiz Sérgio Moro. “Vim principalmente por isso, contra o voto em lista. Isso é um desaforo. São políticos que já estão marcados para cair e estão querendo ter fôlego para se eleger em 2018. Não vão. É um acinte à população. É preciso renovar o Congresso”, disse. (ABr) 

Veja Também