“Vai ser uma eleição no país com forte apelo econômico”, diz o economista Paulo Tafner

"É o efeito do choque de oferta da pandemia e agora com a guerra na Ucrânia. O Brasil não ficou de fora, a Inglaterra está batendo recorde de inflação, o Japão, a Índia e o Brasil estão caminhando para uma inflação de 10,5%-11%"

Postado em: 18-04-2022 às 08h49
Por: Redação
Imagem Ilustrando a Notícia: “Vai ser uma eleição no país com forte apelo econômico”, diz o economista Paulo Tafner
"É o efeito do choque de oferta da pandemia e agora com a guerra na Ucrânia. O Brasil não ficou de fora, a Inglaterra está batendo recorde de inflação, o Japão, a Índia e o Brasil estão caminhando para uma inflação de 10,5%-11%" | Foto: Reprodução

Por Wilson Silvestre

Paulo Tafner é um pesquisador e economista brasileiro conhecido pelo seu trabalho na área da macroeconomia e da política social. Em entrevista ao Face do Poder do O Hoje News, ele explica que o forte apelo econômico pode decidir os rumos da eleição presidencial.

A alta da inflação experimentada pelo país e pelo mundo deve ser a bússola dos eleitores em outubro. Ele argumenta que, apesar da alta da inflação e crise econômica, o fator mundial pode não punir tanto os atuais governantes como em outras eleições passadas.

Continua após a publicidade

Silvestre: Inflação em alta, renda em baixa com um crescente número de famílias vivendo abaixo da linha da pobreza, tem como olhar a disputa eleitoral com otimismo?

É uma situação que está ocorrendo no Brasil e no mundo. Saiu a prévia da inflação nos Estados Unidos e o indicativo é que a inflação de 12 meses chegue a 8,5%, é a maior inflação desde os anos 70, são 50 anos. É o efeito do choque de oferta da pandemia e agora com a guerra na Ucrânia. O Brasil não ficou de fora, a Inglaterra está batendo recorde de inflação, o Japão, a Índia e o Brasil estão caminhando para uma inflação de 10,5%-11%. Isso compromete a renda dos trabalhadores, especialmente dos trabalhadores mais pobres e a eleição vai se dar nesse cenário. Ao que tudo indica, nós teremos um cenário polarizado e a população terá que tomar as decisões que julgarem mais adequadas para o país e para o seu bem estar.

SILVESTRE – Os números dos indicadores brasileiros mostram que o Brasil avança na retomada econômica, pelo menos no noticiário oficial, mas para a população média, está longe de uma retomada. A inflação tende a cair ou segue em alta?

Vamos pegar a retrospectiva a partir da pandemia. Quando ela começou no final de 2019 e início de 2020 o governo e suas lideranças definiram o auxílio emergencial e, nós do instituto de mobilidade e desenvolvimento social acabamos de liberar um trabalho a partir dos dados oficiais do IBGE mostrando que o auxílio teve um impacto muito forte no alívio da pobreza e mesmo na redução da desigualdade.

Obviamente que esse auxílio já acabou, mas em compensação o governo anunciou o Auxílio Brasil com valores mais altos, ainda não temos dados oficiais, mas eu tendo a crer que pela sua abrangência e pelo aumento de valor ele alivia a situação das famílias mais pobres. 

Obviamente que não todas, mas o emprego está retomando, lentamente, mas retomando e a taxa de desemprego também está caindo. Vamos ver como vai ser os próximos meses na economia mundial, se a economia no Mundo se recuperar, o Brasil também se recupera. Se a guerra no leste europeu continuar podemos ter alguns problemas adicionais como o fornecimento de energia para a Europa e aumento de custos que pode pressionar a inflação. 

Vai ser uma eleição no país com forte conteúdo econômico e a avaliação da população acerca desse cenário econômico. Quando o mundo está com baixa inflação e o Brasil está com alta inflação, a população penaliza os governantes, penaliza o presidente e os governadores. Mas quando se tem uma situação de inflação no mundo inteiro, eu não sei se a população vai se comportar dessa maneira. Eu não sou especialista nesse assunto, mas as pesquisas têm indicado que as diferenças entre Lula e Bolsonaro tem caído.

SILVESTRE – No Brasil, a tendência em ano eleitoral, a tendência é os políticos olhar mais para a base da pirâmide social e esquecer a classe média. Ou seja, poucos defendem políticas voltadas para este importante segmento. Como o sr. analisa esse comportamento?

O governo anunciou um reajuste na tabela de imposto de renda e isso tem impacto na classe média, significa que cada um dos trabalhadores terá menos desconto no imposto de renda. Isso alivia a renda da classe média e alivia o peso da inflação. Vamos ver como vai ser a nova tabela, mas certamente teremos um alívio para essa classe. 

Outra coisa que tem tido efeito positivo para a classe média, o crédito continua relativamente barato para aquisição de casa própria. Você tem financiamento hoje que está abaixo da Selic, então, apesar de toda crise, tem havido expansão do setor imobiliário, o que é contraditório. É que o crédito está barato e isso afeta muito a classe média e os setores de renda média, onde muitos estão comprando suas casas próprias.

Recentemente o sr. coordenou pesquisa no Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social sobre os 15 anos do Bolsa Família. Esta pesquisa apontou que a maioria dos filhos que dependiam dessa rede de proteção saíram do programa. Qual foi o motivo?

Nós pegamos os cadastros dos beneficiários do Bolsa Família em 2005. Olhamos para os dados como se estivessemos olhando para trás através de uma luneta para saber como era a situação dessas famílias. Nos concentramos em crianças de 5 a 16 anos exatamente por serem as crianças que ao longo do tempo atingiram a maioridade e alguns se tornaram adultos que chegaram a casar e ter filhos.

O objetivo do trabalho era saber se o Bolsa Família tinha impacto de longo prazo nas famílias que eram beneficiárias. Que tinha impacto no curto prazo a gente já sabia, pois o programa alivia a pobreza. 

Queríamos saber se haveria um impacto na escolarização das crianças, se havia impacto na formalização futura dessas crianças e a gente identificou que o Programa Bolsa Família têm impactos na trajetória futura em parte dessas crianças e isso é muito bom, pois você rompe a amarra e o ciclo da pobreza. Você nasce em uma família pobre, mas com o auxílio do Bolsa Família você pode acumular educação pois é dos critérios é a manutenção das crianças nas escolas e sendo mais escolarizado você tem melhores chances de se empregar no mercado formal de trabalho.

Estamos agora medindo esses impactos e estamos olhando outros cadastros do Bolsa Família como o Registro Anual de Informações Sociais (RAIS) que contêm informações sobre todos os trabalhadores sociais, cadastros do MEI e do CNIS para saber quantas dessas crianças estão empregados, se são MEIs ou se não conseguiram nada disso e permanecem em situação de vulnerabilidade.

A região centro-oeste apresentou 10% de redução na renda média, seguida pelas regiões norte e nordeste que registraram 8%. Essa diferença é impulsionada pelo Agronegócio?

Sim. A perspectiva para o centro-oeste é boa. É uma das regiões que os resultados da pesquisa se mostraram mais positivos com mais pessoas saindo do Bolsa Família. Quando você olha as pesquisas sobre o Auxílio Emergencial, a gente observa que foi uma das regiões que apresentaram o menor nível de pobreza do país. Também foi uma das regiões que mais apresentaram a redução da desigualdade e se a gente pegar um ciclo de desenvolvimento mundial, tenho certeza que a região centro-oeste vai se aproximar muito das regiões mais ricas do país.

Veja Também