“O novo ensino médio é o maior desafio da minha vida”, diz secretária de Educação, Fátima Gavioli

A secretária de Estado da Educação, Fátima Gavioli, comentou sobre as dificuldades e planejamento do retorno das aulas presenciais em Goiás. Fátima disse que o Governo de Goiás reestruturou a parte física das escolas, além do investimento na compra de materiais de higiene e cuidados com a Covid-19. Para a professora, o retorno das aulas presenciais foi muito aguardado pois, o período da pandemia gerou muito desgaste mental para os alunos. “Esse período de pandemia foi de grandes perdas para as crianças. Perdas de aprendizagem, perda da rede de proteção dessa criança que perde a alimentação, água tratada”.

Gavioli disse, em entrevista à Rádio Metropolitana de Valparaíso, que o novo ensino médio deve fornecer ao estudante uma rede completa de formação profissional e acadêmica em diversas áreas do conhecimento. “O novo ensino vai ser o maior desafio da minha vida pois não existe uma orientação nacional. Cada estado está implementando dentro da sua realidade e das suas dificuldades.

Wilson Silvestre: Sobre o retorno das aulas presenciais, como é o monitoramento da secretaria de Educação com esses alunos e professores?

Depois de dois anos de atividades que tinham que ser remotas e tínhamos muitas atividades em formatos híbridos a partir de junho de 2021 e isso se deve a parte da população que ainda não tinha sido vacinada. O ano passado também foi considerado um ano a distância e esses professores se esforçaram muito, as famílias fizeram o que podia para ajudar, mas os estudantes ficaram extremamente cansados e fatigados e nós fomos percebendo a evasão, a desistência e percebemos a falta de estímulo dessas crianças em ir para escola e aprender. Aquela alegria da hora de ir para a escola foi substituída por uma tristeza e depressão.

Esse período de pandemia foi de grandes perdas para as crianças. Perdas de aprendizagem, perda da rede de proteção dessa criança que perde a alimentação, água tratada. Agora estamos chamando essas crianças de volta para ofertar programas de recuperação de aprendizagem e para dizer para todos eles para dizer que a escola está aqui e está preparada para recebê-los.

No fundo, os servidores já não tinham mais motivação para preparar aulas onlines e remotas e a população em geral não quer mais esse modelo. A população quer que a gente venha para uma vida onde temos que conviver com esses vírus. Qualquer pessoa que tomar medidas bruscas de isolamento e fechamento vai estar contrária ao que a população quer.

Wilson Silvestre: Como está o ambiente escolar nas escolas goianas?

Durante a pandemia, nós recebemos uma determinação do governo de que todas as nossas escolas deveriam passar por alguma melhoria. Algumas receberam uma reforma completa e outras ganharam reformas de estruturas, como a troca de uma telhado, pintura e parte elétrica. As 1049 escolas passaram por alguma melhoria durante a pandemia. É lógico que eu não poderia tocar 1049 obras e ter a sorte de ter 1049 boas empresas que venceram as licitações. 

Dessas, 23 empresas venceram a licitação e não conseguiram terminar a obra. Essa eu tenho que licitar novamente, farei a rescisão de contrato e peço a Deus que venha uma empresa boa. Todas as demais estão muito preparadas fisicamente para receber os alunos e servidores de volta. Nós fizemos uma compra de sabonete líquido, compramos álcool e produtos para as escolas. E também mandamos dinheiro para as escolas para adquirir produtos para que as crianças possam ter produtos de limpeza e higienização e ninguém seja exposto. Por parte dos nossos diretores e coordenadores, isso foi feito de forma muito responsável. Foram elaborados murais para trazer informações para esses alunos sobre os cuidados que devem ser tomados.

A ordem que temos do governador é que a escola seja um lugar que traga conforto para todos. Ele visita a sala dos professores para saber que tem sofá, computadores e equipamento para as aulas. Os alunos estão recebendo mochila, material, estojo, uniformes e tudo isso sem custos para os pais.

Uma mãe que tem um filho na escola pública hoje recebe R$ 2,7 mil reais em benefícios por parte do governo. Caso ela tenha dois filhos, você multiplica esse valor por dois, sem burocracia nenhuma. E os pais tem que se comprometer, no ato da inscrição da matrícula, a enviar seus filhos para a escola com o uniforme completo.

Wilson Silvestre: E o monitoramento das aulas e conteúdos para os alunos que não puderem comparecer à escola?

A criança que porventura tenha Covid vai ficar em isolamento por sete dias e nós vamos disponibilizar as aulas através do nosso portal e o aluno vai baixar e fazer essas atividades por lá, como foi feito ao longo do ano passado.

Wilson Silvestre: A demanda no retorno às aulas ultrapassou ou está aquém da expectativa dentro do planejamento da secretaria?

A expectativa de retorno às aulas foi do jeito que estávamos imaginando. As crianças, os estudantes, os pais e alunos estavam ansiosos pelo retorno. Os servidores a gente já sabia, pois temos um contato maior. Um fator que tem interferido bastante nesse retorno são alguns decretos municipais que suspendem as aulas. Eu já estou verificando junto à minha Procuradoria para que os colégios estaduais não suspendam as aulas mesmo que as prefeituras baixem um decreto suspendendo. Se o decreto fala que há um foco de disseminação de Covid-19, ou que a prefeitura está baixando por 10-15 dias por não ter medicamento ou alto índice de contaminação, ele não terá validade na rede estadual. Não temos mais como manter as aulas remotas. Tem prefeito baixando decreto de 30 dias e não existe decreto de 30 dias para Covid. O que vamos fazer com as crianças nesse período, já que as aulas remotas não estão dando certo. Estou buscando legalidade para quando o decreto não estiver claro na suspensão das aulas por foco da Covid, eu poder manter as aulas.

Wilson Silvestre: E como está a preparação para o novo ensino médio?

367 escolas no novo ensino médio onde a carga horária já foi trabalhada desde o ano passado. Hoje o ensino médio não pode ter menos de 3 mil horas. Desde 2019 já iniciamos com essa carga horário em nossos colégios estaduais. O que mudou para todos os alunos é que o estudante passa a ter um protagonismo dentro do ensino médio, onde ele pode escolher as trilhas dentro dos itinerários. E essas trilhas tem uma relação com a região e o local onde essa escola está inserida e tem uma relação com a clientela estudantil. 

Aqui em Goiânia eu vou colocar uma escola que vai focar em ciências biológicas. Todos os estudantes do ensino médio que tem interesse em fazer curso na área da saúde vão pedir matrícula nessa escola. Vamos ter outras escolas voltadas para as aulas de linguagens para os estudantes que querem fazer teatro, direito, jornalismo, artes e etc. Eu vejo no novo ensino médio uma possibilidade de errar menos. Os estudantes vão estar dentro daquilo que tem habilidades e competências. Então os itinerários, as trilhas, os projetos de vida, tudo isso tomado a uma função que surge agora dentro da escola que é o coordenador de área, que só existia no ensino integral e passa a estar também nas escolas com o novo ensino médio. 

Esse professor que vai auxiliar e orientar os estudantes por área do conhecimento passa a ser uma figura muito importante. Não queremos que o aluno apenas saia da escola para ir para a faculdade. Quero que ele seja emporado, que ele domine a área que ele tem habilidades e competências e caso queira fazer o Enem ou montar seu próprio negócio, ele vai ter capacidade para isso.

O novo ensino vai ser o maior desafio da minha vida pois não existe uma orientação nacional. Cada estado está implementando dentro da sua realidade e das suas dificuldades.