Vice-presidente da Fiesp dispara contra alinhamento da Federação com o PT

“Vamos ter um ano com uma certa dificuldade e também uma eleição que está muito polarizada”

Postado em: 12-01-2022 às 09h42
Por: Raphael Bezerra
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“Vamos ter um ano com uma certa dificuldade e também uma eleição que está muito polarizada” | Foto: Reprodução

José Ricardo Roriz, presidente da da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST), e vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) ponderou, em entrevista ao Programa Face do Poder, apresentado por Wilson Silvestre, que o alinhamento de Paulo Skaf, presidente da federação, não pode atrapalhar o alinhamento da agenda da indústria.

Roriz critica o uso da federação para a promoção pessoal através e diz que não é contrário à candidatura de empresários. Sem citar o atual presidente, que não descarta disputar as eleições deste ano, ele diz que a função do empresário é “manter uma boa relação, fazer críticas quando for necessário e levar suas propostas com uma posição firme em defesa da indústria”.

A pandemia prejudicou muito a economia brasileira que já vinha se arrastando devido às políticas equivocadas e sem estratégia para médio e longo prazo. Há esperança de recuperação com juros estratosféricos e inflação alta?

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Vai ser um ano muito difícil. Temos um câmbio muito alto, com dificuldade para diminuir a inflação, principalmente com produtos importados e a importação ficou mais cara. A própria taxa de juros está muito alta para segurar a inflação, mesmo que não resolva muito já que nosso problema é o alto custo das commodities, e não uma inflação e de alta demanda. Vamos ter um ano com uma certa dificuldade e temos também uma eleição que está muito polarizada e a discussão não é em resolver os problemas do país.

Temos uma grande concentração de renda no Brasil e nossa renda permanece a mesma. As pessoas não têm dinheiro para comprar, as famílias endividadas e quando conseguem os produtos estão mais caros e as taxas de juros mais altas.

O setor de plásticos sofre críticas de ambientalistas, principalmente dos grupos engajados na proteção da natureza e meio ambiente, mas o plástico indiretamente ajuda muito na produção industrial./ falta conscientização da população no uso e descarte?

As principais discussões da qual eu participei na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021 (Cop 26), em Dubai, foram voltadas para a transição energética e a economia circular. Eu acho que o caminho é a economia circular, é o reaproveitamento de materiais que já foram utilizados para que eles entrem no processo produtivo novamente. O plástico está em toda a economia, e 95% do PIB tem um correlação com o uso do plástico. Ele está na agricultura, nos produtos industriais, nos automóveis e entra para diminuir o preço dos produtos e também por oferecer uma vantagem técnica na sua utilização. Na saúde, por exemplo, nós teríamos um problema se houvesse a falta dele na área sendo importante em várias atividades e até na assepsia. O que devemos entender é o caminho que esse plástico deve fazer depois da sua utilização, que é o caminho da reciclagem. 

O senhor tem esperança que um dia teremos uma reforma tributária justa e democrática ao invés de remendos?

Muita coisa boa já foi feita, como o trabalho para baratear o preço do gás, a BR do Mar que diminui o preço da cabotagem, mas eu acho que o foco deveria ser em uma reforma ampla, em uma reforma que o país tivesse um sistema tributário igual ao que temos em outros países. O tamanho do estado no Brasil é exagerado e o serviço público de baixa qualidade e com isso você tem que pagar cada vez mais impostos para sustentar a área administrativa do país. Temos questões de privatizações como a do Correios, Eletrobrás, por exemplo, onde elas seriam muito mais eficazes e acho que o governo errou nisso. 

Na sua percepção, onde a política de Jair Bolsonaro mais acertou e onde ela errou?

Primeiro aquele modelo de governo que nós tínhamos estava muito contaminado pela corrupção, o segundo mandato do governo Lula foi um dos responsáveis pela situação que passamos hoje. Mas o grande acerto desse governo foi ter entrado cedo na reforma previdenciária e também convencer a população da entrada do país em um modelo de economia de mercado. Temos que promover o crescimento das empresas, da atividade econômica e quem gera emprego são as empresas e precisamos fazer um grande esforço para que as empresas se desenvolvam. O discurso era muito bom, eu acho que todos nós empresários estamos alinhados com o discurso de Paulo Guedes, mas o que se perdeu foi no alinhamento para que a população e o Congresso entenda a necessidade dessas mudanças. O grande problema é a criação de uma crise por dia nesse governo, uma falta de foco no que é mais importante; reforma administrativa, tributária e as privatizações; que seria um legado muito grande do atual presidente.

A Fiesp da qual o senhor é vice-presidente sempre teve um papel influenciador na política brasileira, não importa se o governo é progressista ou mais conservador, mas ultimamente perdeu relevância, ou não?

Eu também participei da última gestão da Fiesp como vice-presidente e de outras exercendo outros cargos e fui crítico ao Paulo Skaf que na minha percepção estava muito mais preocupado com uma agenda pessoal do que com a agenda da indústria. Essa agenda precisa cobrar eficiência, qualidade do serviço público, competitividade do país, crescimento econômico, maior exportação. E não era esse o foco do Paulo Skaf, participei da disputa eleitoral. Tivemos mais de 40% dos votos e mostrou que o empresário quer mudanças. O partido dos empresários é a indústria, quando usamos a instituição para se candidatar ao governo, ao Senado ou ao que for, é muito ruim. Não vejo nada contra o empresário querer se candidatar e participar da política. Mas sou contra o uso da instituição como projeto pessoal.

Qual é o alinhamento hoje da presidência da Fiesp?

O atual presidente é um empresário e tem bastante experiência. Ele teve o pai como vice-presidente da República nos dois mandatos do presidente Lula (PT). Ele tem uma afinidade e responsabilidade do que foi o governo Lula nas duas gestões. Eu me lembro da defesa dele quanto à queda dos juros que era muito alta. Agora, o que esperamos é que não misture seu alinhamento com o PT ou seja lá qualquer outro partido que não seja com a agenda da indústria. Quem elege os governantes é o povo, os empresários têm seus votos cada um. Cabe ao empresário manter uma boa relação, fazer críticas quando for necessário e levar suas propostas com uma posição firme em defesa da indústria.

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