Presidente da Enel Goiás aposta em “uso inteligente” da energia

Em entrevista exclusiva à reportagem O Hoje, José Nunes de Almeida destacou que pequenas economias são fundamentais no enfrentamento à escassez

Postado em: 17-09-2021 às 08h29
Por: Felipe Cardoso
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Em entrevista exclusiva à reportagem O Hoje, José Nunes de Almeida destacou que pequenas economias são fundamentais no enfrentamento à escassez | Foto: Reprodução

Recentemente conduzido ao posto de diretor-presidente da Enel Distribuição Goiás,  José Nunes de Almeida Neto chega à empresa com grandes desafios pela frente. O trabalho não será fácil, como ele mesmo reconhece, especialmente em um período onde a escassez hídrica assola os reservatórios e bacias brasileiras e ameaça, consequentemente, o abastecimento de estados e municípios. 

Em entrevista exclusiva à reportagem do jornal O Hoje, Nunes comentou o ‘alerta vermelho’ que deve perdurar, segundo ele, no mínimo, até novembro de 2021. “Em uma crise hidro-energética como essa, todas as distribuidoras são impactadas igualmente. Por isso precisamos insistir no consumo inteligente. As pequenas economias são fundamentais para nos ajudar a atravessar esse momento de crise. A escassez hídrica impacta muito mais do que se imagina, em determinados locais impactam, inclusive, o fornecimento de água para consumo humano”, explicou o diretor. 

Abraçar o ‘consumo inteligente’ pode ser mais fácil do que se imagina. Para ilustrar a situação, Nunes explica: “Se você tem um cômodo na sua casa que não está sendo utilizado, apague a luz; tenha o hábito de desligar o ar condicionado quando precisar sair por algumas horas; são hábitos simples”. Para ele, a conscientização coletiva é extremamente importante nesse momento, haja vista que o País conta com uma matriz energética predominantemente hidroelétrica. “Ou seja, num momento de escassez hídrica temos também uma escassez de energia. Hoje a realidade é que estamos com as nossas bacias e reservatórios com um nível muito baixo”, pontuou. 

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O desabastecimento dessas unidades contribui especialmente para uma bandeira tarifária mais alta e, consequentemente, com um peso ainda maior para o bolso do usuário. “Temos consciência que a bandeira tarifária é pesada para o consumidor, a crise está instalada no Brasil todo. Nenhum subsistema está com sobra de energia. Todos estão igualmente com escassez hídrica”, acrescentou o gestor.

Questionado se há uma previsão desse problema ser contornado, Nunes disparou: “É muito cedo pra gente sinalizar que vai ser uma crise de poucos meses. Eu diria que só será possível ter uma avaliação mais concreta no final de novembro, mas até lá é realmente momento de escassez”. E arrematou: “Por isso falo tanto sobre o consumo inteligente. O que não é sinônimo de se privar da energia e sim de se ter maior atenção em relação ao desperdício”. 

Reputação comprometida?

José Nunes também foi questionado sobre  a reputação da empresa no Estado, bem como sobre os projetos previstos pela nova gestão. Sobre o primeiro assunto, ele lembrou que esteve em Goiás nos primeiros 100 dias após a privatização da então distribuidora de energia no estado, a Celg-D. 

“Naquela época já comentávamos sobre a pressa da população pelos resultados. Não só para a Enel, mas para qualquer outro serviço de grande capilaridade como a energia elétrica, não há varinha de condão que traga qualidade do serviço de uma hora para a outra. Mas estamos trabalhando, hoje temos mais de 14 mil pessoas nas diversas frentes do estado em prol do bom resultado”, argumentou. 

Sobre a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Enel, na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), bem como a instalação de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) na Câmara Municipal de Goiânia diante da suposta má prestação de serviço por parte da empresa, o diretor-presidente considerou que a situação está em fase de “superação”.

“Os números apontam para um avanço na qualidade do serviço em padrão de rede e equipamentos de medição. Isso desmistifica algumas coisas, como, por exemplo, a questão de um medidor marcar mais que o outro. Um medidor eletromecânico de décadas nada mais é  do que uma engrenagem e a tendência comum é que com o tempo ele passe a marcar menos. A partir do momento em que colocamos um equipamento digital, evidentemente, ele marca o correto”, destacou. 

Para embasar a “reviravolta”, ele também citou pesquisas de satisfação realizadas periodicamente. “Temos um déficit em relação à percepção do consumidor, mas é algo que tem evoluído. Entre as últimas duas pesquisas feitas em um intervalo de um ano, em comunicação com o consumidor tivemos uma melhoria de 30%, o que é significante para a gente. Os números mostram também que somos uma das poucas empresas que diante da pandemia não apresentou queda na percepção de qualidade. Em paralelo, a grande maioria caiu”, enfatizou. 

As pesquisas, segundo ele, também revelam uma crescente no que diz respeito à satisfação do cliente enquanto usuário do serviço. “Nosso índice de satisfação com a qualidade percebida pelo consumidor é de 60.5%. Essa percepção do cliente para nós é muito importante. Precisamos, evidentemente, avançar, mas já temos mais que a maioria da população satisfeita”. 

Além disso, Nunes argumenta que há resultados significativos no que diz respeito à prestação do serviço. Ele ressalta que o parâmetro real da qualidade do serviço de energia é representado por duas importantes siglas: DEC e FEC, o primeiro representa a duração das interrupções, enquanto o segundo mostra a frequência com que elas acontecem.

“Ao avaliar esses indicadores nos últimos anos, melhoramos 50%. São indicadores auditados mensalmente e informados ao órgão regulador que é a ANEEL [Agência Nacional de Energia Elétrica]. Isso nos conforta de que estamos no caminho certo”. 

Interior goiano

Outro ponto destacado pelo dirigente diz respeito ao trabalho desempenhado em favor do interior do estado. “Goiás, pela sua área eletrogeográfica e capilaridade da distribuição de energia elétrica representa um desafio enorme. Como tal, requer grandes investimentos. Nos últimos quatro anos foram aplicados mais de R$ 4 bilhões em investimentos. Isso tem nos assegurado a melhoria que temos visto nos últimos tempos, como a questão do DEC/FEC, por exemplo”.  

“No interior já temos sistemas de religamento automático. Trata-se de um sistema inteligente na rede que, ao perceber o defeito, promove a queda da fase. Ao invés de ter que aguardar a equipe se deslocar, automaticamente esse sistema religa depois de certo tempo. Muitas vezes são problemas transitórios que acabam sendo resolvidos através desse processo. Já foram instalados mais de 9 mil aparelhos desse tipo apenas nesse último ano”, assegurou, por fim, o presidente.

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