“Não me igualo àqueles que cometeram falcatruas”

Em entrevista à imprensa, no Palácio Pedro Ludovico Teixeira, o governador fez uma longa explanação

Postado em: 17-05-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Em entrevista à imprensa, no Palácio Pedro Ludovico Teixeira, o governador fez uma longa explanação

VENCESLAU PIMENTEL

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O governador Marconi Perillo (PSDB) rebateu ontem as acusações que constam de delações de ex-executivos da empreiteira Odebrecht, homologadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que associam o seu nome a casos de corrupção, propina e recebimento de vantagens pessoais. “Não me igualo àqueles que cometem ou que cometeram irregularidades, falcatruas. Minha história e meu comportamento divergem frontalmente. Construí minha trajetória política com muita luta, com destemor, forjado no debate e o no trabalho”, disse.

Em entrevista à imprensa, no Palácio Pedro Ludovico Teixeira, o governador fez uma longa explanação, intercalada com a apresentação de 11 vídeos contendo depoimentos dos ex-executivos Alexandre José Lopes Barradas, Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis, João Antônio Pacífico Ferreira e Ricardo Roth Ferraz.

Os quatro disseram ter repassado R$ 8 milhões para a campanha eleitoral do governador, nas campanhas de 2010 e 2014, sendo que parte do montante não teria sido declarado na prestação de contas à Justiça Eleitoral. “As injustas citações ao meu nome se restringem à suposta prática de caixa 2, que absolutamente também não aconteceram”, assegurou.

Doação

Pela doação, a Odebrecht garantiria a execução de obras de saneamento básico no Estado, de acordo com os ex-executivos. Para Marconi, os vídeos mostram claramente, além de divergências de versões dos depoimentos sobre valores, que não houve negociação para beneficiar a empreiteira em contratos futuros com o governo. “As versões apresentadas pelos ex-executivos não batem, e não batem justamente porque são acusações que não têm amparo da verdade”, disse.

Tanto em 2010 como em 2014 – quando disse ter recebido como doação R$ 300 mil e R$ 2,2 milhões, respectivamente – Marconi explicou que o seu comitê financeiro de campanha procurou empresas e pessoas para doação porque elas tinham condições econômicas para tal e apostavam no desenvolvimento de Goiás.

Especificamente sobre a Odebrecht, salientou que a mesma sempre fez doações de campanha, e era natural que entre tantas empresas que procurou para contribuir com a campanha também procurasse a empreiteira. Esclareceu que em nenhuma ocasião em que esteve com executivos tratou de valores de doações. “Sempre me reservei, quando tratei das doações, a apresentar nosso pedido. E isso, inclusive, fica claro no conteúdo das colaborações dos ex-executivos da empresa”, discorreu durante a sua exposição.

Ao indagar os motivos de empresas doarem para campanhas eleitorais, ele mesmo tratou de explicar: “A resposta é que sempre fizemos governos realizadores, ousados, com grandes investimentos em todas as áreas”, frisou, salientando que esse fato, obviamente, gera oportunidades de trabalho para empresas que detém capacidade técnica de disputarem projetos, dentro da legislação vigente.

Quanto ao interesse da empreiteira na subdelegação de serviços da Saneago, no entorno do Distrito Federal, os vídeos mostram, de acordo com o governador, que não houve gesto de favorecimento a qualquer empresa e nem mesmo movimento de contrapartida, como deixou claro os depoentes. De outra parte, informou que a Saneago declinou proposta de subdelegar seus serviços na região. 


“Não houve pedido de R$ 50 milhões” 

Marconi classificou como descabida a denúncia de que teria pedido R$ 50 milhões, a título de doação para a campanha eleitoral de 2014, conforme delação do ex-executivo da Odebrechet Fernando Reis. O pedido teria acontecido durante almoço com executivos da empreiteira, quando teriam sido ressaltadas obras da mesma em Goiás. “É um fato absolutamente falso, que não encontra qualquer fundamento na lógica ou na verdade”, pontuou.

Ele disse que não teria como pleitear um valor alto de doação, já que a previsão de gastos de campanha foi registrado na Justiça Eleitoral em R$ 30 milhões. Somadas, as campanhas majoritárias da coligação totalizaram R$ 34 milhões. “É uma conversa sem pé e sem cabeça”, classificou. “Não tem nem como falar de um assunto que não foi tratado”, completou.

