Senadores acusam fabricante de ivermectina de lucrar à custa de vidas

Em suas redes sociais, o vice-presidente da Comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-RR), classificou o depoimento como “um dos mais tristes”.

Postado em: 11-08-2021 às 14h05
Por: Luan Monteiro
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Em suas redes sociais, o vice-presidente da Comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-RR), classificou o depoimento como “um dos mais tristes” | Foto: Reprodução

Senadores acusaram a empresa farmacêutica Vitamedic de lucrar milhões de reais com a venda de ivermectina, à custa de milhares de vidas perdidas para a covid-19, na reunião da CPI da Pandemia desta quarta-feira (11/08). O depoente do dia foi Jailton Batista, diretor-executivo da empresa.

Pressionado pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), Jailton alegou não dispor de todos os números de vendas e faturamento da empresa antes e depois da pandemia. Admitiu, porém, que a venda da ivermectina — medicamento vermífugo e antiparasitário cuja eficácia contra a covid nunca foi cientificamente comprovada — saltou de 2 milhões de unidades de quatro comprimidos em 2019 para 62 milhões no ano passado.

A ivermectina foi apregoada em várias ocasiões pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores como parte do chamado “kit covid” para o suposto “tratamento precoce” da doença. No Brasil, a Vitamedic é um dos principais produtores do medicamento, também vendido por outros laboratórios, como Abbott, Legrand e Neo Química.

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Em seu Twitter, o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-RR), classificou o depoimento como “um dos mais tristes”. “O que estamos acompanhando hoje aqui na CPI, é um dos depoimentos mais tristes desta comissão. Foi priorizado o lucro em detrimento da vida! Milhares morreram para que alguns ganhassem dinheiro. Isso foi feito deliberadamente. Queremos justiça!”

Vídeos

A pedido de Renan Calheiros, foram exibidos diversos vídeos em que Jair Bolsonaro (Sem partido) promove a ivermectina. Jailton Batista se disse, porém, incapaz de avaliar o impacto dessas declarações sobre a demanda pelo remédio.

“Antes que houvesse alguns pronunciamentos, desde a eclosão da pandemia, quando os primeiros estudos in vitro apontaram que a ivermectina tinha alguma ação, isso desencadeou o interesse pelo produto. Ele passou a ter visibilidade maior. Mas não temos como medir o que impactou a fala do presidente no nosso negócio”, afirmou.

As respostas de Batista foram consideradas evasivas pelo relator. “Nós estamos diante de um dos mais tristes depoimentos desta Comissão Parlamentar de Inquérito”, disse Renan.

Presidente da empresa

Diversos senadores, entre eles o relator Renan Calheiros e Otto Alencar (PSD-BA), defenderam a convocação do dono da Vitamedic, José Alves Filho, para prestar mais esclarecimentos. O requerimento original previa a presença do empresário nesta quarta-feira. Mas em ofício enviado à comissão, Alves argumentou que, como acionista da Vitamedic, poderia responder apenas sobre “investimentos fabris e novas aquisições”. Ele sugeriu que a CPI tomasse o depoimento de Jailton Batista, a quem caberia “a administração das rotinas diárias” da empresa.

No depoimento, Jailton reconheceu que a Unialfa, outra empresa do grupo de José Alves, patrocinou um manifesto da Associação Médicos pela Vida, defensora do “tratamento precoce”.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), exaltou-se ao lembrar que a ivermectina continuou sendo recomendada no auge da crise de oxigênio que matou centenas de pacientes de covid-19 em Manaus no início do ano. “Esse manifesto é depois da morte de mais de 200 pessoas por dia na cidade de Manaus. E nem isso sensibilizou o laboratório a perceber que era uma cilada. Não. Visou lucro, mancomunado com alguns médicos. Se isso não for crime, não tem mais nenhum crime para a gente investigar aqui nesta CPI”, disse Aziz.

Jailton Batista defendeu a empresa alegando que ela não tinha como interferir no conteúdo do informe publicitário elaborado pela Associação Médicos pela Vida.

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