Devido às resistências regionais, federações de partidos grandes dificilmente devem prosperar

Questões regionais dificultam a implementação da federação, em especial para partidos grandes e consolidado

Postado em: 05-02-2022 às 07h40
Por: Marcelo Mariano
Imagem Ilustrando a Notícia: Devido às resistências regionais, federações de partidos grandes dificilmente devem prosperar
Questões regionais dificultam a implementação da federação, em especial para partidos grandes e consolidado | Foto: reprodução

Marcelo Mariano

Na última semana, a política brasileira se deparou com a notícia de mais uma tentativa de formação de uma federação partidária, desta vez entre PSDB e MDB, duas das maiores e mais tradicionais siglas do país.

Esse é um movimento que guarda semelhança com a vontade de encontrar uma terceira via, em oposição tanto a Jair Bolsonaro (PL) quanto a Lula (PT), algo muito frequente no ano passado, mas que desacelerou em 2021.

Continua após a publicidade

Em outras palavras, praticamente todo dia alguém cogitava ser candidato a presidente com a finalidade de romper a polarização bolsolulista. No fundo, porém, as pesquisas mostram que a grande maioria desses nomes sequer passam de 1% das intenções de voto.

Agora, é a hora de dirigentes partidários anunciarem, também praticamente todo dia, a permissão para negociar federações. Contudo, eles sabem que as chances de grande parte delas se viabilizarem são poucas ou quase inexistentes.

Sem dúvida, o fator regional é o principal motivo. Diferentemente das coligações, que não estão mais permitidas, as federações contam com a chamada verticalidade, ou seja, a aliança a nível nacional deve se repetir em todos os 26 estados e no Distrito Federal.

Para os partidos grandes, esse é um problema difícil de resolver. Afinal, as especificidades locais podem fazer com que determinadas legendas sejam aliadas em alguns estados, mas estejam de lados completamente opostos em muitos outros.

Por exemplo, no caso de PSDB e MDB, embora haja diretórios regionais que aprovem a federação entre ambas as siglas, elas são, em Goiás, historicamente antagônicas e nunca estiveram em uma mesma chapa nas eleições para governador.

Em 2022, não será diferente. Enquanto o presidente do MDB goiano, Daniel Vilela, é pré-candidato a vice na chapa do governador Ronaldo Caiado (DEM/União Brasil), o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) com certeza estará na oposição, independentemente do cargo que escolher disputar.

Até mesmo partidos médios enfrentam dificuldade parecida. O PSDB também está em discussão com o Cidadania, que faz parte da base caiadista e cujo presidente estadual é o atual vice-governador, Lincoln Tejota.

Como o jornal O Hoje já mostrou, Patriota e PSC, duas legendas longe de serem grandes, também devem ter o desejo de federação interrompido por causa de resistências regionais. No cenário goiano, a primeira tende a caminhar com o prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (sem partido). A segunda, por sua vez, estará com Caiado.

No momento, a federação partidária que parece mais perto de se concretizar é a que envolve PT, PSB, PCdoB, PV e, eventualmente, PSOL e Rede, todas elas legendas que são ideologicamente próximas.

Mesmo assim, há questões regionais a serem resolvidas, especialmente entre PT e PSB. Os petistas já abdicaram de lançar candidatura própria em Pernambuco, mas as conversas sobre São Paulo ainda estão em curso.

Em Goiás, o PSB, presidido pelo deputado federal Elias Vaz, gostaria, a princípio, de apoiar Mendanha, desde que ele não estivesse no mesmo palanque de Bolsonaro. No entanto, o diretório goiano nunca externou qualquer problema em se aliar ao PT.

Em resumo, além da federação da esquerda, a tendência é a de que esse novo mecanismo, permitido após o Congresso Nacional derrubar o veto de Bolsonaro, no final de setembro do ano passado, consiga prosperar apenas com siglas nanicas, pequenas ou, no máximo, médias.

Vale lembrar, por fim, que um dos principais objetivos das federações é ajudar os partidos a atingirem a cláusula de desempenho, uma preocupação que dificilmente será das legendas maiores. Tanto é que foi o PCdoB quem mais articulou a derrubada do veto presidencial. (Especial para O Hoje)

Veja Também