Aliança do novo governo alemão pode ser exemplo para o Brasil

O social-democrata Olaf Scholz encerra a era de Angela Merkel com uma coalizão que reúne ambientalistas e liberais

Postado em: 06-12-2021 às 09h07
Por: Marcelo Mariano
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O social-democrata Olaf Scholz encerra a era de Angela Merkel com uma coalizão que reúne ambientalistas e liberais | Foto: Reprodução

Está prevista para a próxima quarta-feira (8) a posse de Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD, na sigla em alemão), de centro-esquerda, como o novo chanceler da Alemanha, encerrando a era de 16 anos de Angela Merkel, da União Democrata-Cristã (CDU, na sigla em alemão), de centro-direita.

Vale destacar que, na Alemanha, uma república parlamentarista, o cargo de chanceler não deve ser confundido com o de ministro das Relações Exteriores, termos que, em outros países, são sinônimos.

Lá, o chanceler é o chefe de governo, ou seja, é quem governa na prática, e tem as mesmas obrigações de um primeiro-ministro ou primeira-ministra de uma república parlamentarista tradicional.

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O SPD de Scholz foi o mais votado nas eleições gerais, realizadas no final de setembro, mas, como não obteve a maioria dos votos, ele deu início às negociações com outros partidos, e a formação do novo governo alemão só foi anunciada nos últimos dias.

A coalizão liderada pelo SPD contará com as presenças dos Verdes, que, como o próprio nome indica, tem a pauta ambiental como foco, além dos liberais econômicos de um partido cuja sigla em alemão é FDP (Partido Democrático Liberal, em português).

As negociações definiram que o FDP comandará quatro ministérios (Finanças; Justiça; Transporte; Educação), enquanto os Verdes terão cinco pastas (Relações Exteriores; Economia e Proteção do Clima; Família; Meio Ambiente; Alimentação e Agricultura).

Por sua vez, o SPD, além da Chefia de Chanceleria, que tem status de ministério, ficará responsável também por outros seis: Interior; Trabalho; Defesa; Saúde; Habitação; Cooperação e Desenvolvimento.

Trata-se, portanto, de um governo composto por representantes de diferentes ideologias, e o primeiro com três partidos desde os anos 1950. Para citar um exemplo, os Verdes defendem mais gastos governamentais e o FDP é conhecido por uma maior austeridade fiscal.

No Brasil de 2022, seria possível um governo semelhante, que vai da esquerda à direita, com harmonia e estabilidade? Há quem argumente que é justamente disso que o Brasil precisa, uma aliança acalme os ânimos, mas ainda é cedo para dizer se existe viabilidade.

Tentativas, porém, estão sendo feitas. O principal exemplo é o do ex-presidente Lula (PT), que, a propósito, se reuniu com Scholz durante sua recente viagem à Europa. De saída do PSDB, Geraldo Alckmin, um conservador, é cotado para ser candidato a vice na chapa do petista, de esquerda, mas uma esquerda que, diga-se de passagem, ainda não incorporou grande parte das ideias ambientalistas dos países desenvolvidos.

É claro que os contextos brasileiro e alemão, em praticamente todos os sentidos, são distintos. No caso do cenário político, não há como comparar Merkel e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Até por isso, uma junção de forças desse tipo talvez seja mais urgente no Brasil. Quem sabe o novo governo da Alemanha não sirva de exemplo.

Aliás, é preciso falar de Merkel, que, à frente da maior economia europeia, enfrentou grandes crises durante seu governo: a econômica pós-2008 e as negociações com a Grécia, a de refugiados em 2015 e, agora, a da pandemia de Covid-19.

Concorde-se ou não com as medidas adotadas por ela, é impossível não reconhecer seu papel de liderança e pulso firme. Não só a Alemanha, mas também o mundo pode ser dividido em antes e depois de Merkel, cujo exemplo é outro que merece ser seguido pelos atuais e futuros líderes internacionais. (Especial para O Hoje)

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