Segunda-feira, 08 de julho de 2024

Uma semana que deve balançar o país mais ainda

É possível ficar calado com a declaração do empresário Joesley Batista, um dos donos da J&F, de que o presidente Michel Temer

Postado em: 19-06-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa

É possível ficar calado com a declaração do empresário Joesley Batista, um dos donos da J&F, de que o presidente Michel Temer seria o chefe da organização criminosa na Câmara? Tão sintomático quanto a entrevista dada pelo “bandido notório”, como o chamou Temer, é sobre quem dessa suposta quadrilha estaria dentro e fora das grades. “Quem não está preso está hoje no Planalto”, disse Batista.

Não seria esta uma semana apropriada para que os palacianos encastelados em Brasília repensassem suas convicções e posições e, a final dela, decidirem convencer o chefe a abreviar o mandato e convocar eleições diretas? Essa tese, a cada dia, vem ganhando reforço até mesmo de aliados como o PSDB, por meio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Até porque as peças do xadrez postas sobre a mesa do Planalto já estão desfalcadas, com contusões provocadas pela avalanche de denúncias de corrupção. Temer viajará à Rússia e Noruega, a partir desta segunda-feira, e ficará fora do Brasil país até sábado.

Enquanto isso, ele deixa o país em mais um momento de agravamento da crise política, que respinga fortemente na economia, quando esta vinha dando sinais de recuperação. Como Temer assumiu a Presidência com a queda da petista Dilma Rousseff, quem vai sentar-se à cadeira presidencial é o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aliado ao Planalto.

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Por via inversa, a viagem de Temer ao exterior nos faz lembrar de outro episódio que marcou a vida da nação brasileira: a renúncia do então presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, no momento em que o vice João Goulart encontrava-se em viagem à China Popular da China. O Brasil daquela época vivia dias agitados, por conta da instabilidade política, tal qual se vê nos dias de hoje.

Jango retornou ao país, mas não assumiu de imediato, por conta de pressão dos ministros militares e de parte dos membros do Congresso Nacional. Sentou-se à cadeira presidencial dia 2 de setembro daquele ano, depois da campanha da legalidade, encabeçada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, com o apoio de Nei Braga, do Paraná, e do goiano Mauro Borges.

Tudo por conta de acordo proposto pelo Congresso, com a adoção do parlamentarismo, como forma de enfraquecer Jânio. E conseguiu. Quem passou a dar as cartas foi o mineiro Tancredo Neves, como primeiro-ministro, que ficou no cargo menos de 12 meses. O enredo se fechou em março de 1964, com a tomada do poder pelo militares.

Tal qual Jango, Temer se vê hoje com um governo fragilizado, sem apoio popular, sustentado por uma base instável, no Congresso Nacional.  Nem mesmo a manutenção da chapa Dilma-Temer, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), conseguiu dar fôlego ao peemedebista. E o cenário, para ele, pode piorar, já que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar ao STF denúncia contra Temer corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa, tal qual apontou Joesley Batista. É o que está no pedido de abertura de inquérito contra Temer e o seu ex-assessor especial Rodrigo Rocha Loures.

E tudo isso estará acontecendo com Temer assistindo lá de fora o circo pegar fogo. Quando sábado chegar, o presidente deverá aportar em Brasília com um cenário político-institucional diferente do que deixou. Que seja para melhor. Até porque, de 19 a 21 de junho, tanto na Câmara como no Senado, as pautas estão mais do que mornas. Nada de reformas à vista. Os senadores estarão envolvidos, por exemplo, em apreciar projetos como o que institui a Campanha Nacional de Prevenção da Exposição Indevida ao Sol.

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