Vereadores querem cidade inteligente após viagem ao exterior

Apesar das propostas trazidas pelos parlamentares que participaram de evento em Portugal, ações ligadas à tecnologia seguem distantes da realidade e conhecimento dos goianienses

Postado em: 19-11-2021 às 09h03
Por: Felipe Cardoso
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Apesar das propostas trazidas pelos parlamentares que participaram de evento em Portugal, ações ligadas à tecnologia seguem distantes da realidade e conhecimento dos goianienses | Foto: Reprodução

Com despesas bancadas pela Câmara Municipal de Goiânia, os vereadores Leandro Sena (Republicanos) e Thialu Guiotti (Avante) embarcaram no dia 30 de outubro para uma viagem de sete dias a Lisboa, Portugal, onde participaram do Web Summit 2021, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo. 

Os gastos atribuídos à viagem de ambos os vereadores superam a casa dos R$ 40 mil e vieram na esteira do projeto de lei, aprovado no dia 19 de outubro, que aumentou a verba de gabinete de R$ 62 mil para R$ 78 mil e criou 253 novos cargos comissionados, podendo resultar em um custo mensal de quase R$ 100 mil ao Legislativo. O projeto não foi bem-recebido por parte da população devido ao momento de crise econômica pelo qual passa o país.

De volta à Câmara de Goiânia, a reportagem do O Hoje conversou com ambos os vereadores para conhecer os resultados dessa viagem para a cidade de Goiânia. O que se percebe é que cada um deles trouxe diferentes contribuições.

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Leandro Sena, por exemplo, disse já ter levado ao prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), duas sugestões. “Uma de minhas propostas diz respeito à implementação de semáforos inteligentes em Goiânia. Existem vários transtornos na capital especialmente em períodos de chuva. Essa tecnologia viabiliza uma sincronia de tudo, permitindo que as pessoas ganhem tempo no trânsito”.

Outra proposta, segundo ele, visa a ocupação de espaços ociosos da cidade. “Queremos implantar, no espaço do antigo Corpo de Bombeiros, em frente ao Lago das Rosas, um Centro Cultural Gastronômico, permitindo que todas as culinárias estejam em um único local, valorizando o turismo e a economia. Essa ideia também surgiu a partir da nossa experiência em Lisboa onde algo parecido acontece”. 

O fomento da economia por meio da valorização de atividades locais e grandes eventos também foi algo defendido pelo vereador Thialu Guiotti que embarcou para Lisboa ao lado de Sena. “O que vimos é prova de que quando o Poder Público quer trazer economia direta à vida direta do cidadão ele consegue”, garantiu.

Em seguinda, justificou: “O Governo subsidiou mais de $ 4 milhões de Euros para sediar o evento WebSummit. Em menos de seis dias,  a feira movimentou mais de $ 40 milhões de Euros na economia local com alimentação, transporte, hospedagem e outros. Isso é algo que quero para Goiânia”, disse. 

Ao O Hoje o vereador adiantou que irá destinar aproximadamente R$ 400 mil em emendas parlamentares já na próxima semana à Secretaria Municipal de Cultura. O objetivo é que a pasta assegure, através desse dinheiro, a vinda de grandes eventos que possam replicar o ocorrido em Lisboa na Capital goiana. 

“Isso garante emprego, renda e ainda faz a economia girar. Já conversei com o secretário sobre o uso desse dinheiro de maneira imediata. As emendas deverão ser apresentadas até o dia 23 deste mês para que a partir de fevereiro do ano que vem a Secretaria possa tocar os projetos”, explicou à reportagem. 

Tecnologia de ponta

O parlamentar também disse que irá propor ao prefeito a adoção de um sistema que garantirá a todas as pastas do Executivo um atendimento ao cidadão de maneira mais inteligente e tecnológica. “Através de um software, o cidadão pode narrar o que deseja ao ligar para um número geral, a partir disso, o próprio sistema já encaminha, em forma de ofício, a demanda à secretaria responsável. Em seguida, o cidadão recebe todo andamento do processo no próprio telefone em que realizou a chamada”, disse.

