O desafio do eleitor diante do amargo gosto da política goiana

As contradições do universo político não se restringem aos grandes players do cenário nacional. Pelo contrário, a situação em Goiás tem levado o eleitor à intragável missão de escolher pela menor das incoerências

Postado em: 26-05-2022 às 09h21
Por: Felipe Cardoso
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As contradições do universo político não se restringem aos grandes players do cenário nacional. Pelo contrário, a situação em Goiás tem levado o eleitor à intragável missão de escolher pela menor das incoerências | Foto: Reprodução

Recentemente o Brasil testemunhou uma cena comum em termos políticos. No início de maio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) oficializou sua aliança com o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB, ex-PSDB) — historicamente, um de seus maiores adversários políticos. Quem antes proferiu ofensas, agora se coloca em uma posição um tanto quanto doce. E serve para ambos.

“Somos de partidos diferentes, fomos adversários. Estou feliz por tê-lo na condição de aliado”, disse Lula ao anunciar a escolha do ex-tucano para vice em sua chapa. Alckmin, por sua vez, acrescentou: “Quero lhe dizer perante toda sociedade brasileira: muito obrigado. Obrigado, presidente Lula, por me dar o privilégio da sua confiança”.

Se engana quem acredita que esse tipo de conchavo se restringe aos grandes players do cenário político nacional. Muito acontece também no próprio quintal. E pior: costuma passar despercebido aos olhos daqueles que se limitam a enxergar o presente. Aos que fogem à regra, resta a dificuldade em encontrar uma alternativa minimamente lúcida. 

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Para não perder o ritmo da conveniência entre esquerda e direita, cabe destacar, por exemplo, a possível composição entre Wolmir Amado (PT) e José Eliton (PSB, ex-PSDB, assim como Alckmin) em Goiás. Ambos os políticos afunilam um quadro propício a uma aliança. De um lado, Eliton, aluno político do ex-governador Marconi Perillo (PSDB) e crítico nato da esquerda. Do outro, Amado, distante de qualquer amarra direitista. Agora, no entanto, mais próximos do que nunca. E mais: Eliton, que por sinal só chegou ao comando do Estado pelas mãos de Marconi, pode enfrentar o próprio mentor nas urnas.

Mas nem só o ‘lado de lá’ vive seus dias de intensa contradição. Em 2020, o governador Ronaldo Caiado (UB, à época do DEM) se colocou ao lado de Vanderlan Cardoso (PSD) que brigava pela prefeitura de Goiânia. Longas conversas resultaram em um apoio visceral do governador ao candidato que terminou, de novo, derrotado na Capital.

Agora, o esperado seria que Vanderlan o retribuísse. Mas o que se vê é justamente o contrário. Isso porquê o senador debandou para o grupo do presidente Jair Bolsonaro (PL), encabeçado no estado pelo deputado federal Vitor Hugo (PL) — que apesar da inexpressividade é visto como uma das figuras mais combativas ao projeto de reeleição caiadista. 

Como se não bastasse, ao nome de Vanderlan foi atribuída a suposta missão de indicar a vice de Vitor Hugo. Reza a lenda que pode ser sua esposa, Isaura Cardoso. Caiado, por óbvio, não ficou sozinho. Recebeu, recentemente, o apoio do prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos), ou seja, daquele que o governador não apoiou em 2020 e que derrotou o candidato do governo.   

Se engana quem pensa que estão esgotados exemplos. Na verdade, são inúmeros. Ainda no campo Caiadista, é válido recordar do primeiro suplente à época em que Caiado se tornou senador por Goiás: Luiz Carlos do Carmo (Ex-MDB, agora do PSC). Poucos são os políticos que se lembram do senador. Ele assumiu a cadeira depois que Caiado saiu vitorioso na disputa pelo governo do Estado.  

Agora que Luiz do Carmo está um pouco mais preparado para alçar voo solo na busca por mais 8 anos no Senado, Caiado não se mostra disposto a bancá-lo. Sendo assim, o senador tem buscado um lugar que o queria, podendo, inclusive, figurar na chapa de um dos principais adversários de Caiado.

Seria impossível desassociar desta lista o emblemático caso que envolve o racha entre os irmãos emedebistas. Isso porquê Daniel Vilela (MDB), presidente estadual do partido e ex-adversário de Caiado nas eleições de 2018, cedeu aos encantos do governador e deverá disputar as eleições de outubro no time do ex-rival. Evidentemente a mudança repentina de postura não agradou gregos e troianos. 

Isso fez com que Gustavo Mendanha (Ex-MDB, agora Patriota), um ex-aliado de Vilela, se aventurasse em voo solo rumo ao governo. Mendanha ainda trouxe alguns nomes do MDB para seu lado. Mas Vilela parece ter ficado com a maioria. O clima nada amistoso entre ambos certamente será exposto nos próximos meses onde ambos deverão figurar em lados opostos. 

Na esteira da entrada de Daniel na lista, cabe destacar que o governador agora é apoiado pelo mesmo prefeito que ‘expurgou’ seu “vice” da gestão municipal. Logo após as eleições para prefeitura de Goiânia em 2022, em um ato emblemático, o MDB decidiu desembarcar por completo da gestão Rogério Cruz. Isso porquê as dificuldades do MDB em continuar no comando da capital após a morte de Maguito Vilela ficaram cada vez mais claras. Foi então que Daniel e seu grupo cortarão o cordão umbilical. Definitivamente? Não. Haja vista que agora deverão figurar novamente ao lado de Cruz nas eleições que se aproximam. 

Fato é que a política em Goiás tem se mostrado cada vez mais volátil. Aos entusiastas desse universo, mudanças repentinas soam, de fato, com naturalidade. Para os mais distantes, porém, a situação tem se mostrado um pouco mais intragável que o convencional.

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