Operador conta que construtora Delta repassou R$ 370 milhões em caixa 2

Assad confirmou ao juiz que o dono da Delta, mencionou que grande parte do dinheiro desviado ia para o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, que estaria aumentando a demanda por propinas

Postado em: 10-08-2017 às 08h15
Por: Thais Tomás
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Assad confirmou ao juiz que o dono da Delta, mencionou que grande parte do dinheiro desviado ia para o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, que estaria aumentando a demanda por propinas

O empresário Adir Assad, apontado como operador financeiro
do esquema que desviou recursos em obras da construtora Delta, disse em
depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal, que os repasses de
caixa 2 da empreiteira alcançaram R$ 370 milhões, entre 2007 e 2012. Os
depoimentos ocorreram no âmbito da Operação Saqueador. Segundo Assad, o
dinheiro era desviado nas obras realizdas pela construtora por meio de notas
frias de empresas que tinham Assad entre os sócios . “A demanda foi crescendo
em 2010 e 2011”, pontuou.

Assad confirmou ao juiz que o dono da Delta, Fernando
Cavendish, mencionou que grande parte do dinheiro desviado ia para o
ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, que estaria aumentando a demanda por
propinas. “[Ele disse que] Grande parte desse dinheiro vinha para o Sérgio
Cabral e não podia atrasar”.

Assad disse que foi procurado pela Delta para entrar no
esquema, com o argumento de que a empresa estava tendo problemas com
fornecedores. A partir do entendimento, começou a funcionar a emissão das notas
frias para o desvio de dinheiro pelo pagamento das obras. “Chegou uma hora que
tínhamos 14 ou 15 empresas para dar o faturamento para eles [da Delta] operarem
as obras”.

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O empresário e lobista contou que, apesar de ter começado a
fazer negócios com a Delta em 2007, somente no fim de 2010 esteve pessoalmente
com o empresário Fernando Cavendish, dono da construtora. A partir daí, houve a
indicação de Cláudia Salgado, uma funcionária da companhia, para tratar da
emissão das notas e dos repasses de dinheiro. Dos valores apresentados nos
documentos, as empresas dele ficavam com um percentual pelo serviço.

Até a publicação desta matéria, a defesa do ex-governador,
Sérgio Cabral, não respondeu sobre o envolvimento dele no esquema.

Dinheiro viajava como “lasanha”

O empresário informou que a Delta montou uma equipe com
quatro funcionárias que iam a São Paulo para pegar o dinheiro. Os valores eram
de até R$ 170 mil, para caber nas malas. “Duas vezes por semana iam buscar
o dinheiro. Não colocava mais do que R$ 150 mil ou R$ 170 mil por mala”, disse.
Ele acrescentou que as parcelas, consideradas por ele como “menores”,
ocorriam nestes valores para facilitar o transporte e evitar roubos.

O transporte era feito em malas com o dinheiro arrumado
entre roupas. “Elas faziam como lasanha, vai. Uma camada de roupa outra de
dinheiro”, detalhou.

Segundo Assad, as empreiteiras do país começaram a ter
problemas a partir da instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) do Cachoeira, em abril de 2012, para apurar o envolvimento do
contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos
Cachoeira, com políticos e agentes públicos. “Quando instalaram a CPMI do
Carlos Ramos eles não sabiam exatamente onde ia bater isso. Quando começou a
respingar nas nossas empresas, começou um alvoroço no mercado”, contou.

Assad reconheceu que o esquema em que se envolveu era
ilícito e disse que se arrepende de ter participado.

Outros depoimentos

Pela manhã, o empresário já tinha prestado depoimento ao
juiz Bretas, mas no âmbito da Operação Irmandade. Nos dois depoimentos que, Assad
destacou que estava falando à Justiça pela primeira vez. Antes de ser ouvido, o
empresário trocou de defesa, que agora está a cargo do advogado Pedro Luiz
Bueno de Andrade. O advogado disse que a mudança foi por uma questão
estretégia e não teria sido feita para tentar um acordo de delação premiada.
Andrade também defende Samir Assad (irmão de Adir) e o sócio dos dois, Marcello
José Abudd.

Abudd prestou depoimento logo em seguida e confirmou as
entregas semanais de dinheiro à empresa Delta. O empresário negou ter
informação sobre o envolvimento de algum político e disse que não tinha contato
com qualquer outra pessoa no esquema. Até ser preso, só conhecia Adir Assad e
também disse estar arrependido. “Se eu soubesse dessa dimensão e do que se
praticava jamais teria cometido este erro. Me arrependo tremendamente”.

Foram ouvidas ainda as irmãs Sônia Mariza Branco e Sandra
Maria Branco Málago. As duas eram antigas funcionárias de Adir Assad e, com a
criação de empresas para o esquema das notas frias, foram incluídas como
sócias. “Eu cheguei a perguntar porque estava fazendo notas e ele disse que era
uma jogada de imposto com as empresas”, contou Sônia.

Já Sandra disse que sabia que havia algo errado, mas
precisava manter o emprego. “Tinha medo de desagradar e ser mandada embora.
Tinha os meus filhos, não tinha marido para ajudar”.

Carlinhos Cachoeira foi o último ouvido pelo juiz Bretas na
tarde desta quarta-feira e contou que esteve três ou quatro vezes em reuniões
na Delta, com a qual iria desenvolver o projeto de loteamento da Fazenda Gama,
que no entanto não foi a diante. Cachoeira contou ainda que não recebeu
recursos da Delta e conheceu Cavendish em um jantar, em 2010, quando foi
apresentado a ele pelo ex-senador Demóstenes Torres. Depois disso nunca mais
teve contato com o empreiteiro. “Sou inocente. Totalmente inocente”, disse no
depoimento.

Agência Brasil

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