Outra proposta que será apresentada pelo parlamentar diz respeito ao fornecimento de energia elétrica em determinados bairros da cidade. “Essa ideia é de uma empreendedora de São Paulo, inclusive. Ela nos mostrou um projeto de fornecimento de energia fotovoltaica a partir de materiais recicláveis. Quero trazê-la o quanto antes para apresentar essa ideia aqui no Legislativo”. 

“Se a prefeitura não pode custear a instalação e distribuição de energia para todo um bairro por falta de recursos, por que não gastar 5% daquilo que gastaria inicialmente para levar energia ao cidadão por meio de um projeto que envolve recicláveis?”, questionou. Como exemplo, o vereador citou o bairro JK onde, segundo ele, não é possível enxergar “um palmo à frente da mão” após as 18h. 

Leandro Sena também prepara um documento que será levado ao prefeito de Goiânia e que visa incorporar ao sistema de reconhecimento facial — recentemente instalado nas escolas da Capital — um mecanismo que permite a “leitura do humor das crianças”.  Segundo ele, o equipamento é capaz de diagnosticar casos de abusos, conflitos e violência contra os mais jovens. 

Cidade Inteligente

De fato a prefeitura de Goiânia precisa se debruçar sobre projetos relacionados a construção de uma cidade inteligente. Isso porquê a matéria, considerada pelo prefeito Rogério Cruz  como uma das prioridades de sua gestão,  ainda é desconhecida pela grande maioria da população goianiense.

Segundo levantamento do Instituto Fox Mappin/O Hoje, apenas 17,8% sabem do que se trata. Portanto, 82,2% não têm conhecimento. A pesquisa ouviu 501 pessoas, distribuídas proporcionalmente em 163 bairros da capital e também de acordo com gênero, faixa etária e escolaridade, entre os dias 19 e 22 de outubro de 2021.

O projeto de cidade inteligente consta no plano de governo de Maguito Vilela, prefeito eleito no ano passado, mas morto em decorrência de complicações da Covid-19 no início de 2021. Conforme já mostrado pelo O Hoje, como vice, Rogério Cruz assumiu a Prefeitura e, mesmo após o rompimento, em abril, com o filho de Maguito e presidente do MDB em Goiás, Daniel Vilela, ele garantiu que cumpriria o plano de governo, que lista dez propostas para “tornar Goiânia uma cidade inteligente” e “promover a conectividade do cidadão goianiense”.

O projeto de cidade inteligente, embora citado com frequência nos discursos e nas redes sociais de Rogério Cruz, que já viajou para conhecer exemplos em outros municípios, como Foz do Iguaçu, ainda está longe de se popularizar entre os cidadãos.

Além disso, nos corredores da Prefeitura de Goiânia, circulam pelo menos duas observações com tom crítico ao projeto. A primeira diz respeito à estrutura do próprio Paço Municipal, enquanto a outra trata de possíveis interferências externas.

Não existe um controle eficiente dos visitantes do Paço Municipal. Quando ocorre, não é feito por vias tecnológicas. Na entrada principal, as recepcionistas anotam, em cadernos, os nomes e dados à mão. Nas outras entradas, não há recepção. Em todas elas, não há nem sequer catracas.

Para muitos servidores, a Prefeitura quer fazer investimentos em tecnologia pela cidade, mas o edifício onde funcionam os principais órgãos ainda está preso ao passado, o que coloca os trabalhadores em risco. Houve um caso, registrado em fevereiro, de uma estagiária que denunciou abuso de um visitante no elevador.

Por fim, em relação a interferências externas, o comentário que se ouve é o de que pelo menos metade dos órgãos do CGENA (Governo; Inovação, Ciência e Tecnologia; Finanças; e Administração) tem influência direta do presidente do Republicanos no Distrito Federal, Wanderley Tavares, que supostamente exerce poder nos rumos da gestão municipal. Ele teria até nomeado uma pessoa de confiança na Prefeitura de Goiânia para cuidar especificamente do projeto de cidade inteligente.

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