Excluída pelo PT, Dilma tende a concentrar críticas de antipetistas
Gestão de Dilma ainda é marcada pela articulação política conturbada e crise econômica ao lado de Guido Mantega.
Por: Marcelo Mariano
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Isolado na liderança das principais pesquisas de intenção de voto e sem o desgaste natural de quem tem mandato, o ex-presidente Lula é, no momento, o presidenciável com mais tranquilidade, mas há um assunto que tem preocupado os petistas.
Seis anos atrás, “golpe” era a palavra que não saia da boca dos membros do PT. Agora, porém, são poucos os que querem lembrar da época em que Dilma Rousseff era a presidente do Brasil.
Antes de mais nada, é importante deixar registrado que o processo de impeachment contra Dilma foi, de fato, um golpe parlamentar. Sem entrar no mérito das pedaladas fiscais, a ex-presidente só perdeu o cargo porque comprou briga com o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Se ele fosse aliado, nada teria acontecido.
E não é de hoje que esse assunto ficou para trás entre os petistas. Apenas dois anos depois, na campanha presidencial de 2018, o PT de Fernando Haddad se aliou a Renan Calheiros, em Alagoas, e Eunício Oliveira, no Ceará, dois emedebistas que estiveram na linha de frente a favor do “golpeachment”.
Aliás, tanto Eunício quanto Renan jantaram recentemente com Lula, o que reforça a tese de que o discurso em defesa de Dilma deixou mesmo de ser prioridade. Mas foi um outro jantar que chamou mais a atenção da classe política.
No final de dezembro, um grupo de advogados organizou um encontro entre Lula e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (sem partido), que foram adversários diretos nas eleições de 2006 e sempre estiveram em lados opostos.
Fora do PSDB, partido que tradicionalmente rivalizou com o PT a nível nacional, Alckmin negocia sua filiação ao PSB e é cotado como um possível candidato a vice na chapa petista no próximo pleito presidencial.
No jantar, estiveram presentes várias lideranças políticas do partido. Dilma, contudo, não estava lá. Excluída, a ex-presidente disse que não foi convidada, embora os organizadores tenham dito o contrário.
A vontade de omitir a ex-presidente ficou ainda mais clara após a publicação de um artigo na Folha de S. Paulo assinado por Guido Mantega, ministro da Fazenda a partir do final do primeiro mandato de Lula, em 2006, e durante todos os quatro anos iniciais de Dilma, de 2010 a 2014.
“Entre 2003 e 2014 o PIB brasileiro teve um crescimento médio de 3,5% ao ano, enquanto o desemprego caiu para abaixo de 6% da população economicamente ativa”, escreveu Mantega, referindo-se aos governos petistas desde o começo, mas esquecendo de 2015 e parte de 2016, quando o PT ainda estava no poder.
Mantega, vale lembrar, foi um ministro, digamos, mais gastador, diferentemente de seu antecessor, Antonio Palocci. Tanto é que, do ponto de vista econômico, os governos de Lula costumam ser divididos em “Lula 1” e “Lula 2” com o objetivo de ressaltar a mudança de postura.
E foi ainda com Mantega que o final do governo Dilma e o Brasil entraram em crise. Como os tempos de Lula são lembrados de forma mais positiva pela população, é justamente para evitar que os eleitores associem o PT à má gestão que a ex-presidente, sem merecer um tratamento assim, foi esquecida por seus colegas de partido.
Entretanto, os adversários do petismo não se esquecem, e as reações ao artigo de Mantega provam isso. Dessa forma, a tendência é a de que Dilma seja cada vez mais alvo de críticas daqui para frente.
O problema, para os antipetistas, é que Lula, querendo ou não, é maior do que o próprio PT. Com ou sem Dilma, portanto, será difícil tirar seu favoritismo nas eleições, a não ser que o ex-presidente cometa uma sucessão de erros. Afinal, o atual cenário indica que ele só perde para ele mesmo. (Especial para O Hoje)