“Os próprios indígenas já faziam mineração”, afirma Ricardo Salles ao defender a prática de garimpo

O ex-ministro defende que a ausência de debate a respeito do tema incentiva o garimpo ilegal

Postado em: 30-08-2021 às 18h02
Por: Giovana Andrade
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O ex-ministro defende que a ausência de debate a respeito do tema incentiva o garimpo ilegal. | Foto: Reprodução

O ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em entrevista concedida ao UOL e publicada nesta segunda-feira (30/08), se esquivou da responsabilidade pela ineficiência do programa Floresta+, culpando a ONU pela paralisação do mesmo.

A iniciativa previa pagamento a moradores da região por serviços florestais e, na entrevista, Salles voltou a se posicionar contra as organizações não governamentais. “Se o projeto for pretexto para transferir dinheiro para ONGs e ativismo político, não tem valor”, disse. “Nós transformamos um dinheiro para ir direto para o bolso do cidadão, pagamento por serviço ambiental de verdade. Essa é a grande diferença”, completou.

Com orçamento de meio bilhão de reais, advindo de doações internacionais, o Floresta+ faz parte da estratégia de combate ao desmatamento na Amazônia, mas ainda não saiu do papel.

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“Quem estrutura o programa e paga aos trabalhadores é o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), e eles é que não estão fazendo”, justificou o ex-ministro. Segundo ele, que se diz frustrado com a atual situação, a paralisação demonstra a ineficiência do órgão. “Com toda a estrutura que eles têm, não conseguiram por de pé”.

Já a respeito da dificuldade em combater e reduzir o desmatamento, Salles culpou, além da pandemia e de restrições orçamentárias, o não-alinhamento de polícias militares e estaduais, que segundo ele não deram o suporte necessário para as operações.

“Quando as polícias militares não estavam entrando para dar o suporte armado para as operações, o governo precisou que as Forças Armadas e a Força Nacional entrassem suprindo essa falta. O Ibama e o ICMBio têm 50% de déficit de funcionários. Herdamos de administração anterior, ao contrário da narrativa mentirosa que diz o contrário”, defendeu.

No entanto, a relação de Salles com madeireiros já foi alvo de questionamentos. Acusado de se reunir com a classe e defender seus interesses junto ao ministério, ele afirma que sua posição foi exclusivamente a de ouvir parlamentares e membros do governo, em uma reunião institucional. “Essa história de dizer que nós tentamos interferir [a favor de madeireiros] é ridícula”, declarou.

Outro ponto polêmico sobre a gestão do então ministro se refere à defesa da prática de mineração em terras indígenas. Segundo ele, a ausência de debate a respeito do tema incentiva o garimpo ilegal. “Os próprios indígenas já faziam mineração, muito antes do presidente Bolsonaro ser eleito, porque o grau de atratividade econômica é elevado”, argumentou.

“Não adianta fingir que as pessoas não vão fazer determinada atividade se elas terão muito lucro com isso. A melhor forma de lidar é criar um procedimento que preserve o meio ambiente, permita o acesso a essa riqueza e melhore a prosperidade da região”.

Ele se defendeu ainda das acusações que envolvem o aumento de seu patrimônio, afirmando que os pagamentos investigados pelo Ministério Público não possuem nenhuma irregularidade, e que a razão dos mesmos não é matéria de interesse público.

“Esse exercício de ficar questionando coisas que são formais, dentro das regras de advocacia, é algo totalmente abusivo”, concluiu.

Embora o ex-ministro busque culpar outros órgãos por responsabilidades que o competiam quando à frente do Ministério do Meio Ambiente, e se defenda das acusações sofridas na época, Salles não pode apagar que, durante sua gestão, no ano de 2020, o número de registros de incêndios florestais foi o maior dos últimos dez anos, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

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