Em depoimento, Bolsonaro diz que Sérgio Moro exigiu cargo no STF para trocar comando da PF

Em inquérito sobre suposta interferência na corporação, o presidente alegou que o ex-ministro disse que só aceitaria troca na PF caso fosse indicado ao Supremo

Postado em: 04-11-2021 às 15h43
Por: Giovana Andrade
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Em inquérito sobre suposta interferência na corporação, o presidente alegou que o ex-ministro disse que só aceitaria troca na PF caso fosse indicado ao Supremo. | Foto: Reprodução

Em depoimento à Polícia Federal no inquérito que apura suposta intervenção política na corporação, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) alegou que Sérgio Moro, ex-juiz e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, teria exigido uma indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF) em troca de nomear o delegado Alexandre Ramagem ao comando da PF.

Bolsonaro afirmou que, “ao indicar o DPF Ramagem ao ex-ministro Sergio Moro, este teria concordado com o presidente desde que ocorresse após a indicação do ex-ministro da Justiça à vaga no Supremo Tribunal Federal”. O chefe do Executivo nacional relatou também ter pedido, em meados de 2019, a troca do diretor-geral da PF, à época Maurício Valeixo, por “falta de interlocução” entre os dois.

O depoimento foi prestado na noite de quarta-feira (03/11), a quatro dias do fim do prazo judicial, após determinação do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. A investigação teve início após Moro apontar que Bolsonaro, que está na posição de investigado pelo caso, o pressionava para substituir Valeixo, além da coordenação da Polícia Federal no Rio de Janeiro.

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Uma das provas é um vídeo de uma reunião ministerial ocorrida no Palácio do Planalto em 22 de abril de 2020. Na ocasião, o chefe do Executivo disse que iria “intervir” na superintendência da corporação no Rio de Janeiro, para beneficiar familiares. Segundo Moro, o presidente queria um aliado e exigia acesso a relatórios sigilosos da corporação. O caso foi motivo de crise e ocasionou o pedido de demissão do então ministro da Justiça, em abril de 2020.

Agora, a Polícia Federal deverá remeter o inquérito ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a quem cabe decidir sobre eventual denúncia contra o titular do Palácio do Planalto.

Em nota, Moro se manifestou sobre as acusações do presidente. “Jamais condicionei eventual troca no comando da PF à indicação ao STF”, disse. E completou: “Não troco princípios por cargos. Se assim fosse, teria ficado no governo como ministro”. Leia na íntegra:

Sobre o depoimento do Presidente da República no inquérito que apura interferência política na Polícia Federal, destaco que jamais condicionei eventual troca no comando da PF à indicação ao STF. Não troco princípios por cargos. Se assim fosse, teria ficado no governo como Ministro. Aliás, nem os próprios Ministros do Governo ouvidos no inquérito confirmaram essa versão apresentada pelo Presidente da República. Quanto aos motivos reais da troca, eles foram expostos pelo próprio Presidente na reunião ministerial de 22 de abril de 2020 para que todos ouvissem. Também considero impróprio que o Presidente tenha sido ouvido sem que meus advogados fossem avisados e pudessem fazer perguntas.

Sergio Moro

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