Conflito entre Rússia e Ucrânia pode impactar economia goiana

Superintendente de Negócios Internacionais do governo estadual diz que situação “é muito preocupante”

Postado em: 25-02-2022 às 08h09
Por: Marcelo Mariano
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Superintendente de Negócios Internacionais do governo estadual diz que situação “é muito preocupante” | Foto: Reprodução

O mundo acordou apreensivo nesta quinta-feira (24). Após semanas com as tensões elevadas no Leste Europeu, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou ataques contra o território ucraniano.

Na avaliação do superintendente de Negócios Internacionais do governo estadual, Alexandre César, a situação “é muito preocupante” e tem potencial de impactar a economia de Goiás, apesar de ainda ser “muito cedo para prever”.

De acordo com dados da balança comercial goiana de novembro de 2021, os mais recentes divulgados pela Secretaria de Desenvolvimento e Inovação (Sedi), a Rússia está entre os principais parceiros do estado.

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Neste mês em questão, a Rússia foi o terceiro maior país de origem das importações de Goiás, representando 7,45% do total, atrás apenas de Argentina (36,85%) e China (11,76%), e à frente até mesmo dos Estados Unidos (5,65%), que estão na quarta posição.

No acumulado de janeiro a novembro do ano passado, a Rússia é ultrapassada por EUA e Alemanha e cai um pouco, mas continua entre os cinco. Os produtos que Goiás mais compra dos russos são cloreto de potássio, amônio e ureia, todos eles ligados à produção de fertilizantes, que são utilizados na agricultura.

“Compramos bastante fertilizantes da Rússia”, ressalta Alexandre César, segundo o qual esse é um ponto para prestar atenção. “Somos um estado eminentemente agrícola. Essa é uma vocação nossa.”

O superintendente de Negócios Internacionais lembra que Goiás não é autossuficiente em relação aos fertilizantes. “Quem sabe no futuro, com as rochas e os minérios que temos por aqui, mas, hoje, a relação bilateral com os russos é muito importante e, por isso, a guerra preocupa.”

No caso das exportações de Goiás para a Rússia, o volume comercial é menor. Mesmo assim, vale destacar que, em novembro, o país figurou entre os 15 primeiros destinos de produtos goianos, especificamente na 13ª colocação. Os mais vendidos são pulverizadores, carne bovina, carne de aves e glicerol.

Por parte da Ucrânia, as relações comerciais com Goiás são ainda mais fracas, e o país não aparece entre os principais parceiros. De qualquer forma, convém registrar que os produtos mais importados dos ucranianos são painéis LCD e LED, enquanto pulverizadores, carne de aves, carne bovina, ferro-níquel e açúcar se destacam como os mais exportados.

Alexandre César pontua que é necessário aguardar os próximos desdobramentos para ter uma noção mais adequada dos reais impactos. Ele chama a atenção também para o impacto humanitário e se diz confiante na solução do conflito por vias diplomáticas.

“Brasil e Goiás têm uma tradição pacífica. Não gostamos de guerra e esperamos que tudo se resolva dentro da diplomacia porque precisamos conquistar a paz. A área internacional do governo estadual clama pela paz”, frisa. 

Entenda a crise

Para entender as motivações da Rússia por trás do ataque à Ucrânia, considerado ilegal do ponto de vista do direito internacional, é precisar voltar ao século 9, quando foi criada a chamada Rússia de Kiev, que deu origem à civilização russa e estava localizada onde hoje se encontra o território ucraniano.

Damos, então, um pulo na história e chegamos a 1949, ano em que, no contexto de Guerra Fria, criou-se a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderada pelos Estados Unidos a fim de conter a expansão soviética na Europa.

Em 1991, com o colapso da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a Otan teria feito um compromisso, na interpretação da Rússia, de não incluir como membros países do Leste Europeu, mas ocorreu o oposto.

A Rússia enfrentava um período de baixa, e a Otan se aproveitou desse momento para incluir na organização países que faziam parte da zona de influência soviética, como, por exemplo, a Polônia, e até mesmo ex-repúblicas da URSS, como Estônia, Letônia e Lituânia.

Putin chega ao poder no final dos anos 1990 e, desde então, busca recuperar o nacionalismo russo. A guerra na Geórgia, em 2008, e a anexação da Crimeia, em 2014, fazem parte dessa estratégia.

Logo, para o presidente russo, é inadmissível a Ucrânia flertar com uma adesão à Otan devido a aspectos tanto políticos como culturais, e ele se arrisca em um conflito, violando a soberania de um país independente, com o objetivo de evitar esse desfecho.

A Otan até defende o direito do governo ucraniano querer entrar na organização, algo que, inclusive, está na Constituição do país. No fundo, porém, não é o que a aliança militar gostaria, haja vista que, se algum membro for atacado, todos os outros são obrigados a defendê-lo, e a Ucrânia está em uma posição vulnerável.

Há, ainda, uma questão comercial. A localização geográfica da Ucrânia faz dela uma rota de gasodutos russos rumo ao restante do continente europeu. Aliás, é justamente em razão da dependência de parte da Europa no gás da Rússia que dificulta retaliações mais duras. Definitivamente, as sanções impostas até o momento não são suficientes para barrar os planos de Putin.

Principais países de origem das importações goianas (jan. a nov. 2021)

1 Argentina (19,99%)

2 China (14,85%)

3 Estados Unidos (8,73%)

4 Alemanha (7,42%)

5 Rússia (5,75%)

Principais países de origem das importações goianas (nov. 2021)

1 Argentina (36,85%)

2 China (11,76%)

3 Rússia (7,45%)

4 Estados Unidos (5,65%)

5 Uruguai (5,63%)

Principais países de destino das exportações goianas (nov. 2021)

1 China (24,81%)

2 Emirados Árabes Unidos (5,45%)

3 Alemanha (5,36%)

4 Espanha (5,26%)

5 Estados Unidos (4,57%)

13 Rússia (2,43%)

Principais produtos na pauta comercial entre Goiás e Rússia

Exportações de Goiás para Rússia: pulverizadores, carne bovina, carne de aves e glicerol

Importações da Rússia para Goiás: cloreto de potássio, amônio e ureia

Principais produtos na pauta comercial entre Goiás e Ucrânia

Exportações de Goiás para Ucrânia: pulverizadores, carne de aves, carne bovina, ferro-níquel e açúcar

Importações da Ucrânia para Goiás: painéis LCD e LED

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