Lula diz a Moro que não há provas contra ele e nega conhecimento de propina

O ex-presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, foi indagado porque procurou o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque

Postado em: 11-05-2017 às 08h00
Por: Renato
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O ex-presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, foi indagado porque procurou o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em
depoimento ontem (10) ao juiz Sérgio Moro que não há provas de que ele tenha
cometido algum crime, negou ter conhecimento de pagamento de propina da
empreiteira OAS a funcionários da Petrobras e ao PT e também de ter orientado o
presidente da construtora, Léo Pinheiro, a destruir eventuais provas do esquema
de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.

Ao ser perguntado por Moro se sabia que a OAS repassava
propina por meio de uma “conta-geral” gerida pelo então tesoureiro do PT, João
Vaccari Neto, Lula respondeu:  “Se [eu] tivesse [conhecimento], eles
seriam presos bem antes”.

O ex-presidente foi indagado porque procurou o ex-diretor de
Serviços da Petrobras, Renato Duque. Irritado, Lula respondeu que queria se
certificar que o executivo não tinha contas no exterior para receber recursos
de propina, conforme informações divulgadas na época.

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“Acabei de falar [porque procurei Duque especificamente]. A
sua secretária deve ter escrito aí. Eu disse que tinha muito boato de que
estava sendo roubado o dinheiro, que o Duque tinha conta no exterior. E eu
falei para o Vaccari: ‘Se você conhece o Duque, eu queria conversar com ele
[para falar]: Duque, é o seguinte: você tem conta no exterior? Não tenho.
Acabou, para mim era o que interessava”, afirmou, acrescentando que Duque foi o
único procurado por ter sido indicado pelo PT.

No depoimento, Lula afirmou que não existem provas, como
escritura ou outros documentos em seu nome que certifiquem que o triplex no
Condomínio Solaris, no Guarujá (SP) seria dele. “Se eu cometi um crime, prove
que eu cometi um crime. Apresente à sociedade e o Lula será punido como
qualquer cidadão é punido. Mas, pelo amor de Deus, apresentem uma prova. Chega
de diz-que-diz.”

Lula é réu na ação em que é acusado de ter recebido R$ 3,7
milhões em propina por conta de três contratos entre a OAS e a Petrobras. O
Ministério Público Federal alega que os valores foram repassados a Lula por
meio da reforma de um apartamento no Guarujá e do pagamento do armazenamento de
bens de Lula, como presentes recebidos no período em que era presidente. O
ex-presidente é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Destruição de provas

Em delação premiada, o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro,
afirmou que Lula o procurou em 2014 para saber se a empreiteira tinha registros
documentais do pagamento de propinas. Segundo Pinheiro, o ex-presidente pediu
para que as provas fossem destruídas.

Lula nega tal pedido. “Encontrei o Léo Pinheiro mais de uma
vez, e jamais disse o que ele falou”, respondeu o ex-presidente. Segundo ele,
naquela época de crise econômica, empresários o procuravam para pedir
orientações sobre o que fazer para contornar as dificuldades. “Inclusive o
Léo”, completou.

O ex-presidente repetiu a afirmação de que tratou sobre o
triplex com Léo Pinheiro apenas em duas ocasiões: em 2013, em uma reunião no
Instituto Lula, e quando foi visitar o prédio, em 2014. Segundo ele, nos demais
encontros o assunto não era discutido.

Ministério Público

Após as indagações de Moro, os procuradores do Ministério
Público Federal fizeram seus questionamentos. O MPF apresentou uma fotografia
de dois contêineres com as inscrições “sítio” e “praia”. Segundo os
procuradores, esses contêineres tinha parte do acervo presidencial, que estava
no Palácio da Alvorada.

“Quem pode responder o que tava dentro dessa caixa é quem
foi investigar, é quem abriu as caixas. Eu nunca abri uma caixa, nunca visitei
o acervo, não sei o que tem dentro. […] O fato de estar escrito ‘praia’ é
porque eu ia à praia quando era presidente. Não quer dizer nada”, respondeu
Lula.

O MPF também apresentou um documento que supostamente trata
do contrato entre a OAS e a Granero para que esta guardasse o acervo
presidencial. De acordo com os procuradores, os objetos guardados eram bens de
escritório pertencentes à OAS.

O representante do MPF perguntou o documento não menciona o
acervo presidencial. “Pelo que eu já ouvi em depoimentos aqui, a origem desse
espaço era para a OAS guardar as coisas dela”, respondeu o ex-presidente.

Alegações finais

Nas alegações finais, o ex-presidente criticou a imprensa,
os vazamentos de informação aos veículos de informação e disse que a denúncia
contra ele foi baseiada em notícias jornalísticas que levaram os procuradores a
produzirem “uma apresentação de Power Point” mentirosa e com uma tese política.

“Eu conheço os vazamentos, eu sei dos vazamentos. É como se
o Lula tivesse, pela imprensa, pelo Ministério Público, sendo procurado. […] Se
adotou a política de primeiro a imprensa criminalizar”, disse.

Moro rebateu Lula e disse que a imprensa não vai influenciar
seu julgamento. “Essa acusação é pública.  Não existem vazamentos em
relação a essas ações penais. O senhor pode ter certeza de que o processo será
julgado com base nas provas e na lei e serão levadas em consideração essas
declarações que o senhor fez a este respeito. Este não é o foro próprio para o
senhor reclamar do tratamento da imprensa. O juiz não tem relação com o que a
imprensa publica.” (Agência Brasil) 

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