Sem Caiado, Bolsonaro confirma protagonismo no sudoeste goiano

O distanciamento do governador em relação às agendas de Bolsonaro tem se tornado algo rotineiro. Agronegócio, por sua vez, responde com inclinação ao presidente

Postado em: 01-06-2022 às 08h59
Por: Felipe Cardoso
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O distanciamento do governador em relação às agendas de Bolsonaro tem se tornado algo rotineiro. Agronegócio, por sua vez, responde com inclinação ao presidente | Foto: Alan Santos e Estevam Costa (PR)

O presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve pela segunda vez em uma semana no Estado. Dessa vez, o chefe do Executivo passou pela cidade de Jataí — berço do agronegócio — para comemoração dos 127 anos do município. Acompanhado, como de costume, pelo deputado federal e pré-candidato ao Governo do Estado, Vitor Hugo (PL), o presidente acenou para plateia na ausência do governador Ronaldo Caiado (UB). 

O distanciamento do governador em relação às agendas do presidente em solo goiano tem se tornado, por sinal, algo rotineiro. Na última sexta-feira (27/5), Bolsonaro esteve na Capital goiana para participar da 48ª Assembleia Geral Extraordinária da Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil. Foi, de novo, ovacionado. Dessa vez, pelos evangélicos. 

Caiado, mais tarde e descolado do presidente, recebeu uma homenagem do bispo primaz Manoel Ferreira. Apoiado por alguns líderes do segmento, o governador não tem contato com a mesma estima entre o alto escalão do agro. 

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Politicamente descolado de Bolsonaro, o último encontro onde ambos estiveram no mesmo palco demonstrou a inclinação do segmento. Em Rio Verde, município vizinho de Jataí, ambos no sudoeste goiano, Caiado, ao tentar discursar, terminou vaiado. Mais tarde a cena se repetiu em Iporá. 

Vale destacar que no encontro de ontem em Jataí, Bolsonaro foi recebido pelo presidente da cidade, Humberto Machado (MDB). O emedebista é aliado de primeira hora não apenas do governador, mas também de seu pré-candidato à vice e presidente do MDB goiano, Daniel Vilela. Caiado — por temer as vaias, como dizem os bastidores — preferiu não participar. O governador, porém, tem agenda no município nesta quarta, 1°.

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Fontes consultadas pelo O HOJE, avaliam que Bolsonaro, no fundo, ainda trabalha para ter Caiado em seu projeto de reeleição. Trata-se de um jogo cujo objetivo se restringe ao alcance do eleitorado. O presidente sabe que boa fatia de seus eleitores se encontram no campo conservador, sendo os mais fiéis, justamente a turma do agronegócio e os evangélicos.

Nesse contexto, Goiás se destaca como ponto estratégico para sua reeleição, já que concentra um grande número de apoiadores dos dois segmentos. Para fidelizar esse voto Caiado soa como um bom aliado — não indispensável. Diante da persistência do governador em permanecer “neutro” no primeiro turno, há quem diga que Bolsonaro teria colocado, estrategicamente, um “bode na sala” de Caiado, ao lançar Vitor Hugo como candidato ao governo goiano.

Essa candidatura tem como objetivo conquistar apoios onde Caiado tem seu DNA político: o agronegócio. Não é à toa que Bolsonaro tem marcado presença quase toda semana em Goiás, principalmente na região onde concentra a elite que sempre acompanhou Caiado, mas que agora, com a presença de Bolsonaro, gradativamente anaboliza a campanha do aliado Vitor Hugo.

A partir das declarações energizadas do governador contra o presidente – especialmente no momento mais crítico da pandemia -, o segmento se viu obrigado a tomar um lado. E decidiram por Bolsonaro. Conforme mostrado recentemente pelo O HOJE, Caiado tem como uma de suas principais missões a recuperação do agronegócio goiano. 

Conhecido historicamente por figurar como um político das causas ruralistas, o governador parece, agora, ter perdido seu principal segmento. Ele sempre esteve ao lado desse setor e lutou incansavelmente pelas principais causas do grupo ao longo de sua trajetória de vida pública. Foi lançado aos postos de deputado e senador, por exemplo, por empunhar essa bandeira, mas, ao que tudo indica, conseguiu o inimaginável: se distanciar de suas origens. O tempo dirá se tomou, ou não, o caminho certo.

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