Por que tantos ministros e secretários de Estado deixam o governo em que estavam para disputar eleições?

Uma coisa é fazer parte de uma gestão. A outra é receber votos e ser dono do mandato por quatro anos

Postado em: 08-04-2022 às 18h26
Por: Augusto Diniz
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Uma coisa é fazer parte de uma gestão. A outra é receber votos e ser dono do mandato por quatro ou oito anos | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Quase sempre, o secretário que se destaca vira candidato. E a história política do País, desde a redemocratização, traz cada vez mais exemplos disso. Os dois presidentes que antecederam Jair Bolsonaro (PL) ocuparam cargos no primeiro escalão em governos antes de serem eleitos. Michel Temer (MDB) foi secretário de Segurança Pública em São Paulo três vezes. Em seguida, assumiu cargo de deputado federal em todas as ocasiões.

O mesmo ocorreu com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Figura importante no primeiro escalão na gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dilma ficou de 2003 a 2005 como ministra de Minas e Energia e depois, de 2005 a 2010, comandou a Casa Civil. Batizada de “mãe do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]”, virou a sucessora de Lula nas eleições presidenciais de 2010.

Ainda no Palácio do Planalto, o caso de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) é simbólico sobre a figura do ministro que vira um candidato a presidente viável. FHC foi de ministro das Relações Exteriores a ministro da Fazenda, cargo hoje ocupado por Paulo Guedes (Economia), na gestão Itamar Franco (MDB). Foi sob o comando de Fernando Henrique que, naquele momento, foi criado o Plano Real em 1994, que trouxe estabilidade a um país afundado na herança inflacionária da ditadura militar. No mesmo ano, o tucano foi eleito presidente da República.

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Em Goiânia, podemos citar o exemplo recente do então secretário municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh), Henrique Alves. Foi na gestão Iris Rezende (MDB) que Henrique se destacou por encabeçar o projeto original de revisão do Plano Diretor da capital, concluído e enviado aos vereadores no meio do ano de 2019. Em 2020, Henrique Alves foi eleito vereador.

Os quatro exemplos, poucos dentro de um universo rotineiro, evidenciam que a migração da equipe de um governo para uma cadeira no Poder Legislativo se dá como uma espécie de movimento esperado. O titular de uma secretaria ou ministério que se destaca no Executivo tenta aproveitar o nome em evidência para se eleger vereador, deputado ou senador.

Ex-ministros de Bolsonaro

No governo Bolsonaro, dez ministros entregaram os cargos no primeiro escalão até o dia 2 de abril, se filiaram a algum partido e vão colocar seus nomes na corrida eleitoral. O ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, bastante alinhado com o presidente, deve ficar com a vaga de candidato a vice-presidente pelo PL.

Os outros nove nomes ministeriais de Bolsonaro que vão aparecer nas urnas são Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), João Roma (Cidadania). Os três se colocam como pré-candidatos a governador. Onyx (PL) no Rio Grande do Sul, João Roma (PL) na Bahia e Tarcísio (Republicanos) em São Paulo.

Flávia Arruda (Governo), Gilson Machado (Turismo), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Tereza Cristina (Agricultura) deixaram o governo Bolsonaro de olho em vaga no Senado. Flávia pelo Distrito Federal, Gilson no Pernambuco, Marinho no Rio Grande do Norte e Tereza (PP) no Mato Grosso do Sul. Cada um vai tentar se escorar nas realizações à frente de cada pasta para tentar ser eleito.

Força de Damares Alves

A ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, se filiou ao Republicanos, partido da Igreja Universal, mas ainda não decidiu qual cadeira irá disputar, nem em qual Estado. Damares, que é pastora e goza de boa reputação no meio evangélico, pode concorrer ao Senado pelo Amapá ou ir a deputada federal no Distrito Federal. Quem riu da fala da ex-integrante do governo Bolsonaro sobre ver Jesus na goiabeira corre o risco de ter que ver por quatro ou oito anos, a depender do cargo, de Damares no Congresso Nacional.

O astronauta Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia e Inovações) está de olho em vaga na Câmara dos Deputados por São Paulo. Ele fecha a lista do primeiro escalão da gestão Bolsonaro que deixou o cargo para entrar na corrida eleitoral. Por mais que um cargo de ministro traga prestígio, o poder conquistado pelo voto dá mais liberdade e influência àquela figura.

Em Goiás

Dois secretários estaduais que se destacaram na gestão Ronaldo Caiado (União Brasil) aparecem, para líderes partidários, como fortes concorrentes nas eleições de outubro. Titular da Secretaria de Saúde, Ismael Alexandrino teve atuação reconhecida por Caiado durante os dois primeiros anos da pandemia de covid-19 em Goiás. Esperava-se que se filiasse ao União Brasil, mas optou pelo PSD para tentar vaga de deputado federal.

Outro que chega como um dos grandes nomes saídos do governo do Estado é o delegado aposentado da Polícia Federal Rodney Miranda, que liderou a Secretaria de Segurança Pública e a queda dos índices de criminalidade. Foi para a linha de frente nas buscas que deram fim a caso Lázaro Barbosa com a morte do suspeito de quatro homicídios durante uma tentativa de assalto em Ceilândia, no Distrito Federal.

Rodney Miranda, que já foi deputado estadual no Espírito Santo e prefeito de Vila Velha (ES), continua filiado ao Republicanos daquele Estado e quer chegar à Câmara dos Deputados. Se tentar por Goiás, vai usar a atuação na Secretaria de Segurança Pública para isso.

Na capital

Depois de trocar o PSDB pelo PL para concorrer à Prefeitura de Goiânia em 2020, a ex-vereadora Dra. Cristina Lopes se filiou ao PDT para concorrer a vaga de deputada federal. Cristina deixou o cargo de secretária municipal de Direitos Humanos e Políticas Afirmativas no mês passado para participar das eleições. Abrigada pelo prefeito Rogério Cruz (Republicanos) no Paço depois de ficar sem mandato, Cristina quer volta a ocupar uma cadeira no Legislativo.

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