Tática “nem fui nem voltei” de Doria se mostra um desastre de quem precisa de carta sem valor para mostrar força

Agora ex-governador de São Paulo, tucano expôs fragilidade do PSDB, da pré-candidatura a presidente, da confiança da executiva nacional e de Rodrigo Garcia, que assumiu Palácio dos Bandeirantes com ameaça de deixar partido

Postado em: 01-04-2022 às 19h04
Por: Augusto Diniz
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Agora ex-governador de São Paulo, tucano expôs fragilidade do PSDB, da pré-candidatura a presidente, da confiança da executiva nacional e de Rodrigo Garcia, que assumiu Palácio dos Bandeirantes com ameaça de deixar partido | Foto: Reprodução/Facebook

A quinta-feira (31/3) foi movimentada na agenda do governo de São Paulo. Os corredores do Palácio dos Bandeirantes passaram da definição do novo governador, Rodrigo Garcia (PSDB), ao anúncio do então ocupante do cargo, João Doria (PSDB), de que se sentia traído pelo ninho tucano e se manteria no governo. Foi a chave para uma crise que expôs ainda mais a fragilidade do PSDB nacional, mas que, inicialmente, foi definida por Doria como “estratégia” do “nem fui nem voltei”.

O pré-candidato a presidente da República chegou lá após vencer um processo de prévias bastante conturbado. Sabia-se que o resultado daria em racha e que o perdedor ameaçaria sair do PSDB. Não deu outra. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, insatisfeito com a derrota interna para Doria, foi conversar com o PSD, que já não contava mais com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como seu escolhido.

Leite, depois de trabalho árduo do grupo do deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), decidiu permanecer no ninho tucano e rejeitar a oferta de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, para se filiar ao partido e consolidar seu nome para disputar o Palácio do Planalto. Ao invés disso, governador gaúcho renunciou ao cargo na terça-feira (29/3) e começou a fazer uma campanha paralela para virar o pré-candidato do PSDB na corrida nacional.

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Doria ficou incomodado e resolveu ficar em São Paulo. Só que ele tinha um acordo com o vice. Garcia assumiria o governo paulista, já tinha montado sua futura equipe e a plataforma para disputar a reeleição em outubro. Da noite de quarta-feira (30/3) à tarde de ontem, o desentendimento entre Doria e Garcia foi tão grande nos bastidores que o agora governador pode sair do PSDB, se filiar ao União Brasil, seu antigo parido [Rodrigo Garcia saiu do DEM no início de 2021 para se filiar ao PSDB], e lançar o secretário de Fazenda e Planejamento de São Paulo, Henrique Meirelles, pré-candidato a vice-governador pelo MDB. Meirelles, depois de desistir de concorrer ao Senador pelo PSD de Goiás, iria para o solo emedebista na capital paulista.

Movimento de João Doria (direita na foto) forçou Bruno Araújo (esquerda) a assinar carta com confirmação da pré-candidatura a presidente do ex-governador de São Paulo | Foto: Divulgação/Governo de São Paulo

Encurralado

Sem opção, Doria voltou atrás. O que ontem era estratégia, hoje já virou objetivo do partido no discurso durante filiação do deputado federal Rodrigo Maia ao PSDB. O ex-governador de São Paulo fez um apelo ao presidente nacional tucano, o deputado federal Bruno Araújo (PSDB-PE), que assinou uma carta reconhecendo a pré-candidatura de João Doria a presidente no partido.

Mas quem acredita na força de uma carta não se lembra da história ocorrida em 2016 em Goiânia com o falecido ex-prefeito Iris Rezende (MDB). Quem aqui não se lembra que o emedebista convocou a imprensa para assinar um documento e decretar o fim de sua vida política acredita no poder de manutenção da carta de Bruno Araújo.

O próprio presidente nacional do PSDB disse nesta sexta-feira que o movimento de Eduardo Leite de fazer uma espécie de “campanha paralela” para se viabilizar dentro do ninho tucano como o candidato numa possível coligação com União Brasil, MDB e Cidadania é do jogo. Doria que se cuide!

Doria ou Leite?

Com as rachaduras do PSDB nacional expostas para qualquer um ver na disputa de Doria e Leite pela candidatura a presidente da República, os caminhos do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficam cada vez mais abertos para a consolidação de um segundo turno entre eles, sem chance alguma de um nome da chamada terceira via se viabilizar.

Na mesma terceira via, o ex-juiz Sergio Moro, que ocupou o cargo de ministro da Justiça e da Segurança Pública no governo Bolsonaro, achou que sua vida seria mais fácil na política eleitoral só pelo reconhecimento que ganhou nacionalmente ao julgar processos de figurões investigados pela Operação Lava Jato. Descobriu com o pragmatismo e a dureza da realidade que o Podemos não tinha condições de oferecer palanque e condições financeiras para tornar viável sua pré-candidatura a presidente.

Tragédia anunciada

O resultado foi trágico. Quatro meses após a filiação ao Podemos, Moro se reduziu de pré-candidato a presidente da República a recém-chegado ao União Brasil vetado na corrida ao Palácio do Planalto. Por enquanto, restou ao ex-juiz se apequenar como postulante à Câmara dos Deputados, talvez por São Paulo.

Moro e Doria correm o risco de não chegarem em agosto como candidatos a presidente. Tudo pode mudar, mas o espaço fica cada vez menor para um dos dois se viabilizar. E as prévias tucanas, que foram pintadas como um movimento partidário democrático de escolha, revela agora aquilo que já estava posto em 2021: a receita para o fracasso de um partido cada vez mais dividido e apequenado. Que o diga Geraldo Alckmin!

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