Descompasso entre Caiado e Bolsonaro embaraça cenário em 2022

Lideranças caiadistas comentam racha entre gestores que pode levar Caiado ao palanque de Moro e Bolsonaro ao de Vitor Hugo

Postado em: 26-11-2021 às 09h24
Por: Felipe Cardoso
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Lideranças caiadistas comentam racha entre gestores que pode levar Caiado ao palanque de Moro e Bolsonaro ao de Vitor Hugo | Foto: Reprodução

A chegada do presidente Jair Bolsonaro ao PL tende a reconfigurar o cenário político goiano quando pensado nas eleições do ano que vem. Inicialmente tido como um companheiro inseparável do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), hoje, o presidente é visto, na verdade, como uma ameaça velada ao projeto de reeleição do democrata.

A chegada da pandemia da Covid-19 ao Brasil esquentou o clima entre ambos gestores que atribuíram à pandemia tratos diferentes. Ora, governadores jogavam a culpa em Bolsonaro pela crescente do número de mortes no País, ora o presidente jogava a culpa nos gestores estaduais e municipais pelo desequilíbrio econômico.

As razões para o rompimento dos laços são diversas e agora passam também pela composição dos partidos políticos. Isso porque Bolsonaro pensa em construir, em Goiás, um nome mais ‘confiável’. Em entrevista recente, o presidente declarou querer um militar que seja próximo e que já esteja inserido na política para disputar o governo goiano. Esse nome certamente será o do atual deputado federal, Vitor Hugo (PSL), fiel escudeiro desde o princípio.

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Em paralelo a indicação de Bolsonaro para a corrida do governo, Caiado, que é filiado ao democrata — recentemente fundido ao PSL e transformado em União Brasil — flerta com um dos principais adversários do atual governo: o ex-ministro Sérgio Moro (Podemos).

Apesar do ‘rompimento’ de ambos, bolsonaristas e caiadistas deverão tomar decisões importantes para o ano que vem, haja vista que o cenário atual prevê Caiado no palanque de Moro e Bolsonaro no de Vitor Hugo. Mas como bem disse o prefeito de Iporá em entrevista ao O Hoje, política é com nuvem e “cada dia está de um jeito diferente”.

Pensando em esclarecer o turbulento cenário apresentado e entender a avaliação das lideranças caiadistas no que diz respeito ao emaranhado de articulações já iniciadas, a reportagem conversou com três gestores importantes. São eles: os prefeitos de Iporá, Naçoitan Leite (Sem partido); de Jataí, Humberto Tavares (MDB) e de Porangatu, Vanuza Valadares (Podemos).

Dois turrões

Na interpretação de Leite, ainda que o governador decida apoiar qualquer outro candidato, o fato é que seu eleitorado estará com Bolsonaro. “Vamos apoiar o Caiado em seu projeto de reeleição. Agora, a nível nacional, nossa classe está com Bolsonaro. Temos essa definição. Não adianta o Bolsonaro querer lançar candidato ao governo aqui em Goiás, não vamos apoiá-lo, da mesma forma, não apoiaremos outro candidato à presidência senão Bolsonaro”, resumiu.

O prefeito até disse acreditar que, caso a cúpula do União Brasil resolva apoiar o pré-candidato e ex-ministro, Sérgio Moro, Caiado acompanhe o partido e  também o apoie. No entanto, para ele, o eleitorado não fará o mesmo.

Na interpretação do gestor, o ideal é que Caiado abaixe a guarda e restabeleça uma relação harmônica com o chefe do Executivo. “Uma união seria bom para Goiás. Foi o que fiz aqui em Iporá. Eu já fui oposição ao Caiado, hoje estamos aí abraçados. Devemos fazer pensando no bem do nosso povo, no melhor para a gestão. Agora, o que vemos nesse contexto são dois ‘turrões’. O Bolsonaro falou muita besteira, mas acho que o governador deveria repensar essa resistência e pensar no coletivo. Não somos um estado muito rico, quanto mais investimentos tivermos aqui, melhor”, considerou.

Depois da tormenta

Outro a comentar o assunto foi o prefeito do município de Jataí, Humberto Machado, que disse apostar na possibilidade de aglutinação, porém, em um eventual segundo turno.

“No primeiro, muitos vão priorizar as candidaturas próprias e voos solos, mas, depois, em um eventual segundo turno, as coisas vão se alinhando. Espero que o governador vença logo no primeiro, mas se a eleição for definida em segundo, creio que ele não terá dificuldades para trazer todo esse pessoal para o seu lado”, disse.

Em outro trecho da conversa com a reportagem, o prefeito destacou que, ao contrário do que se pensa, as movimentações no cenário nacional não parecem incomodar o governador.

“Caiado tem por trás de seu nome um legado. Tem uma história como defensor do agronegócio. Hoje, temos a casa em ordem, os segmentos atendidos, investimentos sendo feitos, ou seja, as várias áreas estão contempladas de forma a trazer mais segurança ante essa suposta pulverização das candidaturas. Não acredito que isso deva impactar o eleitorado do governador”, argumentou.

Devoção partidária

Também caiadista, que, por sua vez, é filiada ao Podemos, é a prefeita de Porangatu, Vanusa Valadares. Consultada sobre o cenário traçado para o ano que vem, a gestora disse não saber opinar especificamente sobre os planos do governador, mas garantiu que, independentemente da posição de Caiado, seguirá as definições do partido a nível nacional.

“Estou conversando com a nacional e com o presidente estadual do Podemos. Provavelmente teremos candidato à presidência da República [Sérgio Moro], sendo assim, acompanharei meu partido”, adiantou. Em seguida, acrescentou: “Não conversei com o governador a respeito de seu apoio ou de como serão as alianças pensando na presidência da República. Mas garanto que aqui no estado ele terá o meu apoio independentemente do que ficar decidido a nível federal”. Em justificativa, a prefeita considerou as ações do governo não apenas em sua cidade como em todo estado. “Temos visto um trabalho muito sério. O governador tem tratado a gestão com muita responsabilidade e, com isso, avançamos muito nesses últimos anos”, defendeu. Valadares disse acreditar também que o governador deve “abrir diálogo” com seus apoiadores a respeito de tal apoio político.

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