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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Privilégios da caserna

MPF pode investigar superfaturamento na compra das Forças Armadas de remédio para impotência sexual

Além de Viagra, Ministério da Defesa adquiriu por meio de pregão e dispensa de licitação carne de primeira e medicamento para calvície

Postado em 11 de abril de 2022 por Augusto Diniz

Com base em informações repassadas pelo deputado federal Elias Vaz (PSB) à colunista Bela Megale, do jornal O Globo, o parlamentar e o também deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) vão pedir que o Ministério Público Federal (MPF) investigue a suspeita de superfaturamento na compra de remédio para impotência sexual pelo Ministério da Defesa para as Forças Armadas. Além de Viagra, foram adquiridos medicamentos para calvície e carnes de primeira para o Exército, Marinha e Aeronáutica.

O levantamento feito pelo deputado por Goiás aponta que o preço pago pelo Ministério da Defesa nos comprimidos de Sildenafila, que é o princípio ativo do Viagra, para o Exército pode ser 143% mais caro do que a compra feita para a Marinha uma semana antes.

De acordo com o processo de aquisição número 00106/2020, quando foram adquiridos 15.120 Sildenafilas de 25 miligramas (mg), o preço do comprimido era descrito como R$ 3,65 por unidade. O pregrão foi realizado no dia 7 de abril de 2021 e era específico da Marinha. Já na compra realizada por meio do processo 00099/2020, realizado uma semana depois para o Exército, o valor cobrado pelo medicamento comumente usado para combater a impotência sexual foi de R$ 1,50 por comprimido.

As compras, tanto para a Marinha quanto para o Exército, tinham como destinos militares lotados no Rio de Janeiro. À coluna da jornalista Bela Megale, Elias Vaz disse que “além de gastar dinheiro público com Viagra, tudo indica que o governo Bolsonaro ainda comprou acima do preço de mercado”.

“O Congresso Nacional e toda sociedade merecem uma explicação. O brasileiro está amargando um reajuste terrível no valor de medicamentos e faltam remédios para doenças crônicas nas unidades de saúde. Enquanto isso, o governo está gastando para atender as Forças Armadas com Viagra”, afirmou Vaz ao O Globo.

35 mil comprimidos

No Portal da Transparência do governo federal, a informação que consta é a de que as compras aprovadas são para mais de 35 mil comprimidos de Viagra para as Forças Armadas. Nos dados apresentados pelo deputado Elias Vaz, o parlamentar do PSB goiano pede explicações ao Ministério da Defesa sobre a realização de oito pregões nos anos de 2020 e 2021, parte ainda em vigor em 2022.

São 5 mil comprimidos para o Exército, 2 mil para a Aeronáutica e 28.320 para a Marinha, todos para unidades no Rio de Janeiro. “Precisamos entender por que o governo Bolsonaro está gastando dinheiro público para comprar Viagra e nessa quantidade tão alta. As unidades de saúde de todo o país enfrentam, com frequência, falta de medicamentos para atender pacientes com doenças crônicas, como insulina, e as Forças Armadas recebem milhares de comprimidos de Viagra. A sociedade merece uma explicação”, cobrou Elias Vaz em entrevista à coluna.

Questionada pela coluna, a Marinha e a Aeronáutica informaram que as licitações visam ao tratamento de pacientes com Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP), “uma síndrome clínica e hemodinâmica que resulta no aumento da resistência vascular na pequena circulação, elevando os níveis de pressão na circulação pulmonar”.

Resposta das Forças Armadas

De acordo com a Marinha e a Areonáutica, o Viagra serve para tratamento de militares com hipertensão arterial pulmonar (HAP), uma síndrome que “pode ocorrer associada a uma variedade de condições clínicas subjacentes ou a uma doença que afete exclusivamente a circulação pulmonar”, de acordo com a resposta das duas corporações. “Doença grave e progressiva que pode levar à morte”, disse a Marinha.

O Exército não se manifestou sobre o caso.

Carne de primeira

Em outra compra, o Ministério da Defesa, ainda sobe a gestão do general da reserva do Exército Walter Braga Netto (PL), que pode se tornar pré-candidato a vice-presidente na chapa de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), autorizou gasto de R$ 56 milhões com picanha, salmão e filé mignon de janeiro de 2021 a fevereiro de 2022. A informação foi revelada pela colunista na sexta-feira (8/4).

O levantamento do deputado Elias Vaz identificou gastos de R$ 25,3 milhões em 557,8 mil quilos de filé mignon para o comando da Marinha, Aeronáutica e Exército. A compra atende também à Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel).

Nos itens de primeira linha estão incluídos 373,2 mil quilos de picanha, que custaram R$ 18,7 milhões, além de 254 mil quilos de salmão por R$ 12,2 milhões. Nas modalidades de compra estão pregões ou aquisições feitas pelo Ministério da Defesa por meio de dispensa de licitação. “É vergonhoso! Enquanto tem brasileiro se alimentando de sopa de osso, o governo Bolsonaro gasta milhões com luxos para um pequeno grupo”, declarou o deputado.

Filé mignon mais caro

E continuou: “Com certeza esse cardápio não é para os soldados rasos, mas para a cúpula das Forças Armadas”. Parte do mercado com recursos públicos das Forças Armadas é analisado como suspeita de sobrepreço, como no caso do Viagra. Um dos que levantou suspeita foi a compra de 23 mil quilos de filé mignon destinada ao Grupamento de Apoio do Galeão, no Rio. O valor está previsto em R$ 71 o quilo, de acordo com o pregão realizado em fevereiro e dezembro de 2021. Dois meses antes, outro pregão comprou a mesma carne por preço menor.

Com valor mais barato, 10,6 mil quilos de filé mignon foram comprados para a Academia Militar dos Agulhas Negras (Aman), no Rio, por R$ 49,90 o quilo. Em outro pregão com o mesmo preço da carne, 21,6 mil quilos foram para o Hospital Naval Marcílio Dias. “O preço da carne não subiu 42% nesse período. Há indícios de irregularidades e vamos investigar detalhadamente todos os processos. Caso sejam constatados problemas, vamos denunciar ao Tribunal de Contas da União.”

Total das compras

Elias Vaz e outros nove parlamentares do PSB denunciaram em fevereiro de 2021 as compras consideradas de alimentação de luxo destinada às Forças Armadas com dinheiro público durante a pandemia. De acordo com o Painel de Preços do Ministério da Economia, foram feitas compras de 714 mil quilos de picanha, 80 mil cervejas das marcas Heineken e Stella Artois, mais de 150 mil quilos de bacalhau, 438,8 mil quilos de salmão, 1,2 milhão de quilos de filé mignon, garrafas de uísque 12 anos e conhaque.

O MPF e o Tribunal de Contas da União (TCU) foram acionados. Na ocasião, o TCU recomendou que as compras fossem fiscalizadas. Em seguida, o Ministério Público Federal encaminhou os casos aos Estados e mais de 20 investigações foram instauradas.

Remédio para calvície

Além de Viagra e carnes de primeira, as Forças Armadas também compraram remédio para calvície. Minoxidil e Finasterida, medicamentos para queda de cabelo, foram adquiridos. De 2018 a 2020, o gasto foi menor do que com alimentação de luxo e remédio para impotência sexual: R$ 2,1 mil. As informações sobre o Minoxidil e Finasterida foram reveladas pelo colunista Guilherme Amado, do Metrópoles.

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