Câmara está ‘desconectada’ com a vontade da sociedade, diz Kitão

Vereador comenta sobre o ano do Legislativo municipal, além de seus planos para 2022

Postado em: 28-12-2021 às 07h56
Por: Marcelo Mariano
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Vereador comenta sobre o ano do Legislativo municipal, além de seus planos para 2022 | Foto: Reprodução

Em entrevista ao jornal O Hoje, o vereador Lucas Kitão (PSL/União Brasil), pré-candidato a deputado federal no ano que vem, disse que, em 2021, a Câmara Municipal de Goiânia “votou muita coisa desconectada com a vontade da sociedade”. Ele foi contra projetos polêmicos discutidos no Legislativo municipal e, por isso, acredita ter sido alvo de retaliação.

No final do ano, a Câmara tentou aprovar o aumento de 35 para 29 vereadores. O senhor foi contra. Por quê?

Para mim, não basta ser possível juridicamente. Temos que pensar em todo o contexto. Avaliando a situação do Brasil, de Goiás e de Goiânia, vencendo uma pandemia, com uma crise econômica violenta, tenho convicção de que não é o momento para aumentar o gasto público. Pelo contrário, é hora de enxugar gastos para sobrar recursos para fazer assistência social e investimento na cidade. A sociedade não aceita isso mais. E a Câmara, infelizmente, esse ano votou muita coisa desconectada com a vontade da sociedade.

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Em 2021, a Câmara também se envolveu em outras polêmicas, como o aumento da verba de gabinete e a reeleição do presidente Romário Policarpo. Como avalia o ano do Legislativo municipal?

A Câmara pôde ajudar a Prefeitura no que foi possível no que tange a essa situação de vencer a pandemia, realocar recursos e direcionar emenda, mas, infelizmente, enquanto a cidade tinha outras pautas, a Câmara se restringia a uma discussão visando benefício interno. A reeleição, a criação de mais cargos, esse pacote completo. Enquanto isso, outras discussões, como as do Código Tributário e do Plano Diretor, mereciam ter sido maiores. Não basta a Câmara achar que essas matérias importantes vão ser votadas a toque de caixa. A sociedade quer participar, entender e opinar.

Em relação ao Plano Diretor, uma das maiores críticas é de que houve pouca participação popular nas discussões. O que acha?

Conduzi o Plano Diretor durante um ano na Comissão Mista e fizemos audiências públicas, com recorde de participação popular, mas com pessoas que têm acesso. O Ministério Público questiona que isso deve ser oferecido a todos e, pelo momento de pandemia, talvez não seria possível levar essas audiências aos bairros. Também há a situação do Compur [Conselho Municipal de Política Urbana] ter um relatório, ter uma maior participação, analisar emenda por emenda. E a outra situação, apontada lá atrás pelo Ministério Público, é o plano de mobilidade urbana. As cidades que são referências no mundo são aquelas que investiram em mobilidade e planejaram seu crescimento em cima desse esqueleto da mobilidade. Com o plano de mobilidade, a gente vai saber quais são os maiores desafios, e em cima disso vamos fazer o melhor adensamento, a melhor expansão, o melhor ordenamento urbano. Esses questionamentos levantados pelo Ministério Público e pela sociedade em geral merecem atenção para fazermos da melhor forma, que é, ao meu ver, discutir à exaustão todas as alterações e, depois, colocar para votar. Os vereadores vão ter segurança, e a sociedade vai estar ciente do que vai ser mudado. Qualquer movimento sem harmonia pode resultar em um processo judicial, em algo que vai dar mais trabalho, mais gasto e mais prejuízo.

Voltando à questão dos projetos polêmicos,  senhor acredita que seus posicionamentos contrários podem ter prejudicado o andamento de seus projetos?

Com certeza, e infelizmente. A maior prova é o meu projeto que atualizaria nosso ordenamento jurídico municipal para receber a tecnologia 5G. Todos estão se adequando a essa tecnologia e o medo é ficar para trás por um ato político de punir um vereador que discordou da maioria. 

Uma outra polêmica envolvendo a Câmara, e revelada pelo jornal O Hoje, foram as denúncias de supostas rachadinhas e funcionários fantasmas no gabinete do vereador do Paulo Henrique da Farmácia. A Câmara, então, resolveu adotar o ponto biométrico. Esse tipo de prática tem solução?

