Polarização marca atos de 7 de setembro em Goiânia

De um lado, apoiadores do presidente fizeram motocarreata, de outro, manifestantes se reuniram no centro da cidade, no 27º Grito dos Excluídos

Postado em: 08-09-2021 às 08h04
Por: Carlos Nathan Sampaio
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De um lado, apoiadores do presidente fizeram motocarreata, de outro, manifestantes se reuniram no centro da cidade, no 27º Grito dos Excluídos | Foto: Reprodução

As movimentações começaram cedo ontem, terça-feira, 7, feriado da Independência do Brasil. Tanto a nível nacional, em Brasília e outras cidades, quanto em Goiânia, grupos se organizaram e se reuniram para se manifestar contra e a favor do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido). Na Praça dos Bandeirantes, no Setor Central da capital goiana, entidades que compõem o Fórum Goiano em Defesa dos Direitos, da Democracia e Soberania e entidades eclesiásticas promoveram o dia do Grito dos Excluídos em Goiânia, que ocorre todos anos nesta data, neste ano também discursaram contra o governo federal. Já a favor do chefe do Executivo nacional, cidadãos e entidades conservadoras se reuniram em frente ao Autódromo Internacional de Goiânia Ayrton Senna, para uma carreata que seguiu com destino ao ginásio de esportes do Setor Jardim Guanabara.

Na manifestação do centro de Goiânia, o grupo, que reuniu cerca de 2 mil pessoas, percorreu a Avenida Goiás, contornando a Praça Cívica, no sentido do trânsito, até a Rua 10, finalizando a caminhada até a Catedral Metropolitana de Goiânia. Dentre as lideranças presentes estavam o deputado federal Rubens Otoni (PT) e a deputada estadual Delegada Adriana Accorsi (PT).

Otoni lembrou que a manifestação do Grito dos Excluídos já acontece há 27 anos e, desta vez, pede ações em defesa da vida das pessoas. “Não estamos aqui só por causa do Bolsonaro, é uma manifestação em defesa da vida, garantindo vacina, emprego e cidadania para todas as pessoas, defendendo nossa democracia. Com isso, o grito ‘Fora Bolsonaro’, se torna presente”, disse o deputado, completando que o “barulho” feito por Bolsonaro, sobre as últimas falas polêmicas é “fraqueza”. “É o barulho de alguém que está sangrando em praça pública, um barulho de desespero, vendo o presidente perder cada vez mais força”, afirmou.

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Em relação a manifestação de apoio a Bolsonaro, o número de pessoas reunidas deve ter ficado entre 10 e 15 mil. Antes da saída dos veículos na frente do autódromo, a reportagem contabilizou mais de 200 motos e mais de 300 automóveis, formando uma fila pela GO-020 de, pelo menos, 8 km.

Um dos entrevistados pelo O Hoje, o bancário Jorge Furtado, de 47 anos, afirmou que sua presença no local era mais do que “apoio ao presidente”. “Eu e as pessoas que eu conheço que estão aqui queremos um Brasil melhor e muitos de nós estamos sentindo que a melhora está acontecendo, mas a mídia e o STF não ajudam o governo”, afirmou ele entre outras palavras.

A vereadora por Goiânia, Gabriel Rodart (DC), que foi pessoalmente a Brasília acompanhar as manifestações na capital do país, também falou à reportagem. Para ela, a pauta principal do movimento foi a “liberdade”. “No dia 7 de setembro comemoramos o Dia Declaração de Independência do Brasil do Império Português. É uma data importante na nossa história. Temos vivido dias sombrios onde governadores e prefeitos agiram como verdadeiros ditadores por todo o país ao longo da pandemia. Além desses tristes episódios, temos visto muita injustiça, verdadeiros atos de censura contra jornalistas, políticos e cidadãos de bem, por parte de alguns integrantes do Poder Judiciário, sem o devido processo legal, acesso aos autos, enfim. Fomos às ruas pelo basta”, garantiu a parlamentar.

“Essas manifestações são a ferramenta que temos. Todo poder emana de Deus. E nossa Constituição declara que todo poder emana do povo. O povo tem padecido com restrições e censuras, precisamos mostrar nossa voz”, concluiu Rodart.

Ambas as manifestações ocorreram e terminaram de forma pacífica, sem grandes problemas. Nas duas houve registro na “quebra” dos protocolos de saúde, para evitar o amplo contágio de Covid-19, já que na manifestação do Grito do Excluídos, muitas pessoas não estavam respeitando o distanciamento social, assim como na manifestação pró-Bolsonaro em que a maioria das pessoas estavam sem máscaras, porém com pouca aglomeração, já que o ato era uma carreata.

Pelo Brasil

As manifestações do Grito dos Excluídos foram registradas em, pelo menos, 200 cidades do Brasil e do exterior. Realizadas desde 1995, em contraponto às manifestações oficiais que marcam o feriado da Independência, os atos defenderam, em geral, a saída de Bolsonaro do poder. Já as manifestações a favor do presidente aconteceram em, pelo menos, 70 cidades. Registraram o maior número de pessoas os atos que ocorreram em Brasília, em frente ao Congresso Nacional e na Avenida Paulista, em São Paulo.

Presidente convoca reunião do Conselho da República

Durante o seu discurso em Brasília, Bolsonaro afirmou que iria participar de uma reunião do Conselho da República já nesta quarta-feira (8). A lei não estabelece de forma clara o funcionamento do conselho, mas ele não tem o poder decisório. O presidente pode se utilizar e convocar o conselho para discutir temas como intervenção federal, estado de Sítio e Defesa, além de questões que maculem a estabilidade das instituições do país.

O advogado Leon Satafle, especialista em Direito Público e Direito Eleitoral, explica que o órgão é formado pelo presidente da República,  vice-presidente, os presidentes da Câmara e do Senado, além dos líderes da maioria e da minoria das duas casas legislativas. Também está prevista a presença do ministro da Justiça, além de seis cidadãos com mais de 35 anos, sendo que Presidência, Câmara e Senado indicam duas pessoas cada. “Serve para que o presidente possa ter a visão de cada um desses atores. O poder que esse conselho tem é de requisitar informações de qualquer entidade pública ou que possam subsidiar o debate que será tratado nas reuniões” , explica.

Entre os membros do conselho está o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) Renan Calheiros (MDB). Ele é um dos principais antagonistas de Bolsonaro devido a atuação na CPI e reagiu ao discurso do presidente na manifestação.

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