Sem cartas na manga, Rogério Cruz torce para que Anselmo Pereira aceite liderança

Depois de uma sequência de desgastes enfrentados pela prefeitura em ano eleitoral, são poucos os que agora se interessam em vestir a camisa do ex-titular, Sandes Jr

Postado em: 15-02-2022 às 08h37
Por: Felipe Cardoso
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Depois de uma sequência de desgastes enfrentados pela prefeitura em ano eleitoral, são poucos os que agora se interessam em vestir a camisa do ex-titular, Sandes Jr | Foto: Reprodução

Durante entrevista coletiva na última segunda-feira (14/2), o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), confirmou ter convidado o vereador Anselmo Pereira (MDB) para assumir a liderança do Governo na Câmara Municipal. O parlamentar já atuava, ainda que timidamente, na posição de líder depois da debandada do vereador Sandes Jr (PP), em janeiro deste ano. 

Ao comentar o assunto na manhã de ontem, o prefeito destacou que Anselmo, na posição de vice-líder, já estaria ocupando “interinamente” o papel para o qual foi convidado. “Fizemos um convite a Anselmo. Estamos aguardando a resposta”.  Cruz aproveitou também para rememorar as razões pela qual o ex-líder teria deixado o posto, o que, segundo o gestor, passa pelo seu interesse em se dedicar à pré-candidatura ao cargo de deputado federal.

Na contra mão do que foi declarado, porém, o vereador Sandes Jr diz ainda não saber se entrará para o páreo como candidato a deputado federal ou estadual. Conforme já mostrado pelo O Hoje, seu destino dependerá, na verdade, de uma série de pesquisas que serão iniciadas num futuro não muito distante.

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“O meu compromisso era ficar só um ano. Fiz um levantamento e tudo o que o prefeito mandou foi aprovado. Ou seja, tivemos 100% de aprovação durante o período em que estive na liderança”, disse o vereador em entrevista à reportagem um dia antes de entregar o posto.  

Questionado, à época, sobre seu possível sucessor, o parlamentar disparou: “são 32 vereadores da base, o prefeito estará muito à vontade para escolher. Particularmente, não faço ideia de quem possa ser”.

Não é bem assim

O tempo passou e mostrou que, sabiamente, Sandes deixou a liderança no momento certo. Menos de 30 dias depois de anunciar sua decisão, a sociedade civil se levantou em uma grande pressão contra a prefeitura de Goiânia e os vereadores. As ações de protesto vieram juntamente com os reflexos práticos da aprovação, em Setembro de 2021, do novo Código Tributário pelos vereadores.

O aumento desenfreado do IPTU e ITU para boa parte dos contribuintes, fez com que a população se rebelasse contra Rogério Cruz e os mais de 30 parlamentares que aprovaram a matéria. Na esteira do amplo desgaste para os mandatários, a Câmara ainda pautou outro projeto polêmico: a revisão do Plano Diretor de Goiânia. O que minimizou o problema.

Isso porque a prefeitura queria aprová-lo, como fez com o Código Tributário, à toque de caixa. A matéria chegou ao Legislativo em dezembro com expectativa de votação definitiva para o dia 23 daquele mesmo mês. Por decisão judicial, a discussão foi postergada. Durante o mês de janeiro algumas audiências públicas foram realizadas, em cumprimento à ordem da Justiça, porém, a população não deixou clamar por mais tempo para discussão do texto. Mesmo assim, o Parlamento foi adiante e colocou um ponto final na história a contragosto do povo. 

Dito isso, é evidente que Sandes tenha deixado a liderança na hora certa. Agora, são poucos os que se interessam em vestir a camisa do ex-titular. O principal receio é, sem dúvidas, o desgaste político especialmente em ano eleitoral onde a maioria da Câmara se fará presente na disputa. Restou a Anselmo, com sua experiência de dez mandatos, comandar o time – abalado – do prefeito na Casa de Leis.

A vantagem para o prefeito é que Anselmo é mais habilidoso e experiente quando comparado a seu antecessor. Para Anselmo, a vantagem, no entanto, se resume a estreitar ainda mais os seus laços com a prefeitura e, claro, não figurar na disputa deste ano. Isso quer dizer que para ele não haverá, ao menos de imediato, nenhum prejuízo prático para sua imagem ante as diversas derrapadas do Executivo nos últimos meses. 

Prioridade 

Conforme mostrado pelo O Hoje, ainda em agosto do ano passado, já havia uma vontade de substituição do líder. À época, esperava-se que as conversações sobre o assunto fossem findadas já na retomada das atividades, em 10 de agosto, o que não aconteceu. O prazo foi “ligeiramente adiado”, porém, outras polêmicas tomaram conta do cenário político goianiense e fizeram com que a prefeitura concentrasse seus esforços naquilo que era mais urgente.

As previsões em relação ao nome de um possível sucessor ou sucessora continuaram as mesmas até dezembro do ano passado. Para além do óbvio — que passava pelo nome de Leandro Sena, líder do Republicanos e que recentemente encabeçou o movimento dos “enganados” pela gestão Rogério Cruz sobre o IPTU  —,  a leitura era de que a prefeitura tinha como prioridade a vereadora Sabrina Garcez (PSD). 

Ela, na avaliação do Paço, além de “experimentada”, sempre carregou outros alicerces dignos de atenção por parte do Executivo, dentre eles o livre trânsito entre os colegas e alto poder de influência no Legislativo. 

Mas agora é tarde demais para que o prefeito a tenha ao seu lado nessa missão, haja vista o desgaste enfrentado pela parlamentar –que será candidata a deputada federal– por ter sido relatora das duas matérias mais polêmicas dos últimos meses (o Código Tributário e o Plano Diretor). Comprar uma nova briga com a sociedade em ano eleitoral seria, no mínimo, amadorismo; o que não condiz com o perfil da vereadora.

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