“Integramos agricultura, pecuária e floresta como nenhum país do mundo”, afirma Arthur Toledo

“Hoje, em torno de sete países do mundo mantém capacidade de alimentar sua população e de exportar”, diz Arthur Toledo

Postado em: 21-12-2021 às 09h00
Por: Felipe Cardoso
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“Hoje, em torno de sete países do mundo mantém capacidade de alimentar sua população e de exportar”, diz Arthur Toledo | Foto: Reprodução

O futuro é promissor no que diz respeito à produção brasileira. Pelo menos é o que prevê a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) que estima que a safra de grãos goiana deve saltar de 23,8 milhões de toneladas — registrada nos anos de 2020 e 2021 — para 28,8 milhões de toneladas neste novo ciclo de 2021 e 2022. Caso o número se confirme, o montante representará um novo recorde para o Estado. 

Diante de um suposto resultado favorável em tempos de plena recuperação econômica, o jornalista Wilson Silvestre conversou com o especialista e palestrante do agronegócio, Arthur Toledo, que explicou os resultados já alcançados, bem como o setor tem se preparado para esse novo grande desafio previsto para o ano que vem. 

O especialista, que também preside o Instituto para Fortalecimento da Agropecuária em Goiás (Ifag), respondeu à uma sequência de questionamentos. A entrevista também pode ser conferida, na íntegra, através do canal O Hoje News, no YouTube. 

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Wilson Silvestre: Em levantamento recente, a Conab aponta que o volume de grãos produzidos em Goiás deve saltar de 23,8 milhões de toneladas na safra 2020/21 para 28,8 milhões de toneladas no novo ciclo. Produzimos muito e ainda assim o preço dos alimentos não para de subir. Qual é a vantagem em ser um dos maiores produtores de grãos do mundo e a população não poder comprar?

“Esse é um desafio que tem acontecido com o Agro e está acontecendo com as pessoas de modo geral. Vivemos um momento de turbulência na Economia mundial. Alta do dólar aqui dentro, escassez de alimentos e energia no mundo todo. 

Se a gente fizer um balanço dos últimos 30 anos até 2019 o preço da cesta-básica caiu em torno de 43% historicamente, tudo isso é uma conquista do brasileiro. Digo isso porque o aumento de preços sempre é sazonal na agricultura, ou por alimentos, ou por fatores externos. 

O Brasil tem um histórico de manutenção em segurança alimentar incrível. Mesmo em momentos de dificuldade como esse o agro brasileiro mantém seus pilares de segurança alimentar que é : primeiro, oferecer alimentos de qualidade; segundo, manter isso durante todos os dias do ano; terceiro, produzir todos os tipos de alimentos; quarto, garantir o abastecimento interno e manutenção das exportações. 

Hoje, em torno de sete países do mundo mantém capacidade de alimentar sua população e de exportar. O Brasil alimenta sete vezes a população brasileira. Quase 1 bilhão e meio de pessoas no mundo. 

Quanto à questão de preços, é fundamental entender que o produtor não forma preços, nem para comprar seus insumos. Ele é obrigado a pagar aquilo que consome pelo preço que o mercado oferece. Ele não forma preço da venda do seu produto. 

Estamos vendo algumas discrepâncias entre o preço recebido pelo produtor e o preço que está no supermercado de alimentos. O que nem sempre é compatível. Nessa cadeia, eu digo que os segmentos mais sensíveis são: produtor rural e o consumidor.  

Obviamente, quando as cadeias de suprimento sofrem tantos problemas como o que estamos vivendo, gera desequilíbrio e a sociedade acaba pagando um pouco mais por um período determinado. 2020 e 2021 foram tempos difíceis, tivemos aumentos estratosféricos, talvez nunca tivemos um aumento tão grande dos preços de insumos para se produzir, muito desafiador. Mas esperamos continuar dando respostas à sociedade brasileira. 

Wilson Silvestre: O agro volta e meia o agro é demonizado pelos partidos de esquerda e ambientalistas radicais. Embora seja um dos setores mais importantes da Economia, portanto com recursos financeiros, raramente se vê campanhas fazendo o contraponto. Na sua avaliação, por que ocorre essa apatia em relação às críticas de boa parcela da sociedade?

“É possível que alguns segmentos continuarão demonizando essa campanha por questões ideológicas, não é nem uma questão de confrontar com a realidade. Eu diria que nós temos informações e dados de que o Agro nunca esteve tão próximo à sociedade urbana, em função até da resiliência do agro em enfrentar toda essa crise e continuar ofertando alimentos para a sociedade, isso tem tido uma adesão muito forte. 

É importante divulgar os resultados positivos que o agro traz para o País e para as pessoas. Nós tivemos esse ano 257 inserções na mídia. Fizemos algumas campanhas também, às vezes do ponto de vista institucional, mas também na divulgação de dados.

Temos momentos em que não vale a pena fazer contrapontos ideológicos, mas sim  trabalhar com a realidade através da divulgação de informações. Certamente estamos vivendo um momento muito interessante de conexão do Agro com a cidade e pretendemos aprofundar ainda mais nisso. 

Wilson Silvestre: Para encerrar: em suas palestras, o sr. ressalta muito o papel da tecnologia em favor da agricultura no aumento da produção com conservação ambiental. É possível produzir mais no mesmo espaço que existe hoje?

“Nós ocupamos 29% do território  brasileiro com pastagem, agricultura de grãos, florestas para extração de madeiras para diversos fins, grãos ocupam em torno de 10% do território. Estamos vivendo um fenômeno muito interessante em Goiás. Dois aspectos, eu diria, fundamentais. 

Primeiro a substituição das áreas de pastagem por agricultura. Hoje o vale do Araguaia está sofrendo uma transformação incrível; a soja atuando como uma grande locomotiva entrando na agricultura, e tudo isso sem concorrer com os bovinos. É a integração lavoura, pecuária e floresta que estamos assistindo.  

Queria chamar a atenção para a capacidade que o agro tem  de trabalhar a perspectiva da preservação com o uso  da tecnologia. Nós integramos agricultura, pecuária e floresta como nenhum país do mundo faz hoje. Com irrigação, produzimos três safras em Goiás por ano. Temos hoje 8 milhões e meio de hectares irrigados no país, podendo ir para 40, 50 milhões sem derrubar nenhuma árvore, aumentando, no mínimo, três vezes a produção. 

Imagina o que esse País não é capaz de ofertar sem derrubar uma única árvore. Somos uma vitrine neste sentido. Temos diversos programas, fazemos plantio na palha, o que não era feito no passado; utilizamos água de forma extremamente inteligente, devolvendo para o meio ambiente  com muita qualidade pois sabemos que é um ponto crítico, de forma que os produtores rurais estão se transformando em produtores de água. 

Em Goiás, plantamos 1kg de semente de soja e colhemos 100 kg de soja, isso é mágico. Plantamos 1 kg de semente de milho e colhemos 450 kg de milho. Isso nenhum setor ou segmento na história conseguiu tanta eficiência através da ciência, tecnologia, dos órgãos de pesquisa e de transferência de tecnologia e conhecimento. 

Conseguimos fazer, talvez, um dos maiores milagres da história da humanidade, que é produzir enriquecendo o solo, preservando o meio ambiente e oferecendo alimento mundo à fora. É um orgulho poder falar sobre isso.

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