Tem, sim. E o ponto biométrico é uma grande saída. Sou favorável e sempre fui. No calor da emoção, sempre é uma solução, mas a gente não vê isso caminhando para se tornar realidade. O ponto biométrico permite aos responsáveis saber como tratar essas práticas, entender o que pode ou não ser feito. Há casos que eu vejo e são noticiados em que o próprio parlamentar não tem ideia de qual é a carga horária dos funcionários. Então, para ser justo, isso precisa ficar bem claro.

Como o senhor avalia a relação entre o prefeito Rogério Cruz e a Câmara?

O Rogério soube conduzir bem. Focou nas questões da Prefeitura e teve um diálogo bom com a Câmara. Acho que ele se saiu bem nesse primeiro ano. Fez o que foi possível dentro do contexto de gerir um município como Goiânia em um momento de pandemia.

Tanto o governador Ronaldo Caiado quanto o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha, têm buscado garantir apoio de vereadores goianienses. O que acha dessas movimentações?

O governador vê a necessidade de fazer mais programas sociais e é natural que procure os vereadores, que têm uma atividade em tempo integral pela cidade e podem ajudá-lo. Já Mendanha, acho que também é natural por ele ser da região metropolitana e querer ampliar seu trabalho aqui. Isso sempre aconteceu, já vi acontecer em outras oportunidades.

Muitos vereadores serão candidatos nas eleições de 2022?

Creio que pelo menos um 15. Vamos ter certeza com a proximidade das eleições, as alianças regionais e nacionais e a formação das chapas, que, agora sem coligações, vão ser ainda mais pesadas e difíceis.

As eleições de 2020 para vereador foram as primeiras sem coligação. Em 2016, quando isso era possível, o senhor também disputou. Qual foi mais difícil?

As de 2020, sem dúvida. Foi a eleição mais difícil que participei, tanto direta quanto ajudando indiretamente. Não só pelas coligações, mas também pelo momento de pandemia.

O senhor tentará mesmo uma vaga de deputado federal?

Essa é a ideia. Estamos trabalhando muito para isso, inclusive a situação de chapa. O meu partido passa por fusão e tenho avaliado isso também.

Os vereadores não têm janela em 2022, mas, por causa da fusão entre PSL e DEM, o senhor pode trocar de partido. Enquanto isso, Benitez Calil, a quem o senhor é ligado, está prestes a assumir o diretório metropolitano do PP. A sua tendência é permanecer na União Brasil ou ir para o PP?

São duas cartas que estão na mesa. Hoje, estou na presidência do diretório municipal do PSL e não sei como vai ficar na composição da União Brasil. E o PP, com a confirmação do Benitez lá, seria uma grande opção, mas preciso avaliar a situação do meu partido antes.

Uma de suas principais pautas diz respeito ao uso medicinal da cannabis. Qual é a sua expectativa para 2022 em relação a esse tema?

O Congresso vai ter que votar o projeto que está lá há alguns anos e que foi ganhando apoio. Acho que a maioria do Congresso já aceita isso muito bem, e da mesma forma a sociedade. Um dos motivos pelos quais pretendo disputar a eleição de deputado federal é justamente por essa pauta, que está mais concentrada no Congresso. Preciso estar lá para fazer uma discussão técnica e racional sobre esse tema, independentemente da pauta costumeira, o que, às vezes, acaba atrapalhando um pouco a evolução científica. Em Goiânia, há um compromisso da Prefeitura para colocar em prática o nosso projeto, que já é lei, após a pandemia. Quando as despesas com a pandemia diminuírem, a Prefeitura terá mais condições de licitar os medicamentos e formar uma equipe para acompanhar as primeiras famílias. O pai da criança com epilepsia pode fazer um tratamento alopático, que é mais pesado e com vários efeitos colaterais, ou pode escolher um fitoterápico, com canabidiol. Temos que dar as duas opções. Com o projeto, ele vai poder retirar o medicamento na Prefeitura a custo zero. Vai ficar popularizado. Hoje, só tem acesso quem tem dinheiro.

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