Emílio Odebrecht diz que esquema de caixa dois existe há mais de 30 anos

Emílio Odebrecht afirmou que a troca de favores entre os políticos e as empresas é algo “institucionalizado” no país há décadas

Postado em: 14-04-2017 às 12h00
Por: Toni Nascimento
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Emílio Odebrecht afirmou que a troca de favores entre os políticos e as empresas é algo “institucionalizado” no país há décadas

Em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), como parte do
acordo de delação premiada, o empresário Emílio Odebrecht, ex-presidente
executivo e atual presidente do conselho de administração da
empreiteira Odebrecht, disse que o esquema descoberto pela Operação Lava
Jato ocorre há mais de 30 anos na relação da construtora com a classe
política.

Ao descrever aos procuradores da força-tarefa da Lava
Jato como se dava a relação dele com a classe política, Emílio Odebrecht
afirmou que a troca de favores entre os políticos e as empresas é algo
“institucionalizado” no país há décadas.

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“O que nós temos no Brasil não é um negócio de cinco ou dez anos.
Estamos falando de 30 anos. [Me referi] ao sistema de fazer política.
Tudo que está acontecendo é um negócio institucionalizado. Uma coisa
normal, em função de todos esses números de partidos [envolvidos]”,
disse Odebrecht.

Patriarca da maior construtora do país, Emílio
Odebrecht disse ainda que, apesar de ter deixado a presidência executiva
do grupo em 2002, cuidava pessoalmente das demandas da empresa com
presidentes.

“Desde 2002, vinha lutando para passar [o relacionamento] com o
[presidente da] Venezuela, Hugo Chávez, com o José Eduardo Santos,
presidente de Angola, e o [ex-presidente] Lula para Pedro Novis [atual
presidente-executivo do grupo] e para o Marcelo [Odebrecht, que presidia
o grupo até ser preso na Lava Jato]. Com essas pessoas com quem eu, não
tendo tido a oportunidade de poder transferir a relação, uns não
aceitavam, outros pelo convívio de 35 anos, não quiseram, continuei
dando apoio a essas pessoas”.

Em seu depoimento, Emílio Odebrecht
também criticou a imprensa que, segundo ele, tem agido com “demagogia”.
“Eles [partidos] brigavam era por cargos? Todo mundo sabia que não era.
Era por orçamentos gordos. Ali que se colocava os partidos e seus
mandatários com a finalidade de arrecadar recursos”, disse.

“Há
30 anos que se faz isso e o que me surpreende é quando eu vejo todos
esses poderes, a imprensa, tudo como se isso fosse uma surpresa. Me
incomoda isso. Não exime em nada a nossa responsabilidade, a nossa
benevolência, nada do que nós praticamos, mas passamos a olhar isso como
normalidade, porque 30 anos é difícil as coisas não passarem a serem
normais”, disse Emílio Odebrecht na delação premiada.

“Concorrência de verdade”

Diante
da relação promíscua com o poder público no Brasil, segundo ele, era
praxe dentro da organização que os diretores tivessem experiência em
subsidiárias da companhia no exterior para conviverem com “concorrência
de verdade”. “Todos os companheiros da organização já passaram pelo
exterior para ter uma visão de mundo. Conviver com concorrência efetiva,
real. Disputa baseado em produtividade. Porque nos outros países,
principalmente no Brasil, não se fazia muita engenharia”, disse.

Ao
lado do depoimento de mais 76 executivos e ex-executivos das empresas
Odebrecht e Braskem, o depoimento de Emilio Odebrecht serviu de base
para a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson
Fachin autorizar a abertura de investigação contra oito ministros do
governo federal, três governadores, 24 senadores e 39 deputados
federais. 

O depoimento de Emilio Odebrecht ao Ministério Público
Federal ocorreu no dia 13 de dezembro do ano passado, na sede da
Procuradoria-Geral da República, em Brasília.

(Agência Brasil)

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