“Ora, se não fosse um assunto tão sério, seria risível pensar que eu teria sugerido uma doação no montante de 50 milhões de reais para uma única empresa. No máximo posso ter comentado em alguma conversa, o valor global do que imaginava gastar no conjunto da campanha eleitoral de 2014, considerando todas as candidaturas”, disse.

O governador também afirmou não tem o menor cabimento acreditar que ele poderia pedir valor de tal monta a uma única empresa, até porque não teria amparo legal, visto que uma campanha não poderia ser financiada por um único doador. Esse valor, segundo ele, é para campanha presidencial.

 

Contrapartida

Como forma de reafirmar que não houve contrapartida de empresas doadoras, Marconi disse que a verdade dos fatos que emerge, inclusive, do conteúdo dos depoimentos, é que as doações não estavam vinculadas a nenhum tipo de negócio. “E não teria como ser diferente, porque de fato não houve qualquer contrapartida”.

“Quando procuramos a Odebrecht, afirmamos, evidentemente, que gostaríamos de tê-los investindo em Goiás, ampliando seus investimentos na área de etanol, por exemplo, concluindo o novo aeroporto de Goiânia, etc”, frisou. Segundo o governador, até então não se tinha nenhuma notícia sobre o envolvimento do grupo nessas denúncias. “Tratava-se de uma empresa sólida, com incontestável capacidade técnica, inclusive reconhecida internacionalmente”, sustentou.

Mais que isso, ele fez questão de ressaltar que nenhuma das denúncias de corrupção, desvios, fraudes e pagamento de propinas envolvendo a Odebrecht se estende ao Governo de Goiás. Lembrou que a empreiteira não tem nenhum contrato de obras celebrado com a administração estadual, e que em seu governo anterior, foram investidos mais de 6 bilhões em obras, e a Odebrecht não participou de concorrências públicas para obras civis e de infraestrutura abertas pelo Governo de Goiás. “E olha que foram licitações de monta, disputadas por empresas de 14 estados diferentes”, detalhou.

Especificamente sobre a subdelegação na Saneago, a cargo da Odebrecht Ambiental, em Rio Verde, Aparecida de Goiânia, Trindade e Jataí, a licitação ocorreu em 2009, a pedido desses municípios. Na época, o governador era Alcides Rodrigues (PRP). Se a Saneago não fizesse esses procedimento, ele acredita que os municípios fariam por conta própria, deixando a companhia de abastecimento no prejuízo.

VLT

Em relação à implantação do VLT, em Goiânia, que também seria de interesse da Odebrecht em Goiás, também não houve qualquer ação de favorecimento por parte do Governo de Goiás, garante Marconi. “E também nesse caso, os próprios ex-executivos da empresas foram claros em dizer que não houve favorecimento ou contrapartida”.

Ele explicou que o VLT é uma Parceria Pública Privada proposta por um grupo de empresas, que inclui algumas empresas goianas, que a busca por recursos caberia a essas empresas.

A exemplo do que ocorreu na Operação Monte Carlo, quando teve também o seu nome ligado a supostas irregularidades, Marconi Perillo diz que mais uma vez surgem ilações sem amparo na realidade envolvendo o seu nome. “Em relação a nós, mais uma vez, são ilações sem amparo na realidade, que me expõem de forma injusta, tentando macular nosso trabalho”.

Sobre a divulgação das delações, o governador avaliou que há uma superexposição de setores do Judiciário, Ministério Público e da própria imprensa. “Acho que querem nivelar por baixo toda a classe política, aniquilar com a classe política”, disse. “E eu não sei quem substituiria pessoas experientes na política num momento tão grave pelo qual passa o Brasil”.

Em todo caso, ao avaliar a Operação lava Jato, disse que o Brasil passa por um momento importante e pode sair maior ao final das investigações. Ele classificou a operação como extremamente relevante e entende que o Brasil tem de ser passado a limpo. “Mas é preciso ter responsabilidade com as denúncias e com a difusão delas. É bom lembrarmos, e isso já ficou claro em inúmeros pedidos de arquivamento, que nem tudo que um delator, sob pressão, diz, é verdade”, frisou.

“É impressionante como é que todo mundo, hoje, está dando valor a delatores. No passado, a palavra delator era algo inominável, quem delatou Tiradentes e outros nomes da História. Hoje parece que eles são santos, e a classe políticas e os outros são os demônios”, afirmou.

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