China incentiva produção de soja na África e ameaça exportação goiana

Principal destino da produção agrícola do estado, a China incentiva produção de soja na Tanzânia para reduzir a dependência comercial com o país

Postado em: 01-06-2021 às 07h41
Por: Raphael Bezerra
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Principal destino da produção agrícola do estado, a China incentiva produção de soja na Tanzânia para reduzir a dependência comercial com o país | Foto: Reprodução

A produção e a exportação de soja pela Tanzânia incentivada pela China em um movimento de independência da produção americana e brasileira deve acender o alerta de produtores do grão em Goiás. Mais de 120 toneladas de soja vindos do continente africano chegaram à China na quinta-feira (27) de maio. O complexo soja (soja in natura, bagaços, farinhas e óleo de soja) domina as exportações goianas, representando mais de 35%, de acordo com dados da balança comercial de 2020. Para efeito de comparação, as carnes (de todos os tipos), que aparecem em segundo, não chegam a 20% da exportação.

A estabilidade no fornecimento de alimentos é uma preocupação da China há muitos anos. A pandemia intensificou uma série de alterações no fluxo comercial global.

Para o superintendente de Negócios Internacionais do Governo de Goiás, Edival Júnior, o fluxo comercial global vem apresentando uma tendência de alteração significativa que pode impactar a economia goiana. Ele aponta que as relações entre o Governo de Goiás e o principal parceiro econômico vem sendo estreitada para evitar possíveis perdas com a possibilidade de produção de soja no continente africano.

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“Estamos falando de um fluxo comercial global com tendência de alteração. Há sim que acender a luz e que vai exigir um jogo diplomático, uma aproximação maior com esse parceiro comercial que é tão relevante, por parte dos nossos governos. Aqui no Governo estadual nós mantemos uma relação muito próxima com a China e com outros países que são relevantes para a nossa pauta comercial e buscamos diversificar essa pauta com nossos programas de capacitação de exportação”, explica.

A China investe pesado na presença de empresas e da população em território brasileiro com o objetivo de ter maior independência e de expansão da influência do país em território estrangeiro. No continente africano, essa presença já é uma realidade há alguns anos dentro de um modelo de expansão com muita intensidade.

A proximidade do continente africano, em especial da Tanzânia, que possui ligação direta com o Oceano Índico, pode refletir em menores custos de operação, facilitando a parceria comercial entre os dois países. Além disso, há um forte investimento do governo chines em território africano, em uma busca por segurança alimentar dos mais de 1.3 bilhão, segundo estimativa de 2019, chineses.

“O custo logístico de uma eventual produção em massa de soja ou de outros grãos na África, mesmo que aconteça em um nível de produtividade menor, é uma questão que a tecnologia e a ciência vão fazer para se igualar. E hoje a  China é muito forte na aplicação da ciência, tecnologia e inovação. Há uma tendência que precisamos estar atento para fortalecer os laços com esses clientes que são tão relevantes para a nossa pauta comercial”, argumenta Edival.

Principal parceiro comercial

A China é o principal parceiro comercial e o maior destino das exportações goianas. 44% da produção exportada é direcionada à China, (sem contar Hong Kong e Taiwan). O segundo colocado é a Espanha, com apenas 4,41%. Países Baixos (3,37%), EUA (3,35%) e Coreia do Sul (2,8%) completam o ranking dos cinco primeiros.

Quanto às importações, a China também aparece como o principal parceiro. Ao todo, 14,17% do que Goiás importa vem da China, mas, nesse caso, a diferença para os outros países é menor: EUA (11,82%), Alemanha (11,46%), Suíça (6,18%) e Argentina (4,98%).

No plano nacional, a dependência do Brasil na China se repete. O Observatório de Complexidade Econômica, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), mostra que, em 2019, a China foi o principal país de destino das exportações brasileiras (27,6%) e também o principal país de origem das nossas importações (20,5%).

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