Desistência de Boulos ao governo de SP com possível apoio a Haddad é vista com bons olhos
Representantes de partidos de esquerda em Goiânia avaliam postura como correta
Por: Augusto Diniz
O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), anunciou nesta segunda-feira (21/3) que desistiu de disputar o cargo de governador paulista na eleições de outubro. Boulos informou que será pré-candidato a deputado federal. “O momento do Brasil é crítico e exige gestos políticos e generosidade”, disse.
De acordo com o político do PSOL, o momento é de defender a unidade da esquerda para derrotar o “Tucanistão e o bolsonarismo no Estado de São Paulo”. Logo depois que Boulos fez o anúncio, o presidente nacional do partido, Juliano Medeiros, afirmou que só o pré-candidato a governador do PT no Estado, o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, tem condições de derrotar o PSDB nas urnas após a desistência do nome do PSOL.
Para Juliano Medeiros, “como candidato a deputado federal, Boulos poderá ajudar a consolidar uma bancada ainda mais expressiva da esquerda e do PSOL na Câmara dos Deputados”. Em Goiás, os ex-candidatos a prefeito da esquerda nas eleições de 2020 avaliam ver com bons olhos a decisão do líder do MTST em São Paulo.
A professora Manu Jacob, que concorreu à Prefeitura de Goiânia pelo PSOL, disse que o anúncio de Boulos “é uma sinalização a esse sufocamento que existe hoje com a legislação eleitoral dos partidos não alcançarem a cláusula de barreira e caírem na clandestinidade”. “Hoje no PSOL existe um debate se vamos apoiar a pré-candidatura do Haddad, o que ainda não está colocado, ou se vamos ter candidatura própria. Discutimos coletivamente, mas o indivíduo também tem um poder de decisão.”
Para Manu, o anúncio de Boulos sensibiliza para a situação imposta pela cláusula de barreira aos partidos ideológicos, com bandeiras definidas. “Vemos com bons olhos a pré-candidatura para deputado federal, assim como se ele fosse a governador. […] A partir dessa decisão, vamos discutir com o PT sobre o apoio ao Haddad. No partido, alguns setores indicam a candidatura própria do PSOL em São Paulo”, explicou.
Candidatura de viabilidade
Ex-candidato a prefeito de Goiânia e ex-presidente estadual do Unidade Popular (UP), Fábio Júnior, que agora está no PT, disse entender a posição de Boulos como “corretíssima”. “Foi um dos motivos de eu ter saído do Unidade Popular, essa questão de lançar candidatura para marcar posição. A minha ideia é que as candidaturas têm de ter viabilidade. E hoje a candidatura que tem viabilidade para ganhar as eleições em São Paulo é a do Haddad.”
De acordo com Fábio Júnior, o momento não é de dividir esforços quando o PSOL precisa eleger uma bancada em São Paulo de deputados federais para continuar a atingir a cláusula de barreira. “E eleger essa bancada depende fundamentalmente do Boulos ser eleito e conseguir arrastar mais dois ou três deputados federais. Porque recentemente o PSOL teve uma perda muito grande militantes, filiados e parlamentares”, ponderou.
Fábio Júnior afirmou que a criação da confluência entre PSOL e PT em São Paulo será fundamental para derrotar o bolsonarismo no território paulista.
Gesto de responsabilidade
“Eu vi um gesto de extrema responsabilidade com o País e com os nossos sonhos de ter novamente desenvolvimento com inclusão social, que se aprofunda no seu processo democrático e que tenha políticas sociais para tentar reduzir a desigualdade imensa que vivemos”, destacou a deputada estadual e ex-prefeitável em Goiânia, Adriana Accorsi (PT).
Adriana disse receber a postura de Boulos como um gesto de responsabilidade, generosidade e maturidade política. “Fique extremamente feliz. Creio que muitos dos nossos líderes precisam ter essa responsabilidade agora. É disso que precisamos. Não é porque está se retirando uma pré-candidatura para apoiar o meu partido. Se o meu partido estivesse longe de ganhar e um democrata pudesse vencer o fascismo representado por [presidente Jair] Bolsonaro (PL), nós faríamos isso.”
Para a deputada estadual do PT, o líder do MTST foi responsável e pensou no País ao tomar a decisão de hoje.